Inpe diz que óleo pode atingir o litoral do Espírito Santo e do Rio

Estudo entregue nesta sexta-feira (1°) ao comitê de crise aponta que manchas de óleo podem estar ‘represadas’ em alto mar e sendo arrastadas por correntes marítimas, podendo chegar a outros estados. Inpe afirma que atua para detectar movimentação e indicar locais com óleo.

Por Veja e G1.

Mancha de óleo vista no litoral de Maragogi no dia 17 de outubro — Foto: Diego Nigro/Reuters

Convidado pela Marinha há uma semana para colaborar com as investigações sobre o derramamento de óleo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) possui tecnologia que permite estimar o caminho que as manchas de óleo podem percorrer nos próximos dias. Isso abre a possibilidade de tentar contê-lo antes de chegar às praias.

O relatório foi entregue pelo grupo de estudo à Marinha na tarde desta sexta-feira (1°).

Especialista em monitoramento por satélite, o Inpe confirma o que vem sendo dito pelo governo federal, de que não tem sido possível ver por satélite o óleo se deslocando. O oceanógrafo Ronald Buss de Souza, interinamente como vice-diretor do Inpe, afirma que foram checadas as imagens disponíveis – e referentes às áreas mais próximas da costa – e não foram detectadas as manchas. Isso corrobora a ideia de que o deslocamento se dá na subsuperfície.

A partir de agora, o órgão vai fazer um direcionamento específico do satélite CBERS para obter imagens de alto-mar em áreas específicas. Além disso, o núcleo de oceanografia consegue analisar, a partir de dados de ventos e correntes marítimas, para onde o óleo pode estar indo – podendo chegar ao Espírito Santo e ao Rio. “O ponto é que existe mais óleo para vir e podemos mostrar onde está, antes que chegue às praias.”

“A hipótese do Inpe é de que há óleo em oceano aberto e que pode chegar até a costa de outros estados do país, incluindo o sudeste”, disse em entrevista coletiva.

MARAGOGI, AL, 17.10.2019 – Vista da praia Ponta do Mangue, na cidade de Maragogi, no estado de Alagoas, uma das 166 praias das 72 cidades do nordeste brasileiro impactadas pelas manchas de petróleo cru estrangeiro. (Carlos Ezequiel Vannoni/Agência Pixel Press/Folhapress)

Apesar disso, o oceanógrafo classificou como remota a possibilidade do óleo chegar a São Paulo por causa de características geográficas da costa brasileira.

“A corrente original fica muito mais longe da costa [de São Paulo] do que de Cabo Frio para cima. É uma proteção natural”, explicou.

“Estamos mapeando com o satélite essas áreas predeterminadas e desenhando mapas para que os navios de pesquisa possam ir a esses locais e identificar se há uma massa de óleo e então retirar isso”, explicou.

O primeiro passo foi analisar a imagem que mostrava uma mancha que poderia ser a fonte do óleo. As imagens foram confrontadas por radares e pesquisadores do instituto descobriram se tratar de um aglomerado de algas, e não uma massa de óleo.

Depois disso, eles passaram a estudar o curso do óleo, tendo como base as chegadas ao litoral para tentar chegar a resposta de onde ele poderia estar vindo. Ronald explica que a proporção é mais complexa, porque há possibilidade de que haja muito mais óleo do que se imagina. O resíduo tem chegado em partes separadas em praias do nordeste e em áreas da costa diferentes.

O oceanógrafo explica que isso acontece porque o óleo está em textura plástica, pela ação do tempo, e aglomerado em vórtices – pedaços de água desprendidos da corrente e que giram. Em seu movimento, é como se criassem bolhas de óleo e, em vórtices, caminham de maneira diferente do restante da água.

Para chegar ao resultado eles usaram imagens do Cbers-4 e de outros satélites observando o comportamento da área e das correntes marítimas dos últimos 60 dias.

