Uma pintura da Santa Ceia mostrando um Jesus negro foi instalada em uma catedral no Reino Unido, em um movimento que ativistas descreveram como uma “declaração ousada”. O quadro, da artista Lorna May Wadsworth, foi colocado no Altar dos Perseguidos na ala norte da Catedral católica de St Albans, cidade a cerca de 35 km de Londres.
Este artigo foi originalmente publicado por BBC.
A igreja afirmou que tomou tal atitude em “apoio ao movimento Black Lives Matters” (vidas negras importam, em tradução livre), que registrou manifestações com cerca de 1000 pessoas na cidade. O trabalho original, pintado em 2010, já havia sido alvo de um tiro quando foi exibido em uma igreja de Gloucestershire.
Um apoiador do movimento na cidade disse que o uso do quadro pela catedral causou uma conversa mais ampla entre a comunidade.
A artista usou um modelo jamaicano de base para sua interpretação da obra do século XV de Leonardo da Vinci, e disse que ela queria “fazer as pessoas questionarem o mito ocidental de que Jesus Cristo tinha cabelo claro e olhos azuis”.
Responsáveis pela catedral informaram que a pintura de 2,6 metros de altura foi parte de uma instalação para marcar a reabertura da igreja, e convidar as pessoas a “olhar com olhos renovados para algo que você pensa que já conhece”.
Em uma nota oficial, a catedral informou: “Nós apoiamos o movimento Black Lives Matter como aliados em prol da mudança, construindo uma comunidade forte e justa onde a dignidade de todos os seres humanos é honrada e celebrada, onde as vozes pretas são ouvidas, e onde vidas negras importam”.
Um porta-voz acrescentou que era o “sentimento [do movimento] que nós apoiamos, e que não apoiamos de maneira acrítica nenhuma organização política”.
O grupo do BLM para St Albans, que não é afiliado ao movimento nacional e é um grupo criado separadamente para a resposta da cidade ao movimento, disse que a pintura não tem objetivo de ser um retrato preciso da aparência de Jesus, mas de “promover uma conversa sobre como a história é frequentemente embranquecida”.
Shelley Hayles, representante do grupo, afirmou: “Grande parte da nossa sociedade não tem problema em aceitar um retrato impreciso do Jesus ‘branco’, mas são rápidos a questionar o Jesus ‘preto’ e esse é só mais um exemplo do racismo sistêmico no Reino Unido”, diz.
“A declaração corajosa da Catedral de St Albans trouxe uma conversa para a comunidade que seria pouco provável antes do Black Lives Matter ganhar espaço”.
A instalação causou debate na página da catedral no Facebook, com uma postagem dizendo: “Por que precisamos transformar tudo em uma questão de cor? Se Jesus foi de Jesusalém teria provavelmente sido mais escuro, mas ele nos ensinou a amar a todos, essa é a minha crença”.
Outros tinham opinião diferente: “Eu acho que é uma iniciativa muito bem-vinda. Obrigada por isso, é necessário”.