Leonardo Da Vinci ainda nos impressiona 500 anos após sua morte

Itália e França se uniram para recordar os 500 anos da morte de Da Vinci

Fontes: G1; O Globo; Gauchazh.

A partir desta quinta-feira (02/05), uma “extraordinária relíquia” passa a ser exposta no Museu Leonardo da Vinci , na Itália: uma mecha de cabelo do artista, morto há exatos 500 anos. Descoberta em uma coleção americana, a mecha permitirá verificar se Da Vinci de fato repousa em Amboise, na França. Ele foi sepultado na capela do castelo local, parcialmente destruído durante a Revolução Francesa. Seus ossos teriam sido transferidos para outra capela, mas ninguém sabe ao certo.

Testes de DNA já identificaram 35 descendentes de Domenico, meio-irmão de Da Vinci. A maioria deles vive na Toscana e o cineasta Franco Zeffirelli, de “Romeu e Julieta”, é um deles. A mecha pode ajudar a encontrar mais parentes vivos de Da Vinci e talvez assegurar que são dele os restos mortais em Amboise.

Da Vinci decerto aprovaria as pesquisas com seu DNA. Afinal, ele dissecava cadáveres para entender o funcionamento do corpo humano.


Esboço inédito de um retrato de Leonardo da Vinci,
apresentado nesta quinta-feira no Reino Unido – Foto: Divulgação / Royal Collection Trust

A exposição da mecha de cabelo é apenas uma das muitas celebrações organizadas por museus ao redor do mundo para lembrar por que o gênio renascentista ainda nos impressiona e surpreende cinco séculos após sua morte.

Nascido em 1452, filho bastardo de uma camponesa e de um tabelião bem de vida, Da Vinci ajudou a formatar o método científico e enveredou pelas mais diversas ciências: da botânica à engenharia militar, da cartografia à ótica, da anatomia à geologia. Deixou mais de 7.000 papéis com desenhos, projetos, esboços, perguntas (“o que é a alma?”) e listas de tarefas (“descrever as causas da risada”), hoje preservados em bibliotecas europeias e na coleção privada de Bill Gates. Em 1990, o fundador da Microsoft comprou, por mais de US$ 30 milhões, o “Codex Leiceste”, 72 páginas nas quais Da Vinci descreve o luar, os fósseis e o movimentos aquáticos.

Ele desenhava para entender como o mundo funciona e foi o primeiro a insistir que as máquinas deviam ser construídas de acordo com as leis da natureza. Ele mudou a forma como as narrativas são estruturadas, como as madonas são pintadas, como a luz e a cor são usadas nas composições, e pintou os quadros mais famosos do mundo: “Mona Lisa” e “A última ceia”. Da Vinci era um gênio!


A Úlitma Ceia 1495-1498)

Mas não genioso. Da Vinci não era intratável ou antissocial. Gostava de animais e comprava pássaros engaiolados na feira para libertá-los. Canhoto e bonitão, ele usava túnicas rosadas e, dizem, tinha uma bela voz. Foi acusado de sodomia duas vezes, mas as acusações foram retiradas por falta de provas.

Leitor de Euclides e Arquimedes e estudioso do latim, Da Vinci desenhava plantas e máquinas voadoras e esboçou um projeto para desviar o curso do Rio Arno de Florença a Pisa.

A cidade francesa de Amboise, no vale do rio Loire, foi cenário nesta quinta-feira das celebrações dos 500 anos da morte de Leonardo da Vinci, com uma cerimônia liderada pelos presidentes da França e da Itália.

O gênio florentino, que encarnou o Renascimento europeu, viveu os três últimos anos de sua vida em Amboise, como convidado do rei Francisco I. Nessa cidade francesa, ele morreu em 2 de maio de 1519.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e seu colega italiano, Sergio Mattarella, fizeram uma visita conjunta ao túmulo de Leonardo e a Clos Lucé, casa localizada na cidade onde ele viveu nos últimos anos de sua vida.


Os presidentes italiano, Sergio Mattarella, e francês, Emmanuel Macron, deixam flores no túmulo de Leonardo da Vinci, durante as comemorações dos 500 anos de morte do pintor — Foto: Philippe Wojazer, Pool via AP

A comemoração conjunta acontece depois de meses de crescentes tensões diplomáticas entre Paris e Roma, após o apoio expresso do líder italiano aos protestos semanais dos chamados “coletes amarelos” na França.

Lojas, bares e restaurantes nas proximidades do palácio, onde o túmulo de Leonardo em Clos Lucé está localizado, devem ficar fechados nesta quinta-feira.

Emmanuel Honnet, dono do Café des Arts, ao lado do palácio, disse que as precauções eram “compreensíveis, dado o terrível clima social e o risco (de um ataque) de terrorista”. No entanto, o comerciante de 51 anos não escondeu sua frustração ao perceber que os moradores de Amboise serão deixados de fora das celebrações.

“Deveria ser a memória de uma vida”, disse ele.

Macron será o primeiro presidente da França a visitar a cidade e o túmulo de Leonardo desde que Charles de Gaulle o fez em 1959.

Macron e Mattarella também visitarão o famoso castelo de Chambord, cuja impressionante escadaria de dupla hélice é atribuída a um desenho de Leonardo, apesar de sua pedra fundamental ter sido colocada quatro meses depois da morte do gênio italiano.

Escadaria do Chateau de Chambord

Arquiteto do rei

O rei Francisco I, conhecido como “o Rei Sol do século XVI”, é considerado um dos responsáveis por trazer o Renascimento à França.

Seu antecessor, Luís XII, iniciou o processo convidando arquitetos e artesãos de Florença, Milão e Roma para a França.

Leonardo tinha 64 anos quando aceitou o convite do então jovem rei Francisco.

Nessa fase de sua vida, o mestre florentino enfrentava a rivalidade das estrelas em ascensão Michelângelo e Rafael.

Na medida em que os pedidos de serviço começaram a declinar, Leonardo não hesitou em aceitar o convite do rei francês, que o contratou por um esplêndido salário para ser o “primeiro pintor, engenheiro e arquiteto do rei”.

Naquela época, Francisco I tinha apenas 23 anos e sua ambiciosa mãe, Luisa de Saboya, “sabia que Leonardo seria o homem que permitiria que seu filho prosperasse”, declarou à AFP Catherine Simon Marion, diretora do Clos Lucé.

Leonardo levou para Clos Lucé três de suas pinturas favoritas, que agora são conhecidas como “La Gioconda” ou “Mona Lisa”, “A Virgem, o Menino Jesus e Santa Ana” e “São João Batista”, obras que são encontradas no Museu do Louvre, em Paris.

Após o quinto centenário de sua morte, Itália e França chegaram a um acordo que fará com que o Louvre exiba, a partir de outubro, outras obras de Leonardo provenientes de museus italianos.

“Anunciação” de Leonardo da Vinci


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