infectados com a peste negra na Mongólia tiveram contato com 650 pessoas

A cidade de Khov e a região homônima foram isoladas, para evitar uma epidemia. A forma mais severa da peste pode ser transmitida entre humanos por meio da inalação de partículas contaminadas. A OMS diz que está “monitorando cuidadosamente” o caso na China, mas diz que “não é de alto risco”.

Com informações do Correio Braziliense e da BBC.

A Y.pestis (em vermelho), causadora da Peste Negra, alojada no linfonodo de um camundongo (foto: Miller Lab/UNC School of Medicine/Divulgação)

Oito meses depois de registrar quatro casos de peste bubônica, a Mongólia Interior, na China, teme um surto da doença, com a confirmação, pelo Centro Nacional de Controle Zoonótico, de que 650 pessoas tiveram contato direto ou secundário com duas pessoas que testaram positivo para a Yersinia pestis, bactéria causadora da doença.

A cidade de Khov e a região homônima foram isoladas, para evitar uma epidemia. A forma pneumônica — a mais severa da peste — pode ser transmitida entre humanos por meio da inalação de partículas contaminadas. Segundo as autoridades locais, as vítimas, que se encontram em tratamento, são um homem de 37 anos e uma mulher cuja idade não foi revelada.

Imagem: BBC

A Doença

Há pelo menos 5 mil anos, a Y.pestis circula no mundo. Em 2011, testes genéticos realizados em vítimas da peste negra, que devastou a Europa em meados do século 14, identificaram a bactéria como causadora da epidemia medieval. Houve um punhado de grandes surtos desde então. 

Nos desertos e estepes asiáticos, segundo um artigo científico publicado na revista Biossegurança e Saúde por pesquisadores do Centro Geral de Controle e Prevenção de Doenças da Mongólia Interior (região autônoma chinesa entre a Mongólia e a China), o primeiro registro da enfermidade é de 1644.

Matou cerca de um quinto da população de Londres durante a Grande Praga de 1665, enquanto mais de 12 milhões morreram em surtos durante o século 19 na China e na Índia.

Entre 1901 e 1949, houve 41 surtos, com, pelo menos, 80 mil mortes. A região autônoma chinesa estava livre da peste desde 2004, mas, em novembro do ano passado, quatro pessoas foram infectadas.

Mas hoje em dia pode ser tratado com antibióticos. Deixada sem tratamento, a doença tem uma taxa de mortalidade de 30 a 60%.

Os sintomas da peste incluem febre alta, calafrios, náusea, fraqueza e linfonodos inchados no pescoço, axila ou virilha.

A peste bubônica já foi a doença mais temida do mundo, mas agora pode ser facilmente tratada. Imagem Science Photo Library.

Roedores

Assim como nos casos de 2019 da Mongólia Interior, os dois confirmados, agora, na Mongólia, são de indivíduos que vivem em locais onde há grande circulação de roedores, os hospedeiros naturais das pulgas infectadas com a Y. pestis. No estudo publicado na Biossegurança e Saúde, os pesquisadores destacam que 15 cepas da praga foram detectadas em 10 esquilos-da-mongólia e em cinco tipos de pulgas em Sunitezuo Banner, região de duas das quatro vítimas da doença — um casal — em novembro passado.

“Ambos são pastores e vivem em casas de adobe com condições sanitárias pobres, com pilhas de junco em todos os lugares”, informaram os cientistas. Os outros dois pacientes também tiveram contato com animais. O homem esfolou e cozinhou uma lebre, enquanto a mulher pastoreou o rebanho nos 10 dias anteriores aos primeiros sintomas. Ela contou que notou marcas de picadas de pulga no peito, nas costas, e nas extremidades superior e inferior do corpo.

Apesar da gravidade da peste negra — de 30 a 60% dos com peste bubônica até 100% dos infectados com a pneumônica morrem, caso não sejam tratados —, o artigo científico mongol demonstrou que, ao menos nos casos de 2019, nenhuma das pessoas que tiveram contato com os pacientes foram contaminados pela Y.pestis. Ainda assim, os autores recomendam “que uma prevenção estrita do espalhamento da infecção entre humanos seja a prioridade máxima” das autoridades de saúde dessa região asiática.

No mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há de mil a 2 mil casos anuais de peste bubônica. Desde o século passado, a doença foi detectada em 38 países, incluindo o Brasil, com epidemias registradas no Peru, em Madagascar (a mais recente, entre o fim de 2017 e o início de 2018, com 2.575 casos e 221 óbitos) e na República Democrática do Congo, onde foram registrados 10 casos até 16 de junho, com quatro mortes.

Roedores são os hospedeiros naturais das pulgas infectadas com a Y. pestis. Imagem: Gety Images

O que a OMS disse?

A porta-voz Margaret Harris disse: “A peste bubônica está conosco e está sempre conosco há séculos. Estamos analisando os números de casos na China. Está sendo bem administrada.

“No momento, não estamos considerando alto risco, mas estamos assistindo, monitorando-o com cuidado”.

A OMS informou que foi informada na segunda-feira do caso do pastor, que está sendo tratado em um hospital em Bayannur.

A agência de notícias chinesa Xinhua diz que a Mongólia também confirmou dois casos na semana passada – irmãos que comeram carne de marmota na província de Khovd.

Autoridades russas estão alertando as comunidades da região de Altai do país para não caçar marmotas, já que a carne infectada dos roedores é uma rota de transmissão conhecida.

A caça à marmota é proibida perto da Mongólia, mas continua apesar dos avisos. Getty Images.

Poderia haver outra epidemia?

Casos bubônicos são raros, mas ainda existem alguns surtos da doença de tempos em tempos.

Madagascar viu mais de 300 casos durante um surto em 2017. No entanto, um estudo publicado na revista médica The Lancet descobriu que menos de 30 pessoas morreram.

Em maio do ano passado, duas pessoas na Mongólia morreram depois de comer a carne crua de uma marmota.

No entanto, é improvável que alguns casos levem a uma epidemia.

“Ao contrário do século 14, agora temos um entendimento de como essa doença é transmitida”, disse Shanti Kappagoda, médica em doenças infecciosas da Stanford Health Care, ao site de notícias Heathline. “Nós sabemos como evitá-lo.”

Roupa usada pelo Médico da Peste durante a idade Média. Imagem Reprodução


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