Arqueólogos encontraram capital “perdida” do antigo reino maia de Sak Tz’i’, que foi construída no ano de 750 e permaneceu ocupada por um milênio.
Informações da Galileu.
Foi no “quintal” de uma fazenda em Lacanja Tzeltal, região de Chiapas, no extremo sul do México, que uma equipe de arqueólogos encontrou a capital perdida do antigo reino maia de Sak Tz’i’. O artigo publicado pelo grupo no Journal of Field Archaeology afirma que a região provavelmente foi construída em 750 d.C. e permaneceu ocupada por mil anos.
A descoberta foi resultado de um golpe de sorte, segundo os especialistas. Como contaram em uma declaração à imprensa, em 2014, o pesquisador Whittaker Schroder dirigia pela região de Chiapas quando avistou um homem acenando para ele. O cientista resolveu não parar, pois achava que o rapaz estava vendendo carne, algo que não o interessava por ser vegetariano.
Dias depois, Schroder passou pela região e avistou o mexicano novamente. Dessa vez, resolveu parar. Foi aí que o arqueólogo descobriu que o rapaz não estava vendendo comida, mas queria mostrar para o pesquisador uma tábua que encontrara por ali. Resultado? Aquele artefato era uma evidência de que, séculos atrás, a região fora muito importante para o povo maia.
Levou cinco anos para que as escavações na área começassem, mas a demora valeu a pena: além de destroços de monumentos maias, os especialistas encontraram o que sobrou de algumas pirâmides, do palácio real e de uma quadra esportiva.
Sak Tz’i’
De acordo com os historiadores, o reino Sak Tz’i’ era relativamente pequeno, abrangendo o que é hoje a fronteira entre o México e a Guatemala. Os acadêmicos procuravam evidências dessa sociedade maia desde 1994, quando identificaram referências a ela em inscrições encontradas em outras escavações.
Apesar de ser bem menor do que outras sociedades maias da época, a forma como esse povo vivia era parecida com a das cidades maiores. Os plebeus viviam no campo colhendo uma grande variedade de plantas e criando artefatos de cerâmica e pedra — e vendiam esses produtos em um mercado local.
O centro da atividade religiosa e política era a um local conhecido como “Plaza Muk’ul Ton”, um pátio de 6 mil metros quadrados onde as pessoas se reuniam para cerimônias. Também havia uma pirâmide de 13 metros no nordeste da cidade que ficava cercada pelas casas da elite.
Guerra
Os especialistas também encontraram evidências de que, de um lado, a capital estava cercada por riachos com encostas íngremes e, do outro, por muros de alvenaria construídos para impedir invasores. Mas essa proteção não era sempre efetiva: em um dos monumentos havia inscrições que indicavam que pelo menos uma parte da cidade foi incendiada durante um conflito com reinos vizinhos.
De fato, Sak Tz’i’ teve a infelicidade de estar cercada por estados mais poderosos — o que significava guerras constantes ou, no mínimo, a iminência de batalhas violentas a qualquer momento. Segundo Charles Golden, antropólogo que liderou a pesquisa, a sobrevivência dessa sociedade por tantos anos diz muito sobre seu poderio militar e sua capacidade diplomática, algo especialmente interessante para os historiadores.
A tábua
Apesar dos diversos artefatos e destroços encontrados, a tábua que foi apresentada a Whittaker no início das pesquisas tem particular importância. O artefato mede 60 centímetros de largura por 1,2 metro de comprimento e tem inscrições que remetem a mitologia maia.
Além disso, no objeto, há escritos sobre os governantes da região. De acordo com os historiadores, esse entrelaçamento do mito com a realidade era típico daquele povo e tinha um significado especial para escribas e leitores da época.
Nesse objeto em particular, um membro da realeza foi retratado abaixo da tábua dançando, vestido como Yopaat, o deus responsável pelas violentas tempestades tropicais que atingiam a região. A figura ainda carrega um machado, que representa o raio da tempestade, em sua mão direita. Enquanto isso, na esquerda ele segura uma “manopla”, luva de pedra usada em combates ritualísticos.
Próximos passos
No México, todo o patrimônio cultural, como os antigos sítios maias, é considerado propriedade do Estado. Por isso,o dono da fazenda tinha medo de que as terras fossem confiscadas pelo governo — o que não aconteceu. Agora, Golden, Scherer e o restante da equipe esperam conseguir permissão do governo mexicano e da comunidade local para retomarem as escavações em Sak Tz’i’ ainda em 2020.
O intuito é continuar mapeando a cidade usando uma técnica chamada LIDAR, na qual um localizador a laser sobrevoa o sítio arqueológico com intuito de analisar a arquitetura e a topografia da área. A equipe espera que dessa forma consigam fazer novas descobertas, algumas das quais ajudarão na preservação da antiga capital maia.
Para isso os historiadores esperam poder contar com a ajuda da população local. “Para ser verdadeiramente bem-sucedida, a pesquisa precisará ter novos entendimentos dos antigos maias, colaborando significativamente com seus descendentes modernos”, afirmou Golden em comunicado.