“Sou o capitão motosserra” – Bolsonaro ironiza críticas ao aumento de desmatamento

Desmatamento aumentou em 88% em junho na comparação com o mesmo mês em 2018. Em julho os números foram assustadores.

Fontes: A Tarde; UOL; Yahoo.

Visualização do desmatamento acumulado (em amarelo) na Amazônia, divulgado pelo site do Inpe

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a questionar hoje, em São Paulo, a precisão de dados sobre o desmatamento da Amazônia, assim como a divulgação dos mesmos. As críticas fizeram parte de um discurso repleto de ironias por parte de Bolsonaro, mirando não só a questão do meio ambiente, mas também a imprensa e líderes estrangeiros.

Na semana passada, o governo decidiu exonerar Ricardo Galvão, que dirigia o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o órgão responsável por coletar dados de desmatamento, depois de um embate público entre ele e Bolsonaro sobre a qualidade e a publicidade das informações.

Agora Bolsonaro afirmou que “dados imprecisos” sobre desmatamento estão sendo divulgados, e ironizou a questão. “Um número absurdo como aquele de que eu desmatei 88% da Amazônia. Eu sou o ‘capitão motosserra'”, disse o presidente, em tom de brincadeira. “[Se] divulga isso, é péssimo para a gente.”

Em sua fala, o presidente distorceu o dado do Inpe, que apontou que o desmatamento na Amazônia avançou 88% em junho na comparação com o mesmo mês em 2018. Bolsonaro deu as declarações em discurso no congresso da Fenabrave, entidade que representa o setor de concessionárias de veículos.

A polêmica com o presidente Jair Bolsonaro em torno de dados de desmatamento da Amazônia gerou a ordem de exoneração do diretor do Inpe (Nacho Doce / Reuters)

Se observado apenas o desmatamento de julho deste ano, o volume chegou a 2.254,8 km² de devastação, um volume 278% maior que o verificado em julho de 2018, quando foram registrados 596,6 km² de desmatamento. Isso equivale a mais de um terço de todo o volume desmatado nos últimos 12 meses, entre agosto de 2018 e julho de 2019, período em que o volume total do desmatamento chegou a 6.833 km².

Os dados são do Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que fiscaliza ações de desmatamento. O volume de 6.833 km² verificado entre agosto de 2018 a julho de 2019 supera em 33% o desmatamento medido nos 12 meses anteriores.

Para evitar distorções, esses números consideram apenas as três categorias de corte de vegetação que o próprio governo identifica como desmatamento efetivo: desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação e mineração.

Desde maio, o governo tem desmentido os dados oficias do Inpe, quando o Estado divulgou que os piores índices de desmatamento verificados na última década, com uma média de 19 hectares de vegetação derrubada por hora, o governo passou a confrontar as informações oficiais, colocando em xeque os dados que são divulgados pelo próprio setor público.

Imagens de satélite de 4/11/2018 e de 16/3/2019 mostram desmatamento de 149,77 hectares no norte de Rondônia

Crítica a terras indígenas e reservas

A menção ao desmatamento na Amazônia veio logo depois de Bolsonaro defender que questões como o licenciamento ambiental deveriam ser de responsabilidade dos estados, citando como exemplo o estado de Roraima, que estaria “inviabilizado” por reservas indígenas e áreas de preservação.

“Se eu fosse rei de Roraima, com tecnologia, em 20 anos teria uma economia próxima do Japão. Lá tem tudo. Mas 60% está inviabilizado por reservas indígenas e outras questões ambientais. Nós temos tudo para desenvolver essa região maravilhosa chamada Amazônia.”

Em seguida, o presidente fez mais uma ironia, desta vez direcionada ao presidente francês, Emmanuel Macron, e à chanceler alemã, Angela Merkel, que já demonstraram divergências públicas com Bolsonaro na questão do meio ambiente.

“Vocês não imaginam o prazer de conversar com Macron e Merkel. Eles não se deram conta de que o Brasil está sob nova direção.”

Bolsonaro também reservou parte do discurso para criticar a imprensa, que em sua visão “faz política” em vez de “vender a verdade para o povo brasileiro”.

O presidente aproveitou a menção a uma medida provisória que dá a empresas de capital aberto a possibilidade de publicar seus balanços no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou no diário oficial, retirando a obrigação de divulgar os números em jornais, para alfinetar a imprensa mais uma vez.

“Espero que o ‘Valor Econômico’ sobreviva à medida provisória de ontem”, disse, para risos da plateia.

Índios protestam em frente ao Congresso contra a aprovação da PEC 215 sobre demarcação de terras indígenas. (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Aplausos e afago do setor

Diante de uma plateia de 1.700 pessoas, segundo a organização do evento, Bolsonaro fez um discurso de cerca de 20 minutos e foi bastante aplaudido no fim.

O presidente usou a fala para retomar diversas bandeiras do governo. Voltou a defender, por exemplo, mudanças na legislação de trânsito, com a ampliação do limite de pontos na carteira de habilitação e o prazo estendido para renovação do documento. O projeto está no Congresso.

Bolsonaro também disse ter certeza de que a Reforma da Previdência será aprovada no Senado e afirmou, diante da plateia de empresários, que “a maior contribuição que podemos dar aos senhores é não interferir em seu trabalho”.

Na mesma linha, o presidente foi aplaudido quando defendeu, mais uma vez, que é necessário escolher entre “todos os direitos e nenhum emprego” ou “menos direitos e mais emprego”.

“Um número absurdo como aquele de que eu desmatei 88% da Amazônia. Eu sou o ‘capitão motosserra'” ironizou o presidente. Foto Divulgação


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