Reynaldo Gianecchini: ‘Já tive, sim, romances com homens’

Em sua cobertura no Rio, ator fala sobre trabalho, amor, repressão, liberdade, machismo, sedução e que sua sexualidade ‘não cabe numa gaveta’: ‘O desejo para mim não passa pelo gênero e nem pela idade’.

Por O Globo; Veja.

Reynaldo Gianecchini abriu suas portas para ser entrevistado por Ruth de Aquino

Em entrevista ao jornal O Globo de hoje, 29/09, o ator Reynaldo Gianechinni, aos 46 anos, falou sobre trabalho (“Quem faz novela é capaz de fazer de tudo”), sexo (“Reconheço em mim o homem, a mulher, o eterno, o gay, o bi, a criança e o velho”) e a passagem do tempo (“Envelhecer está sendo interessante. Não tenho mais esse frescor e as pessoas olham mais o meu trabalho”

Veja os trechos da conversa que Ruth de Aquino teve com ele para Revista Ela:

Reynaldo Gianecchini Foto: Cristiano Madureira

Novela

“Foram me ver numa peça e me chamaram para fazer teste para novela. Eu detestava novela naquela época. Falei, cara, não quero, eu achei que ia ficar eternamente no teatro. Mas me convenceram dizendo, é a sua cara, um menino jovem que se apaixona por uma mulher mais velha. E era a Vera Fischer, eu tinha crescido vendo a Vera Fischer, nossa, ela era uma musa pra mim.”

Ingenuidade

“Sou de Birigui, né, amore, interior tem uma ingenuidade. Até hoje meus amigos falam ‘para de ser Birigui’. Eu caio numas ciladas. Hoje estou mais cascudo, mas tenho tendência a acreditar muito na pessoa, tenho dificuldade com quem não tem compromisso. Se eu marcar um, posso até não ir. Mas vou ligar e explicar. No Rio, as pessoas não só não aparecem, como desligam o celular, não dão notícia.”

Reynaldo Gianecchini Foto: Cristiano Madureira

Espiritualidade

“Tenho uma coisa com o esotérico. Acredito em energia, medito todos os dias, gosto de pegar em cristais. Mas não quero mais líderes espirituais. Hoje, acredito mais na intuição”.

Meditação

Não quero dizer que eu sento e levito. Tem dia que meditar nos leva a um lugar muito forte de uma conexão com a gente mesmo e com a natureza. Tem dia que é mais difícil. Mas não saio de casa enquanto não acalmar a mente e estabelecer o que quero para o meu dia. Ser flexível, disponível. Quero que meu trabalho flua. E que minhas relações sejam maravilhosas.

Reynaldo Gianecchini Foto: Cristiano Madureira

O caso da Bienal

Foi maravilhoso porque reverteu. Aconteceu o oposto. A repressão vendeu muito mais livros. Fiquei chocado com os fiscais. Primeiro, dá raiva e indignação. Tenho seis planetas em Libra, então o que está errado e é injusto me fere. Sempre achei o Brasil reacionário, mas temos uma força pulsante capaz de transformar até a ignorância.

Sexualidade

Todo mundo fala da minha sexualidade, né? Me cobram muito, “quando é que você vai sair do armário?”. Primeiro, quero falar para essas pessoas: antes de você achar tão interessante a sexualidade dos outros, dá uma olhadinha na sua. Talvez ela tenha mais nuances do que você pensa. Eu reconheço todas as partes dentro de mim: o homem, a mulher, o gay, o hétero, o bissexual, a criança e o velho. Como dentro de todo mundo. A sexualidade é muito mais ampla e as pessoas são levianas. Querem te encaixar numa gaveta, e eu não consigo, porque a sexualidade é o canal da vida e a minha sexualidade não cabe numa gaveta. Nossas questões e tabus passam por esse canal. Não é à toa que cada um tem seus fetiches, suas particularidades. E não tenho vontade de falar com quem estou transando, não preciso falar. Prezo minha liberdade de não citar nomes e proteger minha privacidade. Já tive, sim, romances com homens e acho que é esse o momento de dizer isso. Mas nunca me senti obrigado a empunhar bandeira de homossexualidade. O desejo para mim não passa pelo gênero e nem pela idade. Demorei para falar porque isso esbarra sempre no tamanho do preconceito no Brasil. Mas agora é importante reafirmar a liberdade, por mim e por quem enfrenta repressão.

Reynaldo Gianecchini Foto: Cristiano Madureira

Caso José Mayer

Acho que foi injusta essa história. Eu estava na novela junto com o Zé e duvido que ele tenha sido agressivo, passando do ponto no assédio. Há diferenças entre assédio e cantadas. Hoje enxergo uma comoção que não contribui para a verdade. A luta pelos direitos das mulheres às vezes atropela. Eu fiquei bastante comovido. O Zé Mayer é um puta artista e foi massacrado, sumiu, fechou-se em casa, não quer fazer nada. Houve um exagero com ele.

Machismo

Todos têm que rever seu papel, o homem e a mulher. Tem mulher que se diz feminista e quer muito o poder, quer ocupar, com razão, o lugar que lhe negaram. Só que acaba adotando o masculino distorcido, o lado ruim do homem, da agressividade. Eu sou um homem feminista porque reconheço que é preciso ter igualdade de oportunidade para ontem. Mas, além de homem perdido, tem muita mulher perdida também. Tem feminista que ainda quer que o homem seja o provedor, o romântico que a trata como mulherzinha.

Reynaldo Gianecchini Foto: Cristiano Madureira


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