A primeira espécie de molusco preso em cavernas das Américas

Bivalves exclusivamente subterrâneos – o grupo de moluscos composto por amêijoas, ostras, mexilhões, vieiras – são considerados uma raridade. 

Por Pensoft Publishers com informações de Phys.

Pequenos indivíduos de Eupera troglobia sp. n. expostas ao ar, com um opilião (Eusarcus sp.) próximo a elas. Crédito: Rodrigo Lopes Ferreira

Antes do presente estudo, havia apenas três dessas espécies confirmadas no mundo: todas pertencentes a um gênero de mexilhão de pequeno porte conhecido do sudeste da Europa. Além disso, os bivalves não são o típico morador do ‘submundo’, pois são quase imóveis e não toleram ambientes com pouco oxigênio. 

Contra as expectativas, um novo estudo do Dr. Luiz Ricardo L. Simone (Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo) e Dr. Rodrigo Lopes Ferreira (Universidade Federal de Lavras), publicado na revista científica de acesso aberto Subterranean Biology, descreve uma espécie nova para a ciência de moluscos evidentemente ligados a cavernas – ou troglóbios – do norte do Brasil. 

Chamado de Eupera troglobia, o molusco demonstra características características de organismos que não devem ver a luz do dia, incluindo falta de pigmentação, tamanho reduzido, casca delicada e menos ovos, porém maiores.

Curiosamente, foi em 2006, quando um relatório apresentando um levantamento faunístico de uma caverna no norte do Brasil apresentou fotografias do que seria descrito como Eupera troglobia. No entanto, a evidência foi rapidamente descartada: o molusco deve ter sido carregado para a caverna pela água. 

Em 2010, o Dr. Rodrigo Lopes Ferreira acessou o laudo e percebeu a despigmentação das amêijoas. Querendo saber se era realmente possível que ele estivesse olhando para um troglóbio, ele procurou entre os espécimes coletados daquele estudo, mas não conseguiu encontrar nenhum bivalve descolorido.

Caverna, com uma câmara parcialmente inundada. Crédito: Rodrigo Lopes Ferreira

Dez anos depois, sua equipe visitou a caverna para procurar especificamente por conchas despigmentadas. Embora a caverna estivesse parcialmente inundada, os pesquisadores conseguiram identificar os espécimes de que precisavam presos às paredes da caverna.

Em conclusão, os cientistas destacam que sua descoberta é o mais recente lembrete sobre a importância da conservação dos frágeis habitats subterrâneos, dados os tesouros em suas propriedades. 

Enquanto isso, as leis recentemente alteradas no Brasil colocam as cavernas em risco consideravelmente maior.

Mais informações:  Luiz Ricardo L. Simone et al, Eupera troglobia sp. nov.: the first troglobitic bivalve from the Americas (Mollusca, Bivalvia, Sphaeriidae), Subterranean Biology (2022). DOI: 10.3897/subtbiol.42.78074

Um espécime submerso de Eupera troglobia sp. n. Crédito: Rodrigo Lopes Ferreira


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