Prefeito de Dallas também havia dito anteriormente ‘discordar fortemente’ de Bolsonaro, mas ‘respeitar povo brasileiro’
“Se eu não posso ser bem recebido em Nova York, seremos no Texas.” Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro anunciou a deputados federais, nesta semana, que viajaria a Dallas para receber uma homenagem agendada anteriormente para ocorrer em Nova York – a participação ali foi cancelada após críticas feitas a Bolsonaro pelo prefeito da cidade, Bill de Blasio. A mudança de endereço, no entanto, não será acompanhada de elogios do prefeito local. Em manifestação enviada ao Estado, por meio de nota, Mike Rawlings afirmou que “discorda fortemente de algumas das posições declaradas do presidente Bolsonaro”.
Metade dos 14 vereadores de Dallas assinou, na tarde desta terça-feira (14/05), uma carta contra a visita do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, à cidade. Os conselheiros municipais, como são chamados nos Estados Unidos, criticam as posições do presidente brasileiro em temas como os direitos de grupos LGBT, índios e negros. As razões são semelhantes às que levaram o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, a afirmar que Bolsonaro não seria bem recebido na maior cidade americana.
A carta afirma que receber Bolsonaro em Dallas gera um “profundo desapontamento” com o World Affairs Council of Dallas, onde o Bolsonaro receberá, na quinta-feira, homenagem da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, que o escolheu como “Personalidade do Ano”. A premiação ocorrerá em jantar de gala na noite desta terça-feira em Nova York, mas Bolsonaro cancelou sua participação depois do posicionamento do prefeito e de protestos.
Segundo os vereadores, isso é “providenciar ao presidente Bolsonaro uma plataforma para um evento que perigosamente normaliza seu autoritarismo e mostra apoio tácito a seus atos discriminatórios, palavras e posições políticas”, afirmam na carta.
O principal articulador desta carta foi o vereador Scott Griggs. Considerado mais à esquerda que a média do Partido Democrata na cidade, ele busca a eleição para prefeito de Dallas. E a visita do presidente brasileiro entrou na disputa. Griggs tem usado politicamente o fato de seu principal oponente, o também democrata Eric Johnson, não ter condenado a visita de Bolsonaro, adotando a mesma posição do atual prefeito, Mike Rawlings, que afirmou discordar de Bolsonaro, mas que não se oporia à visita de um líder democraticamente eleito.
Na semana passada, Bolsonaro acusou de Blasio de ter se comportado “como um radical” ao se manifestar contra sua presença em Nova York e respondeu ao prefeito que “se não posso ser bem recebido em Nova York, seremos no Texas”. Após o episódio, o presidente brasileiro recebeu a solidariedade do vice Hamilton Mourão e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que criticaram a postura de Blasio.
Grupos pró e contra Bolsonaro organizam uma série de manifestações durante os dois dias de agenda do presidente na cidade. Brasileiros que moram na região e apoiam Bolsonaro se organizam, sobretudo em redes sociais, para elaborar cartazes e camisetas. Por outro lado, 15 organizações não governamentais, de índios, negros, gays, sindicatos e ambientalistas, preparam protestos contra. A maior parte do grupo contrário ao presidente brasileiro é formada exclusivamente de americanos — há informações de apenas um brasileiro entre os organizadores dos protestos.