Bolsonaro cancela viagem Nova York, onde receberia homenagem

Presidente receberia o prêmio “Pessoa do Ano”, oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em 14 de maio. Ele atribuiu desistência à ‘ideologização da atividade’.

Fontes: Exame; O Globo; Veja.

O presidente Jair Bolsonaro cancelou a viagem que faria aos Estados Unidos no próximo dia 12 de maio para ser homenageado em Nova York como a “Personalidade do Ano” pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Ele participaria de outros eventos na cidade e em Miami.

Três empresas haviam desistido de patrocinar evento da Câmara de Comércio Brasil-EUA devido a protestos. O jantar de gala estava marcado para acontecer no Hotel Marriott Marquis. A famosa rede hoteleira estava sofrendo pressão para cancelar o evento.

Em nota divulgada na noite desta sexta-feira pelo Planalto, o presidente agradeceu a homenagem da Câmara de Comércio, mas admitiu que o cancelamento da viagem ocorreu após a premiação ter gerado protestos de diversos grupos nos EUA.

“Em face da resistência e dos ataques deliberados do Prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suas instalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade. Em função disso, e consultados vários setores do governo, o Presidente Bolsonaro decidiu pelo cancelamento da ida a essa cerimônia e da agenda prevista para Miami”, diz a nota.

Desde 1969, a Câmara de Comércio premia uma personalidade brasileira e outra americana em seu jantar para mais de mil convidados, com entradas ao preço individual de 30.000 dólares, que estão esgotadas. Neste ano, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, também será homenageado.

A viagem foi cercada de controvérsias. Desde seu anúncio, em 8 de abril, a premiação tem sido alvo de protestos por ativistas de direitos humanos. Eles questionam as declarações homofóbicas de Bolsonaro ao longo de sua carreira, assim como suas posições em relação às comunidades indígena e negra e às medidas na área do meio ambiente propostas por seu governo.

No começo deste mês, o Museu de História Natural de Nova York, que sediaria o jantar, se recusou a receber o evento. Na ocasião, o museu afirmou que gostaria de “deixar claro que não convidou o presidente Bolsonaro; ele foi convidado como parte de um evento externo”.

Logo depois, o Cipriani Hall, em Wall Street, também negou sediar o evento. Por trás das decisões esteve a forte pressão do prefeito democrata da cidade, Bill de Blasio. Ele descreveu Bolsonaro como “um homem perigoso”.

“Jair Bolsonaro é um homem perigoso. Seu racismo evidente, sua homofobia e decisões destrutivas terão um impacto devastador no futuro do nosso planeta. Em nome de nossa cidade, obrigado Museu de Nova York por cancelar este evento”, escreveu.

Ele foi transferido, então, para o hotel Marriott Marquis. Bolsonaro, por sua vez, disse que receberia a homenagem “até na praia”.


Bill de Blasio e Jair Bolsonaro

Já nesta quinta-feira (02/05), três empresas decidiram deixar de patrocinar o jantar de gala: a companhia aérea Delta Airlines, a consultoria Bain & Company e o jornal Financial Times.

emissora americana CNBC afirmou que a decisão das três empresas de deixarem de patrocinar o evento ocorreu após a pressão de ativistas da comunidade LGBT, que criticam as políticas, posições e declarações do presidente brasileiro contra o meio ambiente, gays, negros, indígenas e direitos humanos.

No mesmo dia, a hashtag #CancelBolsonaro ficou em primeiro lugar nos Trending Topics do Twitter, onde são destacados os temas com maior repercussão. O senador democrata Brad Hoylan, que é homossexual, pediu ontem que o Marriott cancelasse o evento.

Um abaixo-assinado contra a ida do presidente brasileiro à cidade obteve, em poucas horas, mais de 58 mil assinaturas, sob a alegação de que Bolsonaro é uma ameaça ao meio ambiente, aos direitos LGBT e às minorias. Da mesma forma, ativistas estão, desde o dia 30 de abril, protestando diariamente na porta do hotel Marriott Marquis, que receberia a premiação. O abaixo-assinado foi lançado pelo senador estadual democrata de Nova York Brad Hoylman, que representa, entre outras áreas de Manhattan, Times Square, onde está localizado o hotel.

A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos foi criada para facilitar negócios entre os dois países.  A escolha de Bolsonaro como Personalidade do Ano gerou constrangimentos dentro da própria entidade, incluindo pelo fato de o brasileiro ser o primeiro presidente em exercício a receber a honraria.

Um grupo de empresários avaliou que a escolha do novo presidente não se justificaria, devido ao pouco tempo de mandato, e por suas posições ideológicas, que seriam, no seu entender, contrária a temas caros aos americanos que fazem parte da organização, como a tolerância e o multilateralismo.



No ano passado, o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, foi o agraciado pela Câmara de Comércio. Na agenda, ainda estava previsto um evento organizado por empresários brasileiros, juntamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, além do secretário da Fazenda de São Paulo, o ex-ministro Henrique Meirelles. Bolsonaro ainda viajaria a Miami para um encontro com parlamentares americanos.

Em nota, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, afirmou que o evento será realizado, mesmo sem a presença de Bolsonaro.

“A Câmara de Comércio Brasileiro-Americana tomou conhecimento, através do escritório do Presidente da República do Brasil, que o Presidente Jair Bolsonaro, recipiente do pêmio de Personalidade do Ano de 2019, não comparecerá ao Jantar de Gala no dia 14 de maio. A Câmara afirma que o Jantar de Gala será realizado conforme o programado, incluindo a apresentação do Programa de Bolsas de Estudo Personalidade do Ano de 2019, e prêmios reconhecendo importantes colaboradores para a Responsabilidade Social e Inovação Digital. Outros eventos paralelos programados durante a semana serão realizados conforme o planejado. A Câmara fornecerá mais atualizações assim que estiverem disponíveis”, diz o comunicado.

O prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, comemorou o cancelamento da viagem do presidente Jair Bolsonaro à cidade.

“Jair Bolsonaro aprendeu do jeito difícil que nova-iorquinos não fecham os olhos para a opressão. Nós expusemos sua intolerância. Ele correu. Não fiquei surpreso – valentões geralmente não aguentam um soco. Seu ódio não é bem-vindo aqui”, escreveu ele.

Em outro post, Blasio continuou a crítica: “O ataque de Jair Bolsonaro a direitos LGBTQ e seus planos destrutivos para o nosso planeta se refletem em líderes demais – incluindo no nosso país. Todos devem se levantar, falar e lutar contra esse ódio temerário”.


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