Por Gizmodo e DN_Insider.
A corrida pela computação quântica já é realidade. Grandes empresas, como o Google, IBM, Microsoft e Intel, além de startups de tecnologia, estão trabalhando para construir computadores quânticos, um novo tipo de computador baseado em uma arquitetura totalmente diferente da dos computadores clássicos.
Um artigo atribuído a um pesquisador do Google afirma que a supremacia quântica, um importante marco inicial no campo da computação quântica, foi atingida. A publicação surgiu em um site da NASA nesta semana e logo depois foi removida, segundo o Financial Times.
Embora este anúncio não seja oficial, há muito tempo cientistas e especialistas do setor esperam que o Google construa um computador quântico capaz de atingir esse marco. A chamada supremacia quântica se refere à capacidade de um computador quântico executar um cálculo que um supercomputador clássico não conseguiria realizar em um tempo razoável.
Em síntese, os computadores clássicos abstraem problemas para um sistema de comutadores de apenas duas posições chamados bits (uns e zeros) que interagem pelas regras da lógica. Computadores quânticos se baseiam em bits quânticos, conhecidos como qubits, que também são comutadores de apenas duas posições, mas interagem pelas das mesmas regras da mecânica quântica e fenômenos das partículas subatômicas, como o entrelaçamento, através do qual os qubits podem influenciar outros aos quais nem sequer estão conectados.
Essa arquitetura quântica teoricamente permitiria que computadores quânticos resolvessem um conjunto de problemas que os computadores clássicos não conseguem em um período de tempo razoável — coisas como problemas de criptografia e modelagem de moléculas. Mas a dificuldade em manter o comportamento quântico dos qubits por um período utilizável, também chamado de tempo de coerência, impediu os pesquisadores de demonstrar qualquer tipo de aceleração quântica.
O relato do Financial Times diz ter visto uma publicação do Google que dizia que o processador quântico da empresa é capaz de realizar um cálculo “em três minutos e 20 segundos que levaria, com o computador clássico mais avançado de hoje, conhecido como Summit, aproximadamente 10.000 anos”. Esta seria uma demonstração da supremacia quântica.
A conquista não seria uma surpresa — sabemos há muito tempo que o Google está testando um dispositivo de 72 qubit chamado Bristlecone, com o qual esperava alcançar a supremacia quântica. O Financial Times relata que o experimento de supremacia foi realizado com um processador de 53 qubit, de codinome Sycamore.
Este seria um grande marco inicial quando se trata de comparar esses dispositivos quânticos com computadores clássicos. Mas ainda falta muito para que os computadores quânticos realmente demonstrem utilidade quântica. Isso exigiria aumentar o tempo de coerência e introduzir esquemas de correção de erros, aqueles em que vários qubits são combinados em um, a fim de garantir que o computador quântico dê as respostas que deve dar.
“A recente publicação do Google sobre a conquista da supremacia quântica é um marco histórico notável, à medida que continuamos avançando no potencial da computação quântica. Conseguir um computador quântico comercialmente viável exigirá avanços em vários pilares da tecnologia”, disse James G Clarke, diretor de hardware quântico da Intel, ao Gizmodo por e-mail.
É possível que os cientistas nem aceitem o anúncio do Google como válido. Aliás, se um supercomputador leva 10.000 anos para verificar a resposta produzida por um computador quântico, como você sabe que o computador quântico conseguiu chegar à resposta certa?
IBM reage e desvaloriza descoberta
Entretanto, as reações da IBM, que tem sido pioneira na área da computação quântica, não se fez esperar. A alegação da Google é “indefensável – e simplesmente errado”, explicou ao Financial Times Dario Gil, chefe de investigação da IBM.
Apesar de elogiar a Google pelos avanços conseguidos, desvaloriza a alegação de que este é um momento chave e “grandioso” para a computação. A pesquisa conseguida é apenas “um experiência de laboratório projetada para implementar essencialmente – e quase certamente exclusivamente – um procedimento de amostragem quântica muito específico, sem aplicações práticas”, explicou o especialista.
Mas há outros na área que estão dispostos a valorizar a investigação da Google. Chad Rigetti, um ex-executivo da IBM que agora lidera outra empresa de computação quântica admite: “É muito importante para a indústria atingir esse marco. É um grande momento para os seres humanos e para a ciência.”
A expressão supremacia quântica continua a provocar alguma controvérsia no mundo da computação. O termo foi usado pela primeira vez em 2012 pelo físico teórico John Preskill. E o que significa? Diz respeita ao momento em que um sistema construído usando a nova tecnologia quântica pode resolver um problema que, para todos os efeitos práticos, é impossível ser resolvido pelo supercomputadores mais poderosos.