Ibama pede explicações e Shell diz que barris encontrados no Nordeste foram reutilizados

Governo pediu esclarecimentos à empresa, depois que tambores foram encontrados com óleo. A Shell afirma que o conteúdo original dessas embalagens é o lubrificante Argina S3 30, e não tem relação com a mancha no litoral brasileiro nos últimos dias.

Por G1 e Brasil 247.

Barril encontrado em praia de Barra dos Coqueiros (SE) com óleo derramado (Foto: Adema) .

A empresa Shell Brasil afirmou nesta segunda-feira (14) que, embora tenham sido encontrados tambores de sua marca na Praia da Formosa, em Sergipe, o conteúdo original dessas embalagens não tem relação com o óleo cru que manchou o litoral brasileiro nos últimos dias. A Shell avalia que as embalagens foram reutilizadas por outras pessoas.

Análises feitas pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) verificaram que o material encontrado no interior dos barris é o mesmo das manchas de óleo que atingiram praias nordestinas nas últimas semanas. Pelo menos dois testes realizados pela UFS chegaram ao mesmo resultado.

Diante disso, e após questionamento do G1, a Shell alegou que:

“Tratam-se de embalagens de lubrificante para embarcações, de um lote não produzido no Brasil. Vale ressaltar que o próprio adesivo em um dos tambores encontrados em Sergipe traz a data de 17/02/2019 associada ao transporte do lubrificante Argina S3 30, e que a mancha de óleo cru que está atingindo o litoral começou a impactar a costa em setembro. Isso aponta para uma possível reutilização da embalagem em questão – reutilização esta que não foi feita pela Shell.”

A empresa afirmou ao G1 que não reutiliza tambores, mas não informou o que faz com os tambores depois de utilizados, nem se os comercializa ou armazena.

Além disso, a empresa afirma que não transporta óleo cru acondicionado em tambores em rotas transatlânticas. E enviou a foto abaixo, de amostra do lubrificante Argina S3 30, para demonstrar que não se trata do mesmo óleo encontrado nas praias.

O lubrificante Argina S3 30 é multifuncional, muito usado em partes metálicas de máquinas que funcionam com diesel.

Lubrificante argina S3 30 da Shell — Foto: Divulgação

Esclarecimentos ao Ibama

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles solicitou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) que intimasse a Shell a prestar informações sobre barris com inscrição de um lubrificante fabricado pela empresa, que foram encontrados no litoral de Sergipe.

Segundo Salles, o objetivo da intimação é obter mais informações na tentativa de descobrir qual navio teria sido o responsável pelo despejo do material no mar. Conforme o ministro, não está descartada a hipótese de o óleo ter origem em um navio irregular, o que dificultaria a identificação dos responsáveis.

Nesta segunda-feira (14), ao Jornal Nacional, Salles disse que foi informado da posição da Shell de que os barris foram reutilizados.

“A informação que nós recebemos é que esses seriam barris reutilizados. Isso muda bastante a configuração do produto que está dentro. Então vamos aguardar os relatórios”, explicou Ricardo Salles.

“Não se deve abrir mão de nenhuma hipótese investigativa. Ao que se sabe, os barris foram reutilizados. Então uma das linhas de investigação é saber se o material é o mesmo e, sendo o mesmo, qual é a origem desses barris: como é que eles chegaram, quem é que estava transportando, de que forma. E também o assunto do navio, o rastreamento desses navios”, continuou ele.

Outras inscrições que aparecem, escritas à mão, nos barris é a palavra “ekata” e a expressão “dirty bilge”. Foto UOL.

Monitoramento ‘Frouxo’

A Reuters publicou com exclusividade a informação sobre este acidente em novembro do ano passado. Na época, a Marinha do Brasil disse que havia registrado 59 operações de transferência de petróleo ship-to-ship na costa brasileira até o dia 30 de outubro de 2018. A Reuters, porém, rastreou 65 operações deste tipo no mesmo período – e só aquelas que envolveram petróleo da Shell.

Segundo projeção da OceanPact, empresa que lida com derramamentos de petróleo no mar, o número de transferências de petróleo entre navios no Brasil pode chegar a 300 em 2022.

Ao contrário de outros países, o Brasil não exige que haja representantes da marinha acompanhando cada uma das operações ship-to-ship realizadas em suas águas territoriais, e o monitoramento dessas operações de alto risco pelo Estado brasileiro é, na palavra usada pela Reuters, “frouxo”.

Enquanto isso quem paga é o meio ambiente e os animais. Diversas espécies já foram encontradas mortas ou agonizando cobertas da substância que ninguém sabe de onde veio, e que continua destruindo ecossistemas costeiros devido à incapacidade do governo de identificar e conter o derramamento de óleo.

Tartarugas cobertas de óleos foram encontradas em praias do litoral nordestino — Foto: Instituto Verdeluz/Divulgação


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