3.000 ovelhas morrem de fome e de sede após carga viva ser rejeitada pela Arábia Saudita

Morreram de fome e sede depois que 58.000 animais retornaram ao Sudão devido ao comprometimento da quarentena. A carga foi rejeitada pela Arábia Saudita, fazendo com que milhares ficassem desidratados e famintos. Os animais beberam até água do mar.

Com informações do The Guardian; ANDA.

 Trabalhadores cuidam de ovelhas em um mercado de gado em Cartum, Sudão. 
Fotografia: Marwan Ali / AP

Ao duvidar da eficácia de uma quarentena imposta a uma carga de 58 mil ovelhas que vinha do Sudão, a Arábia Saudita devolveu os animais, mas cerca de 3.000 morreram de fome e de sede.

De acordo com o site britânico The Guardian, a Arábia Saudita devolveu 58.000 ovelhas ao Sudão depois de descobrir que os procedimentos de quarentena no Sudão foram comprometidos, deixando alguns animais sem vacinação contra doenças, incluindo a febre do Vale do Rift .

Na viagem de volta, feita por navio, algumas ovelhas chegaram a se afogar, de acordo com informações divulgadas pelo governo sudanês.

As ovelhas são trazidas do oeste do Sudão para o Porto do Sudão, no leste do país, e mantidas em quarentena antes de serem exportadas para a Arábia Saudita. Enquanto estão lá, são vacinados contra três doenças; HS (septicemia hemorrágica), PPR (Peste des petits ruminants) e febre do Vale do Rift.

O ministro dos recursos animais do Sudão, Dr. Adil Farah, disse que as quarentenas foram interrompidas e alguns animais foram substituídos.

“Temos problemas em nossas quarentenas em alguns estados, especialmente no leste do Sudão nos estados de Kassala e Gadarif”, disse ele. “As quarentenas de animais são abertas, então alguns dos exportadores são trapaceiros e podem ter entrado nas quarentenas depois de vacinarmos os animais, substituindo alguns deles – esse é o problema”.

Enquanto as ovelhas ainda estavam a bordo, esperando para serem devolvidas ao Sudão, milhares de animais morreram após beberem água salgada do Mar Vermelho.

“Os perdedores neste processo no final são os pequenos produtores nas partes ocidentais do Sudão, de onde vem a maior parte do gado”, disse Farah.

Animais vivos são uma das exportações mais importantes do Sudão, movimentando aproximadamente US $ 500 milhões (£ 384 milhões) em 2018, de acordo com o International Trade Center. A Arábia Saudita compra mais de 70% de seu gado do Sudão.

No final do ano passado, milhares de ovelhas no país morreram em condições semelhantes – fome e sede – quando a Arábia Saudita bloqueou o comércio com o Sudão após o anúncio do país de um surto de febre do Vale do Rift. A doença estava se espalhando nas partes oriental e ocidental do Sudão entre animais e – em menor grau – humanos.

Apesar da resistência de diversos países em abolir o transporte de gado vivo muitos países, principalmente na Europa, já aboliram essa forma de cruel de comércio. Imagem: Reprodução/Animals International

O Sudão está planejando enviar as ovelhas sobreviventes de volta à Arábia Saudita. Mas a morte dos animais teve um enorme impacto econômico sobre os exportadores do Sudão, que esperam desesperadamente para retomar o comércio.

O exportador de gado Taha Gasim de Omdurman, Sudão, disse que gastou milhares de libras em comida, bebida e vacinação para as ovelhas enquanto esperava a Arábia Saudita deixá-las passar.

A notícia chega quando o Sudão anuncia que havia perdido 40% de suas receitas devido à pandemia Covid-19.

No dia 14 de junho, celebrou-se o “Dia Internacional contra a Exportação de Gado Vivo”. A data visa combater uma das mais cruéis práticas de exploração animal. No ano passado, um movimento internacional liderado pela ONG Compassion in World Farming mobilizou 41 países, inclusive o Brasil, em torno deste dia.

A data tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a crueldade imposta aos animais por meio da exportação. Transportados em navios durante semanas, os bois são amontoados em ambientes pequenos e insalubres. Em contato com os próprios excrementos, eles sofrem com a falta de ventilação, alimentação e hidratação adequadas e não dispõem de espaço para deitar e descansar. Eles também não recebem assistência veterinária e estão sujeitos às intempéries climatológicas. Muitos não suportam a insalubridade e morrem antes da chegada ao país de destino.

Os protestos foram iniciados em 2017. Na época, 30 países participaram. O Brasil faz parte dessa iniciativa desde 2018, quando 33 nações foram mobilizadas. No ano passado, as manifestações brasileiras foram coordenadas pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, em parceria com ONGs de 12 cidades participantes.

Diretora de Educação do Fórum, a geógrafa Elizabeth MacGregor explicou à Agência Brasil que “a questão do bem-estar animal é zero” nas exportações e que essa atividade é economicamente ruim para o Brasil, porque representa apenas 1% do que é produzido pela agropecuária brasileira. MacGregor lembrou que todos os países que importam bois vivos também realizam a importação de carne embalada.

Os únicos beneficiados pela exportação são os empresários que vendem esses animais. Os maiores prejudicados são os bois e o meio ambiente – parte dos excrementos dos animais e até mesmo os corpos daqueles que morrem durante a viagem são jogados no mar, alterando negativamente o ecossistema marinho. “Ambientalmente é péssimo. [Os navios] vão cheios de outras substâncias que afetam o meio ambiente”, disse MacGregor.

Apesar da resistência do Brasil em acabar com as exportações de animais, há países contrários à prática. A maior parte deles está situada na Europa e, segundo Elizabeth MacGregor, essas nações são contra essa atividade por serem detentoras de conhecimento.

Bois mantidos no navio NADA, em 2018, com os corpos repletos de fezes e urina (Foto: Magda Regina)


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