Movimento internacional do fotógrafo pedia ações do governo Bolsonaro em defesa de etnias. Funai devolve imagens doadas por ele há dois anos e sugere leilão.
Por Matheus Leitão para a Veja.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) decidiu devolver 15 quadros com imagens do fotógrafo Sebastião Salgado e propõe a ele, em um ofício, que seja feito um leilão das obras para arrecadar dinheiro para os povos indígenas no contexto da pandemia da Covid-19.
A medida é uma resposta à campanha internacional promovida por Salgado na semana passada, que teve enorme repercussão, e que pedia ações do governo Jair Bolsonaro e do Congresso em defesa das etnias indígenas, especialmente as isoladas, por conta do novo coronavírus.
As obras estavam espalhadas por salas na sede da fundação e já começaram a ser retiradas (veja imagens obtidas pela coluna). As fotografias estão estimadas em R$ 1 milhão. O acervo é resultado do trabalho realizado por Salgado, em parceria com a própria Funai, junto à etnia Korubo do Coari, no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas. As fotos foram doadas pelo fotógrafo há dois anos.
A campanha de Sebastião Salgado – que reuniu celebridades do mundo como Brad Pitt, Paul MacCartney e Gisele Bündchen – fazia um “apelo urgente aos dirigentes do Brasil”. “O que juntou todas essas pessoas durante a pandemia?”, perguntava em vídeo, que viralizou nas redes sociais. “Elas têm medo de que o terrível vírus que ataca o planeta seja ainda mais violento para os índios do Brasil”.
Segundo informado à coluna por integrante da atual gestão da Funai, a avaliação feita, ao decidir pela devolução das obras e sugestão pelo leilão, era a seguinte:
“se Salgado reclama que não está indo dinheiro para os índios, propomos que ele faça o dinheiro com esses quadros, compre os donativos e envie aos indígenas”.
Korubo do Coari
Uma parte grande dos Korubo do Coari, etnia exposta nas fotografias, permanecia em total isolamento até março do ano passado, quando a Funai teve que fazer contato com os indígenas para evitar conflitos com os Matis, que também vivem no Vale do Javari. Foi a maior expedição dos últimos 20 anos da Fundação – seja em mobilização de pessoal, seja de orçamento.
A terra indígena fica situada na região amazônica e tem fronteira com o Peru, ao fim de uma área de 8,5 milhões de hectares. É a segunda maior terra indígena demarcada do Brasil, atrás apenas da Yanomami, que possui 9,6 milhões de hectares de extensão.
Dos 28 registros confirmados de índios isolados no país, 10 deles estão nesse território, o que atrai a atenção de especialistas de diversos países e do próprio Sebastião Salgado. As informações sobre a localização desses índios está restrita a um grupo de técnicos e indigenistas da Funai com longa experiência na temática dos indígenas isolados.