A Liga Lombarda foi uma aliança formada entre 26 (depois 30) cidades da Itália setentrional para opor-se ao imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico Barbarossa, também conhecido como barba-ruiva ou barba-roxa.
Do livro “Rumos do Mundo – O Nascimento da Europa pgs. 229-230 – Robert Lopez”.
Infelizmente para os papas, Frederico Barba-ruiva veio transtornar uma partida que mal começara. Pela sua educação e preferências pertencia a sociedade feudal, mas foi o primeiro soberano europeu a tomar plenamente consciência da importância adquirida pelas cidades e a pensar em explorá-la. Na Alemanha, o apoio financeiro que conseguiu por parte das cidades do Reno, compensou-o parcialmente das concessões que fez aos grandes vassalos para os arrastar nas suas campanhas italianas. Na Itália, juntou em torno ao seu estandarte o que restava da classe feudal, a fim de forçar as cidades a restituírem ao Império os tributos e a obediência que já não lhe prestavam havia um século. Mas arvorou-se também em campeão das pequenas cidades lombardas contra Milão e pediu à jovem escola bolonhesa de direito romano argumentos para escorar a autoridade suprema do sucessor de César. Para captar o papa, mandou queimar Arnaldo da Brescia, herético que assumira a chefia de uma revolução comunal em Roma, Milão, por duas vezes forçada a capitular (1158, 1162) — da segunda vez após um cerco memorável — foi alegremente destruída pelos habitantes das comunas inimigas.
Então, Frederico revelou-se: como Henrique IV antes de Canossa, mas com a eficiência que lhe permitia uma sociedade mais rica, mais culta e mais complexa, quis assumir pessoalmente a administração direta dos seus Estados. Todas as cidades italianas, inclusive as aliadas de Frederico, tiveram de receber representantes do imperador. Estes, cercados de cavaleiros alemães, extorquiram aos burgueses tributos enormes para a época. Frederico apropriou-se também dos domínios que Matilde legara ao papa. Todas as resistências foram implacavelmente esmagadas Nunca o Império parecera tão triunfante.
Triunfo ilusório, pois que não fora acompanhado pela moderação.
A maior parte das cidades lombardas, chocadas com os excessos dos vencedores, coligaram-se contra o imperador, reconstruíram Milão e edificaram uma nova cidade-fortaleza para barrar o caminho a Frederico. Chamaram-lhe Alexandria, em homenagem ao novo papa, Alexandre III, que com elas se aliara. Veneza, desde há muito independente, e os Normandos da Sicília uniram-se à liga. Frederico, impotente contra tantos inimigos e contra a peste que lhe dizimava as tropas, regressara à Alemanha, Consagrou seis anos às tarefas sempre interrompidas de reconstituir o domínio imperial, reavivar a obediência e restabelecer a harmonia entre os seus vassalos e de reafirmar o protetorado alemão sobre os Estados eslavos limítrofes. Quando enfim estava em condições de regressar a Itália — era demasiado tarde. Alexandria sustentou vitoriosamente um longo cerco. Finalmente, em 1176, produziu-se o facto inédito, inacreditável: as milícias da Liga Lombarda afrontaram em Legnano o exército feudal de Frederico e infligiram-lhe uma terrível derrota. Foi o baptismo de glória da burguesia combatente.
Legnano foi também, se se quiser, a primeira página de história italiana, pois que os vencedores pronunciaram bem alto as palavras «liberdade e honra da Itália». A independência das cidades lombardas foi reconhecida em 1183 pela paz de Constança, com algumas reservas, das quais, de resto, o imperador não pôde tirar vantagem.
Enfim, indiretamente, Legnano provocou a destruição do único conglomerado de feudos assás extenso para constituir o núcleo dum novo Estado alemão susceptível de se substituir ao domínio imperial que se esboroava. Tendo Henrique o Leão recusado ao primo o seu concurso na fatal expedição contra a Liga Lombarda, Frederico castigou-o com o confisco das suas possessões. Nada ganhou com isso para o domínio imperial, porque os costumes alemães obrigavam-no a redistribuir os despojos pelos outros vassalos que o tinham ajudado contra o rebelde. Todavia, conseguiu ainda juntar número suficiente de nobres e servos-cavaleiros para procurar outros caminhos para o Mediterrâneo: na Itália Central, no reino de Arles, no Oriente, onde iria morrer(*¹) no princípio duma cruzada (1190).
Sempre vencedor (exceto em Legnano), sempre chamado algures, o imperador da barba ruiva acumulara um vasto capital de prestígio mas pouco poder real. Em última análise, o êxito mais sólido deste lutador infatigável foi um ato de diplomacia, o casamento de seu filho (o futuro Henrique VI) com a herdeira do reino normando da Sicília. Mas este casamento, por sua vez, acabaria por tornar o império mais fraco e mais ameaçador ao mesmo tempo: mais fraco, porque fazia dele um corpo heterogéneo, imenso e invertebrado; mais ameaçador, porque privava o papa e os Lombardos do seu melhor aliado e parecia apertá-los num torno.
(*¹) Nota: Em 10 de junho de 1190, o imperador Frederico Barbarossa se afogou no rio Saleph, perto do Castelo de Silifke. Relatos do evento são conflitantes. Alguns historiadores acreditam que ele pode ter tido um ataque cardíaco que o complicou. Alguns dos homens de Frederico colocaram seu corpo em um barril cheio de vinagre a fim de preservar seu corpo. Fonte: Wikipedia