A resposta, segundo Ronald, é um alerta de que pode haver muito mais óleo represado, mas também trazer uma resposta sobre a forma de conter a chegada das manchas às praias.

O relatório enviado pelo Inpe ao comitê nesta sexta é resultado de um trabalho de uma semana, com o tipo de cooperação que o pesquisador chamou de ‘informal’, por não estarem diretamente ligados ao comitê.

Questionado pela reportagem sobre a possibilidade de um contato tardio com a instituição, uma das referências em monitoramento e pesquisa no país, o pesquisador disse que o governo talvez não reconhecesse a área de oceanografia da instituição como a mais preparada para o caso.

Oceanógrafo do Inpe afirma que óleo pode chegar ao ES e RJ — Foto: Poliana Casemiro/ G1

Navio suspeito e multa

A Polícia Federal estima que 2,5 mil toneladas de óleo foram derramados no litoral nordestino. Ainda não se sabe, entretanto, se houve um acidente ou vazamento do navio.

O petroleiro grego suspeito de derramar o óleo que causou o maior desastre ambiental já registrado na costa brasileira se chama Bouboulina. Ele carregou 1 milhão de barris do petróleo tipo Merey 16 cru no Porto de José, na Venezuela, no dia 15 de julho. Zarpou no dia 18 com destino à Malásia.

As informações sobre os detalhes do navio Bouboulina, sua carga e trajetória foram fornecidos pela agência de geointeligência Kpler, a pedido do G1, com base nos dados da Operação Mácula, desencadeada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (1º). A embarcação Bouboulina passou a oeste da Paraíba em 28 de julho, segundo um porta-voz da agência.

As investigações do governo brasileiro apontam que a primeira mancha no oceano foi registrada em 29 de julho, a 733 km da costa da Paraíba. As primeiras praias do país afetadas foram no município paraibano de Conde em 30 de agosto.

O navio Bouboulina e a empresa grega dona da embarcação foram citados na decisão judicial que autorizou o pedido de busca e apreensão em escritórios no Rio de Janeiro. De acordo com os investigadores, 2,5 mil toneladas de óleo foram derramadas no oceano.

A proprietária do navio é a Delta Tankers, fundada em 2006, mesmo ano de fabricação do navio. A empresa Delta Tankers declarou que as autoridades brasileiras que investigam o derramamento de petróleo no litoral nordestino não a procuraram, segundo a agência de notícias Reuters.

A Delta Tankers pode ser condenada a pagar multa de até 50 milhões de reais aos órgãos ambientais brasileiros por crime ambiental.

Além disso, pode ter de indenizar todos os trabalhadores afetados pela sujeira, incluindo pescadores e donos de pousadas, de acordo com o prejuízo de cada um, e os governos federal, estaduais e municipais, conforme o gasto que tiveram com a operação de contenção e recolhimento do óleo, segundo advogados consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O valor total que pode ser cobrado da empresa, portanto, ainda é impossível de calcular, porque os prejuízos vêm aumentando. “Esse tipo de acidente envolve tanto o Direito Ambiental como o Direito Marítimo, cujas regras acabam se entrelaçando, e o foco principal é o prejuízo ambiental. Os processos devem tramitar na Justiça Federal, e cabe à empresa acusada a responsabilidade de provar que não foi ela.”

“Claro que a investigação precisa apontar algum nexo causal, como por exemplo a constatação de que esse navio foi o único que transportava petróleo e passou pela região atingida, em datas compatíveis. Apontada essa ligação, o ônus da prova passa aos acusados, a quem caberá demonstrar que não foram eles os responsáveis pelo acidente”, afirma Flávia Limmer, professora de Direito Ambiental e Direito do Petróleo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Bouboulina, navio petroleiro operado por empresa grega suspeito de derramar o óleo que atinge o Nordeste, segundo a PF — Foto: Carlos Vadir Góñiz Fariñas/Arquivo pessoal


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