L’Équipe fala da homofobia nos esportes com beijo gay na capa

“Inaceitável”: prefeita de Paris reage à recusa de jornaleiro de vender edição do L’Équipe com beijo gay na capa

Fontes: RFI; Veja; L’Équipe.

A famosa revista francesa, L´Équipe, divulgou sua nova capa, estampada por dois homens se beijando. A publicação, que é voltada exclusivamente para esportes, será um especial sobre homofobia no esporte mundial.

A foto dos homens se beijando faz parte do filme ‘Les Crevettes Pailletées’, que conta a história de um vice-campeão mundial de natação, que após fazer declarações homofóbicas, é condenado a treinar um time de pólo aquático gay. O longa-metragem será lançado no próximo dia 8.

O dossiê sobre atletas homossexuais, chegou às bancas francesas neste sábado, 4. Parte da reportagem destaca a condição do atleta homossexual do Brasil, que “tornou-se mais difícil desde que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) chegou ao poder, assumindo a homofobia”, afirma o L’Équipe.

A revista diz que no Brasil “o céu escurece”, usando como fonte o Grupo Gay da Bahia (GGB), que em 2018 divulgou que 420 crimes homofóbicos foram registrados no país, e declarações feitas por Bolsonaro. “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”, disse, em 2011, à revista Playboy.

O jogador de vôlei Michael dos Santos, que atua na Superliga e desde 2011 assumiu-se homossexual, é um dos atletas citados no levantamento feito no Brasil. Ele protagonizou um caso de homofobia durante a semifinal da Superliga de Vôlei. 

Além de tratar do cenário brasileiro, o L’Équipe traz um panorama geral sobre a luta contra a homofobia em todos os esportes. Entre os ex-atletas entrevistados, está Gareth Thomas, ex-jogador de rúgbi da seleção do País de Gales, que fez a revelação em 2009, quando ainda jogava, e o atleta do arremesso de peso francês do início dos anos 2000 Laurence Manfredi, que disse que, depois de assumir, conseguiu construir de forma positiva sua carreira como atleta de alto nível.

O levantamento ainda traz uma reportagem sobre o jogador de futebol britânico Justin Fashanu, primeiro profissional a assumir sua homossexualidade, que se suicidou em Londres há 21 anos. Hoje, ele é uma figura simbólica da luta contra a homofobia.

A capa esteve nas manchetes da imprensa internacional. De acordo com um testemunho de um francês, publicado no Facebook, um quiosque da Praça da República, no coração de Paris, recusou-se a vender a revista que acompanhava o jornal, dedicada à luta contra a homofobia no esporte. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, não gostou, e publicou um desagravo condenando a atitude.

Grégory Tilhac, o internauta que fez a denúncia que viralizou rapidamente nas redes sociais, afirmou que o vendedor da banca de revistas disse a ele, no início da tarde, que “não havia desembalado” as revistas com a edição especial do L’Équipe, recebidas na mesma manhã. “Mal podendo acreditar, perguntei: ‘Você é homofóbico?’ Ele respondeu ‘sim’, simplesmente”, continua o autor do texto.

https://www.facebook.com/gregory.tilhac/posts/10157177917559805

A mensagem no Facebook foi postada acompanhada de fotos do ponto de venda em questão. Contactada pela rádio FranceInfo, a empresa MediaKiosk, que administra a banca de jornal em questão, não havia respondido no sábado até o final do dia.

Mas no Twitter, outro internauta disse que visitou o mesmo estande no final da tarde e descobriu que a revista havia sido colocada à venda. Os franceses não demoraram a responder pelas redes sociais, com indignação: “E quais serão as respostas políticas e jurídicas a isso? Hoje são os homossexuais, amanhã os judeus ou os maçons?”, disse Romain Mouton, um dos muitos internautas que compartilharam o post de Tilhac.

Questionada nas redes sociais, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, julgou a atitude como “inaceitável, contem comigo para que a lei seja aplicada”, e assegurou que “todos os meios [seriam] implementados para reverter atos e comentários homofóbicos”. “Eu vou imediatamente perguntar ao MediaKiosk e aos serviços de distribuição da cidade de Paris”, completou a vice-prefeita de Paris, encarregado do comércio.

Já o chefe de reportagem do jornal esportivo L’Équipe declarou apenas que “tudo isso só nos deixa ainda mais orgulhosos desta capa da nossa edição especial”.



A revista conta o trágico destino de Justin Fashanu, o primeiro jogador profissional se assumir homossexual – Foto L’Équipe (DR)

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