Microplásticos fazem parte de sua dieta?

É um fato amplamente divulgado que os microplásticos andam contaminando os oceanos e que eles são um problema imenso, mas eles já chegaram ao seu prato?

O mundo produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico desde o início da década de 1950. É o equivalente a cerca de 25 mil vezes o peso do Empire State Building, em Nova York. De todo esse material apenas 9% foi reciclado, 12% foi incinerado e estima-se que 79% está acumulado em aterros ou poluindo o ambiente. No ranking dos maiores poluidores globais, o Brasil está em quarto lugar quanto à produção de lixo plástico, gerando 11,3 milhões de toneladas por ano, e sendo um dos países que menos recicla, perdendo na produção apenas para os Estados Unidos (70,8 milhões de toneladas), China (54,7 milhões) e Índia (19,3 milhões).

A poluição dos oceanos é um problema global e crescente. Mais de 300 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente no planeta, e os cientistas estimam que oito milhões de toneladas chegam aos mares todos os anos. O plástico é quase indestrutível e, no meio ambiente, só se divide em partes menores, transformando-se em partículas de escala nanométrica (um milésimo de um milésimo de milímetro), devido à ação do sol, das ondas, do vento e de micróbios decompositores. Essas partículas de micro e nanoplásticos são ingeridas por organismos marinhos que se alimentam filtrando a água, como vermes tubulares e ascídias. Pesquisadores britânicos, da Universidade de Newcastle, descobriram micropartículas de plástico no intestino de animais que habitam as regiões oceânicas mais profundas da Terra, comprovando que a poluição não se limita à superfície e já atingiu os locais mais inóspitos do planeta. Na Fossa das Marianas, ao leste das Filipinas, 100% dos animais pesquisados apresentaram materiais plásticos em seus tratos digestivos. Eles se acumulam nos órgãos ao longo do tempo, contaminando as cadeias alimentares, chegando até nós, ameaçando a segurança alimentar.

Não são apenas as embalagens plásticas, as garrafinhas, canudos e objetos como brinquedos e sacolinhas de mercado que possuem partículas plásticas, até o seu inocente comprovante bancário é feito com um material que é usado como matéria prima na fabricação de plásticos, o bisfenol A (BPA).

Independe do tamanho do resíduo, esses materiais geralmente contêm uma ampla cadeia de substâncias químicas usadas para alterar suas propriedades ou cores e várias delas são tóxicas, podendo atuar no nosso organismo imitando hormônios capazes de interferir no sistema endócrino.

O documentário “Oceanos de Plástico” (Plastic Ocean), disponível no netflix, aborda o tema de forma clara e incisiva.

E o problema não se resume a quem consome peixes e frutos do mar, mesmo sendo vegano ou vegetariano, você ainda está ingerindo plástico.

Além de sufocar os oceanos, contaminando milhares de espécies, os microplásticos já são encontrados no sal de cozinha, e também na água potável.

Uma pesquisa feita pela organização Orb Media encontrou vestígios de fibras plásticas microscópicas em 83% das 159 amostras coletadas de várias partes do mundo. Foram encontradas microfibras plásticas na água engarrafada e em residências que utilizam filtros de osmose reversa, um dos processos mais utilizados para a purificação da água.


Um estudo do Greenpeace, conduzido pelo professor Seung-Kyu Kim, do departamento de ciências marinhas da Universidade Nacional de Incheon, na Coreia do Sul, realizado com 39 marcas de sal de 21 países, entre eles o Brasil, trouxe resultados assustadores. Ele apontou que o sal que você usa para temperar a comida está contaminado com microplástico. Apenas amostras colhidas na China, na França e em Taiwan não apresentaram partículas de microplásticos. Também foram analisadas amostras de sal da Alemanha, Austrália, Bielorrússia, Bulgária, Croácia, Estados Unidos, Filipinas, França, Índia, Itália, Coréia do Sul, Paquistão, Reino Unido, Romênia, Senegal, Tailândia e Vietnã.

Para os cientistas a humanidade enfrenta um duplo desafio, como substituir os materiais utilizados atualmente por outros que sejam biodegradáveis e ao mesmo tempo reciclar e retirar da natureza tanto lixo?

Já possuímos tecnologia para fabricação de materiais alternativos, como o amido termoplástico, que está sendo desenvolvido pela USP/Instituto de Química de São Carlos. A USP também criou um plástico 100% biodegradável, no Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), feito a  partir de matrizes de amido presentes em resíduos agroindustriais de cúrcuma, babaçu e urucum.

Além dos esforços dos cientistas e dos governos, é preciso também a conscientização da população, que deve buscar materiais alternativos que já estejam disponíveis no mercado. Certos objetos como garrafas, copos e canudos descartáveis podem ser substituídos por inox. Nos supermercados a opção sustentável é o uso das ecobags no lugar das sacolinhas plásticas. No carnaval de 2019 o bioglitter, feito com material biodegradável, ganhou destaque na imprensa como uma novidade ecologicamente correta. Escovas de dentes feitas com bambu ou madeira já são encontradas facilmente em lojas online, e podem ser descartadas ou enterradas no seu quintal ou até mesmo no vasinho de planta. A Iceland, empresa alimentícia do Reino Unido, promete um supermercado completamente livre de plástico até 2023.

Na maioria das vezes, ao compararmos os custos de fabricação em larga escala dos materiais, os biodegradáveis são mais baratos do que os utilizados atualmente. A aceitação e demanda por plásticos biodegradáveis dependem mais de consciência ambiental, legislação e vontade política do que de fatores econômicos.

Fontes: Revista Exame; Orb Media; ASMETRO ; Gazeta do Povo; Ambiente Brasil

Lixão plástico na Costa del Este vizinha à cidade do Panamá © REUTERS/Carlos Jasso


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