Agência dos EUA disse que suas estatísticas corroboram com as do Inpe e que no Pará e no Amazonas os principais focos estão localizados às margens das rodovias.
O aumento no número de focos de queimada no Brasil provocou reações internacionais e protestos contra a política ambiental do governo federal.
A agência espacial americana (Nasa) disse que 2019 é o pior ano de queimadas na Amazônia brasileira desde 2010. Segundo texto publicado na noite desta sexta-feira (23) e divulgado em sua conta no Twitter, é “perceptível o aumento de focos de queimadas grandes, intensas e persistentes ao longo das principais rodovias no centro da Amazônia do Brasil”.
“Os satélites são frequentemente os primeiros a detectar os incêndios em regiões remotas da Amazônia”, disse Douglas Morton, diretor do Laboratório de Ciências Biosféricas do Goddard Space Flight Center, da Nasa.
Segundo os cientistas, a atividade das queimadas na floresta brasileira “varia consideravelmente de ano para ano e de mês para mês”, influenciada pelas mudanças econômicas e climáticas.
No entanto, a agência espacial explica em seu post no blog “Earth Observatory” que “apesar de a seca ter desempenhado um papel importante na intensificação dos incêndios em outras ocasiões, o momento e a localização das queimadas detectadas no início da estação mais seca de 2019 estão mais ligados ao desmatamento do que à seca regional”.
O mapa divulgado nesta sexta (veja acima) mostra os focos de queimadas detectados pelos satélites Terra e Aqua, e apresentados em laranja. Os pontos em branco são cidades, os pontos cinzas representam o Cerrado, e as florestas são as áreas em preto.
A Nasa também afirmou que foi possível localizar focos de incêndio próximos de rodovias brasileiras e perto de cidades. A agência divulgou uma imagem de satélite (imagem no texto abaixo) que mostra o município de Novo Progresso, no Pará. “O município está localizado ao longo da BR-163, uma rodovia que corta o Norte ao Sul e conecta fazendeiros do sul da Amazônia com um porto com acesso ao oceano no Rio Santarém, na Amazônia”, explicou a agência.
“Pastos e terra cultivada estão aglomerados em torno da rodovia em pedaços de terra retangulares e ordenados”, continuou o texto. “Ao oeste da rodovia, estradas sinuosas conectam uma série de minas de pequena escala que se estendem floresta adentro.”
Como a Nasa mede as queimadas?
- Desde 2002, a ferramenta principal de detecção da Nasa são os instrumentos do Modis, o Espectroradiômetro de Resolução Moderada de Imagens. Trata-se de um equipamento capaz de medir o comprimento e a onda de luz instalado nos satélites Terra e Aqua;
- Desde 2003, esses sensores fazem observações diárias ao redor do planeta de anomalias térmicas, que geralmente representam incêndios;
- Esses dados são processados e representados em um mapa de detecção pelo Firms, o Sistema de Informação sobre Incêndios para a Gestão de Recursos, criado por um programa de ciências aplicadas da Nasa em parceria com a Universidade de Maryland;
- Segundo a Nasa, o sistema Firms oferece informação quase em tempo real para pesquisadores e gestores de recursos naturais.
Dados do Inpe
O aumento no número de focos de queimada no Brasil provocou reações internacionais e protestos contra a política ambiental do governo federal. Na manhã desta sexta-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro disse que a “tendência” é que o governo federal envie as Forças Armadas para combater os incêndios na região amazônica.
As queimadas no Brasil são medidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Veja abaixo os principais dados:
Dados por áreas e bioma entre janeiro e agosto de 2018 e de 2019, segundo o Inpe:
Os dados do Inpe mostram que, de janeiro a 22 de agosto de 2019, os satélites registraram o maior número de focos de queimadas no Brasil desde 2013.
O Inpe apresenta o monitoramento dos focos de queimada por estados, país e bioma. No bioma Amazônia, que corresponde a cerca de 40% do território brasileiro, foram verificados 40.341 focos neste ano. O valor é 82% maior que o verificado no mesmo período em 2018.
A área da Amazônia Legal corresponde à totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e a parte do estado do Maranhão. Nessa área, foram registrados 54.906 focos entre janeiro e 22 de agosto. O número é 63% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.
Além do Brasil, outros países da América do Sul também estão em um período de aumento no número de queimadas. Foram 168.247 focos até 22 de agosto de 2019. A Bolívia, que também é parcialmente coberta pela Amazônia, está enfrentando o maior incêndio da sua história recente. Os primeiros focos do incêndio foram detectados há 16 dias. Uma área de pelo menos 500 mil hectares já foi consumida pelo fogo no país.
Chamas devem se alastrar até o fim de setembro
A agência espacial Nasa considera que a temporada seca, que ocorre entre julho e setembro, colabora para o agravamento dos incêndios. Por isso, avalia a agência, a tendência é que as chamas se alastrem pela floresta amazônica até o fim do mês que vem.
Quando comparada toda a bacia do Amazonas, que inclui a região Norte do Brasil e os Estados de Maranhão e Mato Grosso, além de Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas, o nível de incêndios já está próximo ao da média histórica.
De acordo com o boletim de julho do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em agosto são registrados, em média, aproximadamente 47 mil focos de incêndio – conforme a climatologia de focos de 2002 a 2018.
Neste ano, até o dia 22 de agosto, já foram computados 76.720 focos de incêndio no país – 52,6% deles na região amazônica. Em apenas um dia – entre 21 e 22 de agosto –, foram registrados 1.384 focos a mais.
Segundo o Inpe, houve quase 2.500 novos incêndios em 48 horas no Brasil. O desmatamento na Amazônia, que avança rapidamente, é apontado por especialistas como a principal causa das queimadas.
Macron diz que Amazônia é ‘bem comum’ e pede ‘mobilização de potências’ contra desmatamento
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou neste sábado (24), durante pronunciamento para lançar o início da cúpula do G7, que uma das suas prioridades no evento será mobilizar “todas as potências, em parceria com os países da Amazônia”, para combater o desmatamento e investir no reflorestamento.
“A Amazônia é nosso bem comum. Estamos todos envolvidos, e a França está provavelmente mais do que outros que estarão nessa mesa [do G7], porque nós somos amazonenses. A Guiana Francesa está na Amazônia”, afirmou Macron, em cadeia nacional.
As queimadas na Amazônia foram inseridas na pauta do G7, cúpula das sete grandes economias mundiais, que vai até segunda-feira (26) em Biarritz, no sudoeste da França.
“Vamos lançar uma mobilização de todas as potências que estão aqui, em parceria com os países da Amazônia, para investir na luta contra os incêndios que estão em curso e ajudar o Brasil e todos os outros países que são atingidos. Depois, investir no reflorestamento e permitir aos povos autóctones, às ONGs, aos habitantes desenvolverem atividades preservando a floresta, que nós precisamos”, explicou o francês.
Segundo Macron, a Amazônia “é um tesouro de biodiversidade e um tesouro para o nosso clima, graças ao oxigênio que ela emite e ao carbono que ela captura”.