Presidente iraniano, Hassan Rouhani, fez o anúncio nesta terça (5). Ele não especificou, entretanto, se as máquinas vão produzir urânio enriquecido. Conforme o acordo nuclear de 2015, as centrífugas, que ficam em Fordo, deveriam ficar vazias. Este é o quarto descumprimento do acordo nuclear anunciado por Teerã; medida ocorre um dia após nova rodada de sanções americanas
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, anunciou nesta terça-feira (5/11) que o país vai começar, na quarta (6), a injetar gás de urânio em 1.044 centrífugas que antes estavam vazias, conforme previsto pelo acordo nuclear firmado em 2015. As máquinas ficam em Fordo, cerca de 180km ao sul de Teerã.
“A partir de amanhã [quarta-feira], começaremos a injetar gás (urânio em estado gasoso) em Fordo”, declarou Rouhani, em referência ao procedimento utilizado para produzir urânio enriquecido em isótopo 235 a partir destas máquinas.
Uma centrífuga enriquece o urânio girando rapidamente o gás hexafluoreto de urânio. Rouhani não especificou, entretanto, se as máquinas vão produzir urânio enriquecido.
Ainda assim, o anúncio de Rouhani significa que a instalação nuclear na cidade, que fica em meio a montanhas, vai novamente se tornar um centro atômico ativo em vez de um centro de pesquisa, como previsto no acordo de Viena, de quatro anos atrás. A existência das usinas em Fordo só veio a público há dez anos.
As máquinas de Fordo são do tipo IR-1, de primeira geração. Conforme o trato de 2015, o Irã somente tinha autorização para manter ativas as centrífugas desse tipo em Natanz, cerca de 315km ao sul de Teerã.
Em mais violações do acordo de 2015, o país anunciou, na segunda-feira (4/11), que estava operando 60 centrífugas avançadas do tipo IR-6, capaz de produzir urânio enriquecido dez vezes mais rápido que os aparelhos IR-1. O chefe do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi, disse, ainda, que os iranianos trabalham em protótipos de uma outra centrífuga, a IR-9, ainda mais avançada que as IR-6.
Esta é a “quarta etapa” do plano de redução de compromissos na área nuclear iniciado em maio, em resposta à saída do governo dos Estados Unidos do acordo de Viena em 2018, indicou o presidente iraniano.
Rouhani afirmou que as atividades nucleares em Fordo continuarão sob controle da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), assim como as demais atividades nucleares iranianas, submetidas ao regime de inspeção mais rígido implementado por este organismo da ONU.
Preocupação internacional
A Rússia disse estar preocupada com a intenção iraniana de continuar a reduzir seus compromissos com o acordo de 2015, e que gostaria que o trato continuasse em vigor. A França também pediu que o país revertesse as últimas decisões para diminuir seus compromissos.
“O anúncio do Irã no dia 5 de novembro para aumentar sua capacidade de enriquecimento vai contra o acordo de Viena, que limita estritamente as atividades nessa área”, declarou a porta-voz do ministério de Relações Exteriores da França, Agnès von der Muhll. “Estamos aguardando o próximo relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre os anúncios e as ações do Irã”, disse.
Von der Muhll também disse que a França continua compromissada com o acordo e pediu ao Irã que aderisse de forma “completa” a suas obrigações, e que “coopere de forma plena com a AIEA”.
Aviso prévio
O anúncio não é uma surpresa, pois na segunda-feira (4) chegou ao fim um novo prazo de 60 dias que o Irã havia anunciado a seus sócios no acordo para ajudar o país a evitar as sanções restabelecidas pelos Estados Unidos.
O presidente iraniano apresentou um novo prazo de dois meses aos Estados signatários do acordo de Viena (Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha) para uma resposta aos pedidos do Irã. Caso isto não aconteça, o país reduzirá ainda mais seus compromissos.
Com o acordo, Teerã aceitou reduzir drasticamente suas atividades nucleares – para garantir seu caráter exclusivamente civil – em troca de uma suspensão das sanções internacionais que asfixiam sua economia.
A retirada dos Estados Unidos e a política de “pressão máxima” do governo do presidente Donald Trump contra Teerã privam o Irã dos benefícios econômicos que esperava obter com o acordo.
O Irã afirma que deseja a sobrevivência do acordo a está disposta a voltar a aplicar completamente seus compromissos, desde que as outras partes respeitem os próprios compromissos, adotando medidas concretas para responder a seus pedidos e permitindo especialmente a exportação do petróleo iraniano.