As ossadas de 1,6 mil anos ficaram famosas por mostrarem duas pessoas enterradas de mãos dadas. A dupla viveu ao norte da Itália.
Matéria da Super Interessante e da Galileu.
Quando duas ossadas foram encontradas em 2009 na comuna de Modena, no norte da Itália, em um sítio arqueológico, a tecnologia não era suficiente para desvendar detalhes sobre as características do casal. Os responsáveis pela descoberta ficaram surpresos ao notar que os esqueletos tinham sido enterrados na mesma cova, e de mãos dadas. Na época, a mídia e os pesquisadores presumiram que se tratavam de um homem e uma mulher. O nome “Amantes de Modena” pegou quase que imediatamente – e mesmo quem não acompanha de perto as novidades da arqueologia acabou conhecendo as ossadas.
Foi só agora, porém, que os cientistas conseguiram concluir investigações capazes de terminar sexo de cada uma das pessoas enterrada em Modena. E surpresa: o resultado da pesquisa, publicada na Nature, revelou que as ossadas de 1,6 mil anos são pertencentes a dois homens.
Segundo os especialistas, duplas de esqueletos enterrados de mãos dadas, ou mesmo abraçadas, não são novidades e já foram observadas em países como Grécia, Turquia e Rússia. Há pelo menos meia dúzia de outros exemplos de adultos enterrados com as mãos entrelaçadas, remontando aos tempos neolíticos 8.000 anos atrás, mas acredita-se que todos eram casais de homens e mulheres.
“O enterro de dois homens de mãos dadas certamente não era uma prática comum na Antiguidade tardia”, explicou Federico Lugli, um dos pesquisadores, à rede italiana RAI. “Acreditamos que essa escolha simboliza uma relação particular existente entre os dois indivíduos, mas não sabemos qual tipo”.
Como contou Lugli, a chance da dupla ser um casal homossexual é muito pequena. “Como os dois indivíduos têm idades semelhantes, eles podem ser parentes, como irmãos ou primos. Ou soldados que morreram juntos em batalha: a necrópole em que foram encontrados poderia ser um cemitério de guerra”, disse o especialista.
“Embora não possamos excluir que esses dois indivíduos estivessem realmente apaixonados, é improvável que as pessoas que os enterraram tenham decidido demonstrar esse vínculo posicionando seus corpos de mãos dadas”, concluíram os pesquisadores.
“A descoberta de dois homens adultos intencionalmente enterrados de mãos dadas pode ter implicações profundas no nosso entendimento das práticas funerárias na Itália Antiga”, disseram os pesquisadores.
Resposta nos dentes
Os esqueletos estavam não estavam muito bem conservados quando foram descobertos, impossibilitando que os arqueólogos fizessem uma análise genética profunda para determinar o sexo do casal. Até que um grupo de pesquisa da Universidade de Bolonha teve uma ideia diferentes, e chegou no resultado usando uma nova técnica de análise desenvolvida por eles, baseada em duas proteínas presentes no esmalte dos dentes.
Foi só quando os arqueólogos resolveram investigar os restos mortais com uma nova técnica baseada na análise do esmalte dental dos cadáveres, que a resposta veio à tona. Segundo os especialistas, duas proteínas específicas podem existir nos dentes: a AMELX, presente em indivíduos de ambos os sexos, e a AMELY, presente apenas em indivíduos do sexo masculino.
Para Antonino Vazzana, pesquisador da Universidade de Bolonha, o sucesso do método de análise representa uma revolução nesse tipo de estudo. “Essa técnica pode ser decisiva para a paleoantropologia, a bioarqueologia e até a antropologia forense em todos os casos em que o mau estado de conservação dos restos mortais ou a pouca idade dos indivíduos torna impossível determinar o sexo”, afirmou.