Channa argus: Ou Cabeça-de-cobra, o peixe que respira fora d’água – e está sendo procurado pelos USA

O cabeça-de-cobra é uma peixe exótico que já se espalhou por 15 estados dos USA. Agora os animais estão sendo caçados por terem se tornado uma ‘praga’.

Por Super Interessante.

Você conhece o peixe cabeça-de-cobra (Channa argus)? Nativo da Ásia, comum em países como China, Rússia e Coreias, esse animal de água doce é conhecido por ter uma cabeça longa e boca grande, semelhante a uma cobra – como você pode ver na imagem acima. Mas sua característica mais marcante é a sua capacidade de respirar fora d’água.

A espécie desenvolveu uma câmara branquial, dotada de um forro elaboradamente pregueado a fim de aumentar sua superfície, que consegue retirar o oxigênio do ar, permitindo a sobrevivência dele fora d’água por vários dias. Como todo bom peixe, é claro, seu corpo funciona melhor na água. Mas essa tolerância aérea vem a calhar, porque o peixe consegue se deslocar entre diferentes sistemas de água doce – ir de um lago para um rio próximo, por exemplo.

Até aqui, essa parece ser a história de uma belo peixinho que se adaptou até a terra para lutar por sua sobrevivência, certo? Não é bem por aí: o cabeça-de-cobra acabou saindo de sua terra natal e virando uma praga do outro lado do mundo, nos USA.

Quinze estados americanos estão em alerta por causa da proliferação no meio selvagem dessa espécie exótica que está destruindo a fauna local. As autoridades pedem que os moradores capturem os peixes cabeça-de-cobra para mapear a disseminação e controlar a reprodução.

Como uma espécie exótica, o bicho não tem predadores nessa região que controlem o tamanho de sua população. Acontece que ele próprio é um predador voraz, representando uma grande ameaça a peixes menores, anfíbios, crustáceos e outras espécies nativas, além de se mostrar bastante agressivo com humanos quando está protegendo seus filhotes. Uma fêmea do cabeça-de-cobra deposita até 100.000 ovos por ano, o que faz com que a proliferação da espécie em novos ecossistemas seja rápida e devastadora.

O Channa argus é voraz e tem a capacidade de sobreviver dias fora d’água. Foto US Geological Survey Archive.

O problema com esse animal não vem de hoje: sua primeira aparição nos USA foi em 2002, quando uma infestação da espécie foi descoberta em um lago de Crofton, Maryland. A situação era tão séria e comprometedora ao habitat que as autoridades estaduais optaram por ‘envenenar todo o local e matar o mal pela raiz’. Ao fim da operação, recolheram as carcaças de mais de 500 cabeça-de-cobra recém-nascidos. O caso ficou tão conhecido inspirou filmes de terror como Mutantes Assassinos (Snakehead Terror, 2004) e Frankenfish – Criatura Assassina (Frankenfish, 2004).

Na época, a repercussão do problema chegou ao governo: o cabeça-de-cobra recebeu status de vida selvagem prejudicial sob a Lei Federal Lacey, que proíbe a importação e o transporte interestadual de peixes e animais selvagens.

Apesar da intensa cobertura midiática e atenção política, o aumento da conscientização não impediu que ele continuasse se espalhando. Em 2004, o bicho foi encontrado no rio Potomac, Washington e, desde então, estabeleceu uma comunidade em expansão. De lá pra cá, lentamente, ele foi se proliferando até chegar no assustador patamar atual.

Recentemente, o último lugar que registrou sua aparição foi a Georgia:

If you find a northern snakehead in Georgia, kill it immediately and contact a DNR Regional Office. https://t.co/dbxWM0gaZQ

— Georgia DNR Wildlife (@GeorgiaWild) October 10, 2019

A Divisão de Recursos da Vida Selvagem do Departamento de Recursos Naturais da Geórgia emitiu um comunicado oficial sobre o caos nesta terça-feira (15/10), com instruções claras: “Mate-o imediatamente (lembre-se, ele pode viver na terra)” e “NÃO O LIBERTE.” – assim mesmo, em caps lock e negrito.

“Nossa primeira linha de defesa na luta contra espécies invasoras aquáticas, como cabeça-de-cobra, são nossos pescadores”, disse Matt Thomas, Chefe de Pesca da Divisão de Recursos da Vida Selvagem no comunicado. “Graças ao rápido relato de um pescador, nossa equipe conseguiu investigar e confirmar a presença dessa espécie em um corpo d’água da região. Agora estamos tomando medidas para descobrir se eles se espalharam a partir desse local e, esperançosamente, impedir que ele se espalhe para outras águas da Geórgia.”

Para que a população possa ajudar nessa luta contra o invasor, alguns estados, como Nova York, estão até ensinando como diferenciar esse peixe de outras espécies nativas, para evitar prejudicar ainda mais a fauna local.

Channa argus capturado na Cidade do Panamá – Wikipédia


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