A catarata na arte do impressionista Claude Monet

Informações de Portal do Villariano; Medicine Is Art; Arteeref.

À esquerda: pintura de Monet da ponte japonesa em seu jardim em Giverny (1899); A mesma cena, à direita, quando ele tentou capturar novamente a imagem entre 1918-1922 mostra que as cataratas turvaram sua visão e que o amarelamento das lentes de seus olhos prejudicaram sua visão do azul e do verde, deixando-o num mundo mais “vermelho e marrom”

Pai do Impressionismo, Monet foi um pintor bastante produtivo, criou mais de 5.000 obras durante sua vida. Ele frequentava muitos de seus oftalmologistas e tentava lidar com sua crescente catarata, e chegou a usar Atropa belladonna (uma planta tóxica) para dilatar suas pupilas.

 “Não percebo mais as cores com a mesma intensidade nem pinto a luz com a mesma precisão. O vermelho aparece lamacento para mim; já o rosa, insípido; e os tons intermediários ou menores me escapam por completo. O que eu pinto está cada vez mais escuro, mais e mais como uma fotografia antiga.”


Em uma entrevista, ele disse:

“No fim, terei que admitir que estou arruinando minha arte, parece que já não sou capaz de produzir algo belo. Já destruí várias das minhas telas. Hoje estou praticamente cego e deveria renunciar a pintura completamente.
(…)
Sinto que se eu der um passo, vou cair no chão. Perto ou longe, tudo é deformado e dúbio. Enxergar dessa maneira é intolerável. Persistir parece perigoso para mim. Se eu estava condenado a ver a natureza como a vejo agora, preferiria continuar cego e manter as memórias das belezas que sempre enxerguei.

A doença pode ter acometido Monet por conta das muitas horas em que ficou com seus olhos expostos ao sol. Sabe-se que a radiação ultravioleta é um clássico fator de risco para catarata, perdendo em importância apenas para a idade avançada. Monet pintava ao ar livre, preferencialmente ao meio dia, visto ser a representação do efeito que a luz solar produz sobre a natureza uma importante característica do impressionismo.

Outra hipótese da origem ou do agravamento da doença é o uso do pigmento conhecido como verde Paris, no século 19, com o qual os pintores impressionistas criavam suas paisagens. O corante era tóxico, e pode ter tido influência na catarata de Monet.

A catarata limitava severamente sua discriminação de cores e, como forma de “sobrecompensação”, Monet passou a pintar com tonalidades mais intensas. Pinturas de nenúfares e salgueiros, ao longo do período 1916-1922, exemplificam a mudança. Os tons se tornaram mais enlameados e escuros, as formas surgem bem menos distintas, sua sensibilidade de contraste diminui, as pinceladas são mais fortes e as cores mais intensas.

As fotos abaixo simulam os possíveis efeitos de uma catarata na visão. Observe a diminuição da iluminação, acuidade e saturação de cor em comparação com uma visão sem catarata.

As cataratas reduzem a luminância e o contraste da imagem. Alguns sintomas comuns de catarata incluem uma redução na acuidade, visão noturna, sensibilidade à luz e discriminação de cor, especialmente para os azuis. O desfoque, o amarelamento e a sensibilidade ao brilho são comuns. Durante a velhice o endurecimento da lente ocular associada à catarata pode induzir à miopia.

Monet fez à pintura o mesmo que Debussy fez à música, ou Proust, Joyceet e Pound fizeram à literatura, ou Heiddeger fez à filosofia, promoveu uma explosão, uma nova aventura do espírito criativo. Morreu em 1926 e sobre seu caixão, Clemenceau seu grande amigo colocou uma mortalha surpreendentemente colorida sobre seu caixão, justificando: “Nada de cores negras para Monet”.

“Quando um cantor perde a voz, ele se aposenta. Também o pintor que não enxerga deve abandonar a pintura, mas isso eu sou incapaz de fazer.”  Claude Monet.



Deixe um comentário

Conectar com

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.