Lethocerus: A barata-d’água gigante que pode comer tartarugas, patinhos e até cobras

Lethocerus é um gênero da família Belostomatidae hemiptera, popularmente conhecido como barata-d’água. Perto delas aquela sua baratinha do banheiro vai parecer um animal de estimação. Um novo estudo, que compila décadas de pesquisa, revela mais informações desse incrível predador aquático.

Fonte: Wikipedia; National Geographic Brasil; Greenme; G1.

 Lethocerus comendo um peixe
Lethocerus comendo um peixe

Lethocerus é um gênero da família Belostomatidae hemiptera, conhecido coloquialmente como insetos aquáticos gigantes, distribuídos em regiões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo. A maior diversidade de espécies ocorre nas Américas , com apenas uma única espécie na Europa, duas na África, duas na Austrália e três na Ásia. Inclui os maiores insetos com espécies capazes de atingir um comprimento de mais de 12 centímetros (4,7 pol).

Baratas-d’água gigantes são predadoras vorazes que se alimentam de tudo, de patinhos a cobras venenosas. São “o tipo de predador que fica à espreita,” diz Charles Swart, professor universitário da Trinity College em Connecticut, que estuda baratas-d’água gigantes. “Elas ficam posicionadas, segurando-se em uma planta na água e pegam tudo que se move à sua frente, tentando devorá-los”.

A pesquisa, publicada no periódico Entomological Science, analisa mais a fundo a ecologia das baratas-d’água, encontradas em quase todo o mundo, com cerca de 150 espécies conhecidas. As maiores, Lethocerus grandis Lethocerus maximus, vivem na América do Sul e podem chegar a mais de dez centímetros.

O autor do estudo Shin-ya Ohba, professor adjunto de entomologia da Universidade de Nagasaki, no Japão, é fascinado por insetos desde a primeira vez em que viu um deles em uma pet shop, aos sete anos de idade.

“Entomologistas japoneses gostam das baratas-d’água gigantes porque elas têm uma morfologia interessante”, conta ele: suas patas dianteiras, por exemplo, o fazem lembrar dos braços do Popeye.

Lethocerus indicus.

Cardápio variado

Para seu estudo, Ohba leu artigos anteriores sobre baratas-d’água, muitas das quais ele havia pesquisado no Japão, onde as quatro espécies nativas, incluindo a bastante estudada Kirkaldyia deyrolli, são predadoras do topo da cadeia em campos de arroz e áreas alagadas.

Todos os artigos apresentavam um tema recorrente: esses insetos parecem ser praticamente destemidos durante a predação. Por exemplo, em 2011, em um texto publicado na revista científica Entomological Science, Ohba descreve a sua observação de um Kirkaldyia deyrolli comendo um filhote de tartaruga em um fosso próximo a uma plantação de arroz.

Usando as suas patas dianteiras, a barata-d’água agarrou a tartaruga, enfiando o seu bico semelhante a uma seringa no pescoço da presa para poder se alimentar. Anteriormente, Ohba já havia fotografado estes insetos comendo cobras.

Barata-d’água Gigante (Lethocerus) comendo uma tartaruga

Apesar de seu tamanho, esses bichinhos amarronzados se confundem com as plantas às quais se prendem e ficam de ponta cabeça para que consigam respirar por meio de uma espécie de “esnórquel” que sai de seu traseiro. Elas respiram o oxigênio do ar, mas se acomodam nas plantas aquáticas e o fazem “mergulhando” através de uma espécie de bocal colocado nas costas. Desta forma, elas esperam pacientemente por suas presas, que atacam assim que elas estiverem suficientemente perto.

Assim que a presa entra em uma área de alcance, os predadores rapidamente fecham as patas dianteiras e agarram a criatura com as outras patas. Em seguida, perfuram a presa com um probóscide parecido com um punhal, injetando enzimas e possivelmente substâncias químicas anestésicas.

“Todo mundo pensa que os insetos da subfamília Lethocerinae vivem de peixes e sapos. Embora comer tartarugas e cobras seja raro em condições naturais, (esta evidência) surpreende os naturalistas (por mostrar) hábitos alimentares vorazes”, disse Ohba.

Veja aqui um vídeo de um Lethocerus comendo um peixe.

Swart, que não participou do estudo, destaca que a composição das toxinas da barata-d’água ainda não está bem clara, nem se são realmente venenosas.

“Decompõem o tecido e, em seguida, o sugam”, conta ele, e acrescenta que em presas maiores, o processo pode levar algumas horas e é possível que a vítima ainda esteja viva durante parte desse período.

Swart acrescenta que a nova pesquisa é uma “análise realmente abrangente de tudo que se sabe sobre elas.”

Barata-d’água Gigante (Lethocerus) comendo uma cobra

Mães infanticidas

Baratas-d’água gigantes estão entre os insetos incomuns nos quais os machos são os principais responsáveis pelo cuidado dos ovos.

Em algumas espécies, machos protegem as postas, até cinco de uma vez só, de predadores, como formigas. Em outras, as fêmeas colam seus ovos diretamente nas costas dos machos, e eles os carregam por aí até eclodirem em ninfas.

O estudo de Ohba também destaca que, em algumas espécies, como K. deyrolli, as fêmeas estão tão dispostas a encontrarem um parceiro que comam os ovos de outras fêmeas.

“Ao destruir os ovos da concorrente, uma fêmea pode copular com o parceiro da outra e se certificar de que o macho tome conta de seus ovos”, explica Ohba.

Lethocerus americanus da família Belostomatidae carregando os ovos. Foto: Bio

Além disso, as ninfas de baratas-d’água, cujo ciclo de vida dura até 60 dias, precisam ser tão valentes quanto os adultos. Na maioria das espécies, elas eclodem em uma estação em que presas menores são menos abundantes, forçando-as a procurar presas aparentemente impossíveis, como girinos ou peixes pequenos.

De acordo com Ohba, as “armas” das ninfas são suas patas dianteiras bastante curvas, o que as ajuda a agarrar a presa mais facilmente.

No entanto, Swart acrescenta que o mundo também dá voltas na cadeia alimentar, pois as baratas-d’água gigantes acabam virando presas de peixes maiores, patos e, possivelmente guaxinins ou tartarugas. No Sudeste da Ásia algumas pessoas também as comem fritas ou cozidas.

No Sudeste da Ásia algumas pessoas comem insetos fritos ou cozidos.

Espécie ameaçada

Os Kirkaldyia deyrolli são nativos do Japão, onde são encontrados vivendo em plantações de arroz, se alimentando principalmente de pequenos peixes e sapos.

A espécie é considerada ameaçada pela Agência Ambiental Japonesa depois de reduções significativas em sua população nos últimos 40 anos, supostamente devido à perda de habitat e à poluição da água.

Por que precisamos de insetos gigantes

Por mais assustadoras que as baratas-d’água possam parecer, seus status de predadores no topo da cadeia alimentar significa que são importantes para manter o ecossistema equilibrado.

A poluição da água pode prejudicar suas populações, além disso, espécies invasoras, como lagostins e rãs-touro, podem caçar as baratas-d’água.

Isso significa que os cientistas deveriam focar seus esforços a fim de garantir água doce limpa e sem invasores para essas espécies fundamentais, diz Ohba.

“Podemos conservar ecossistemas inteiros por meio da conservação de baratas-d’água gigantes”.

Lethocerus-delpontei


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.