Polanski vence prêmio de melhor diretor e atrizes se retiram em protesto

Diretor acusado de estupro venceu o Prêmio César, ‘Oscar do cinema francês’, revoltando atrizes e ativistas feministas.

Informações do IG e UOL.

Em meio a acusações de agressão sexual, o diretor franco-polonês Roman Polanski ganhou o Prêmio César – o Óscar francês – de melhor direção pelo filme “O oficial e o espião”. A premiação causou revolta em várias atrizes presentes, que levantaram e saíram da cerimônia em protesto.

A atriz Adele Haenel , que no fim de 2019 disse que havia sido abusada por outro diretor quando era mais nova, foi uma das que se manifestaram contra premiá-lo. Ao “New York Times” ela foi enfática: “Premiar Polanski é cuspir na cara de todas as vítimas. Quer dizer que estuprar mulheres não é um problema”.

Ela foi a primeira atriz francesa de renome a denunciar ter sido vítima de abuso sexual na indústria cinematográfica.

Antes mesmo do início da cerimônia de premiação, considerada o Oscar do cinema francês, sentia-se uma forte tensão devido às 12 indicações.

“J’accuse” (“O oficial e o Espião”), é o mais recente filme de Polanski sobre o histórico caso Dreyfus, e liderou as indicações, ao lado de “Les Misérables” (“Os Miseráveis”), retrato de uma periferia parisiense indicado ao Oscar.

Este reconhecimento provocou a revolta de associações feministas, que destacam que Polanski é objeto de várias acusações de estupro.

A fúria contra o diretor não se restringiu às atrizes. Em frente ao local onde aconteceria a cerimônia do prêmio César, a polícia francesa entrou em conflito com manifestantes que protestavam contra Polanski.

Entre 300 e 400 manifestantes se concentraram horas antes da cerimônia na sala Pleyel, repetindo palavras de ordem como “Tranquem Polanski”.

O grupo de manifestantes derrubou uma barreira à frente do centro Pleyel, onde acontecia a evento, e a polícia chegou a lançar gases lacrimogêneos, evitando que o protesto chegasse ao tapete vermelho. Duas delas foram detidas enquanto cantavam: “Somos mulheres e orgulhosas”.



Perto dali, mais ativistas se colocavam de modo pacífico, com cartazes que diziam: “Vergonha de uma indústria que protege estupradores”.

Aos 86 anos, Polanski diz que as acusações mais recentes, de agressão sexual, não são verdades. No entanto, na década de 1970, ele fugiu dos Estados Unidos para a França após admitir ter estuprado uma menina de 13 anos. Além disso, não compareceu ao evento por temer um “linchamento público”.

Houve também quem defendesse o diretor, como a estrela Brigitte Bardot: “Deveríamos agradecer por Polanski estar vivo e salvando o cinema francês da mediocridade”.

A pressão levou Polanski, de 86 anos, a desistir de participar da cerimônia. Em 2017, ele já havia renunciado a presidir a cerimônia pelo mesmo motivo.

“Lamento tomar esta decisão, a de não enfrentar um tribunal de opinião autoproclamado disposto a pisotear os princípios do Estado de direito para que o irracional triunfe novamente”, afirmou o cineasta em um comunicado.

Sua decisão foi seguida da equipe do filme, inclusive seu protagonista, o ator Jean Dujardin, ganhador do Oscar.

O produtor do filme Alain Goldman informou nesta sexta à AFP sobre esta ausência, lamentando a “escalada de declarações e de comportamentos inadequados e violentos” e apontando particularmente ao ministro da Cultura, Franck Riester.

Riester avaliou que seria um “sinal negativo para a tomada de consciência” sobre a violência machista que Pokanski obtenha o César de melhor diretor, embora não tenha visto inconveniente em que ganhe o prêmio de melhor filme.

A polêmica teria contribuído para a demissão em bloco deste mês da diretoria da Academia dos César, acusada em paralelo de gestão obsoleta, opacidade e falta de paridade.

Adèle Haenel se retira de cerimônia do Cesar após anúncio de prêmio a Roman Polanski. Bertrand GUAY / AFP

Premiado em Veneza

“J’accuse” recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza. No César, também competiu com “La belle époque” (11 indicações) e “Retrato de uma mulher em chamas”, com dez indicações.

Mais de 1,5 milhão de pessoas assistiram ao filme de Polanski na França, embora sua estreia tenha marcado com um apelo ao boicote ao coincidir com novas acusações contra ele: uma fotógrafa francesa, Valentine Monnier, assegurou que o diretor a estuprou em 1975, quando ela tinha 18 anos. O diretor negou a acusação.

Polanski é considerado foragido da Justiça dos Estados Unidos, onde foi acusado, em 1977, de violentar uma adolescente de 13 anos.

Outras mulheres afirmaram nos últimos anos que foram vítimas de agressões sexuais por parte do diretor de “O Pianista”, o que o diretor nega.

Roman Polanski admitiu ter estuprado uma menina de 13 anos e enfrenta acusações recentes de agressão sexual. Reprodução IG/facebook


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