Cheia histórica do rio Nilo ameaça pirâmides no Sudão

A maior cheia dos últimos cem anos já desabrigou meio milhão de pessoas no país e pode danificar sítios arqueológicos.

Por Maria Clara Rossini para Super Interessante.

 AGF/Getty Images

Quando você pensa em pirâmides e sítios arqueológicos na África, o Sudão não é o primeiro lugar que vem à mente. Mas o fato é que o país, que fica ao sul do Egito, também abriga pirâmides e sítios arqueológicos milenares, registros únicos da história da humanidade. No entanto, essas construções estão ameaçadas pela alta histórica do rio Nilo.

As pirâmides de Meroé, localizadas no sítio arqueológico al-Bajrawiya, são classificadas como Patrimônio Mundial pela Unesco. Elas foram construídas pela população do Reino de Cuxe, rival do Egito que comandou a região entre 800 a.C e 400 d.C. Além das pirâmides, o sítio também conta com templos, palácios, cemitérios e outros edifícios. O local fica a 500 metros do rio Nilo, que atravessa o Sudão.

O Nilo sofre cheias anualmente durante a temporada de chuvas. Isso é fundamental para os produtores e agricultura da região, já que o Sudão encontra-se em uma área com clima majoritariamente desértico. No entanto, o aumento do nível do rio este ano foi o maior dos últimos cem anos, desde que os registros começaram a ser feitos. Isso fez com que o país declarasse estado de emergência na última sexta-feira (04/09).

Segundo o jornal Al-Jazeera, as enchentes mataram 99 pessoas no último mês. O governo do Sudão afirma que mais de meio milhão de pessoas estão desabrigadas em consequência da alta sem precedentes do rio Nilo.

O rio é dividido em dois: o Nilo Azul, que percorre o Egito e norte do Sudão, e o Nilo Branco, que atravessa o Sudão do Sul e outros países. Esses dois corpos d’água se encontram em Cartum, capital do Sudão, uma das áreas mais afetadas pelas cheias. O recorde em nível de água foi observado no Nilo Azul, que representa 80% de toda a água do Nilo.

A região que abriga os importantes sítios arqueológicos fica a 200 quilômetros da capital. Segundo Hatem al-Nour, autoridade responsável por antiguidades e museus no Sudão, tumbas enterradas a 7 metros da superfície já foram atingidas pela água. Apesar de abrigar mais pirâmides que o Egito, a quantidade de turistas que visitam o Sudão nem se compara à do país vizinho.

Não é novidade que o rio Nilo sofre cheias violentas. Foram elas, inclusive, que provavelmente deram origem ao mito do dilúvio presente no Épico de Gilgamesh, que depois entrou na Bíblia na forma da arca de Noé.

Reuters/Divulgação


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