Medidas de isolamento social afetam duramente os zoológicos alemães, que perderam a receita da venda de ingressos. Um deles anunciou que, em último caso, poderá abater animais para alimentar outros.
Informações do Terra.
O zoológico de Neumünster, no estado alemão de Schleswig-Holstein, elaborou uma lista de animais a serem abatidos se a crise do coronavírus se prolongar.
“Sim, nós temos uma lista de animais que serão inicialmente abatidos”, afirmou a diretora do zoológico, Verena Kaspari, confirmando relatos na imprensa alemã.
Os animais abatidos servirão de alimento para o lince, as águias e para Vitus, “o maior urso-polar da Alemanha”, que mede 3,6 metros de altura. Cabras e cervos estão na lista, mas nenhuma espécie ameaçada de extinção, assegura Kaspari. “É para um worst-case scenario [pior situação possível]. Por enquanto, não é esse o caso, mas temos que estar preparados.”
Um worst-case scenario ocorreria se não houvesse mais fornecimento de peixe e carnes por falta de recursos. Todos os zoológicos na Alemanha estão fechados devido às medidas de isolamento social para conter a propagação do novo coronavírus.
O zoológico de Neumünster fechou em 15 de março. É um espaço pequeno, com pouco mais de 700 animais, incluindo raposas-polares, lobos-guarás e lobos-marinhos, além de Vitus, a grande atração. Com o relaxamento das medidas de isolamento social anunciado nesta quarta-feira (15/04) pelo governo alemão, o local poderá reabrir na próxima segunda-feira, respeitando rígidas normas de higiene e controle de circulação de pessoas.
O prejuízo com o fechamento é alto. Antes do anúncio do relaxamento, Kaspari calculava que cerca de 175 mil euros deixariam de entrar no caixa até o fim de abril.
Os zoológicos são muito populares na Alemanha. Uma pesquisa recente revelou que três de cada quatro alemães gosta de passear no zoo. O de Berlim, com 20 mil animais, registra 5 milhões de visitantes por ano.
Um feriadão de Páscoa costuma bastar para um zoológico alemão recuperar tudo o que gastou com a alimentação de animais durante todo o inverno.
Apesar de fechados, os funcionários continuam trabalhando para cuidar dos animais e recebendo seus salários. Além disso, há as despesas com a alimentação dos animais. “O faturamento vai a zero, mas os custos são os mesmos”, resume Kaspari.
Alguns zoológicos podem se candidatar a receber ajuda dos governos estaduais, o que pode cobrir até 10% das despesas. Mas o zoo de Neumünster é uma instituição de caridade e, por isso, não pode solicitar esse tipo de ajuda.
O zoológico de Duisburg, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, tem cerca de 6.800 animais e já elaborou um plano de contingência. A despensa ainda está cheia, mas já há uma lista de funcionários que são imprescindíveis para cuidar dos animais. Os demais seriam mandados para casa.
“O zoo de Duisburg não tem uma lista de animais que seriam mortos para servir de alimento por causa da pandemia de coronavírus”, afirmou um porta-voz.
Na cidade vizinha de Krefeld, o zoológico passa por dificuldades desde que um incêndio, no dia de Ano-Novo, destruiu sua “casa dos macacos” e matou mais de 30 deles. O local depende da ajuda do governo municipal, que é seu principal acionista, e descartou elaborar uma lista de animais a serem abatidos.
A ONG de defesa dos animais PETA afirmou à DW que “gestão populacional” não é exatamente algo novo. “Os zoológicos se financiam por meio de pequenos filhotes e vivem deles. Quando não há espaço suficiente para os animais, eles normalmente são mortos para servir de alimento para outros animais”, declarou a organização.
Segundo a PETA alguns zoológicos, como o de Nurembergue, são transparentes em relação ao número de animais que matam todos os anos. Entre 2013 e 2015 foram até 60 por ano no local.
A Associação Europeia de Zoológicos e Aquários estima que entre 3 mil e 5 mil animais são mortos em zoológicos europeus todos os anos.
O Bundestag (Parlamento) aprovou um pacote de 750 bilhões de euros para ajudar a proteger a economia alemã na crise do novo coronavírus.
A associação dos zoológicos alemães, VdZ, pede ajuda governamental de 100 milhões de euros para o setor. “Ao contrário de outros locais, não podemos simplesmente fechar: os animais continuam precisando de alimentos e de cuidados”, explica o presidente da VdZ, Jörg Junhold.
O estado de Schleswig-Holstein prometeu 5 milhões de euros para os zoológicos, mas, segundo a diretora do zoo de Neumünster, ainda não há uma maneira de se candidatar aos recursos.
De acordo com ela, restam as doações como única fonte de renda. O anúncio de uma “lista de abate” certamente gerou muita publicidade para o zoológico, que também passou a postar vídeo na sua página no Facebook para pedir doações.