Cartaz em Universidade de Lisboa convocava estudantes portugueses a jogar pedras nos brasileiros.

Alunos brasileiros protestam contra xenofobia e racismo. Associação acadêmica assumiu a autoria e disse que era uma brincadeira.

Fontes: G1; Pragmatismo Político.

Faculdade de Direito de Lisboa

Na Faculdade de Direito, em Lisboa, é época de eleições para a associação acadêmica. Cada chapa procura atrair o maior número de alunos. Entre folhetos, brindes e comida, um cartaz e uma caixa chamaram a atenção de quem passava: “Oferta de pedras para serem atiradas em zuca” – termo utilizado por muitos portugueses para chamar os brasileiros que vivem em Lisboa.

“Estamos falando de uma violência sugestiva, está sugerindo que as pessoas podem praticar violência e isso de fato causa perplexidade e não só ver a caixa, mas por ver pessoas chorando, pessoas que ficam com medo de verdade”, disse o estudante brasileiro Cláudio Cardona.

O ato viralizou nas redes sociais entre alunos brasileiros, como uma demonstração de xenofobia e incitação à violência. O cartaz demonstrava uma insatisfação com a admissão de alunos estrangeiros.

A atitude xenofóbica e de incitação à violência foi atribuída ao grupo Tertúlia, que compete na eleição para a Associação Acadêmica da faculdade, e que é conhecido por seu humor áspero e sátiras controversas, e afirmou que era uma brincadeira . Gerou imediata reação dos mestrandos brasileiros, que exigiram da diretoria da instituição medidas punitivas. A Universidade de Lisboa decidiu abrir um processo disciplinar para apurar a responsabilidade sobre o caso. Os autores do ataque racista contra os brasileiros podem, inclusive, ser expulsos da instituição de ensino.

“É uma atitude lamentável, de um humor muito infeliz e intolerável e não deixaremos de agir disciplinarmente sobre os responsáveis, mas que não se traduziu nem teve a intenção de se traduzir em qualquer comportamento violento”, disse o reitor António Cruz Serra.

O número de alunos internacionais nas instituições portuguesas dobrou na última década, por causa de uma série de iniciativas. Hoje, são mais de 42 mil imigrantes que estudam em Portugal e o brasileiro aparece no topo dessa lista.

“Os alunos desta faculdade que quiseram se candidatar ao mestrado em 2018 sentiam-se frustrados porque estavam convencidos de que as médias que eles tinham, mais baixas do que os estudantes brasileiros, eram inflacionadas relativamente às médias deles, portanto, as médias dos estudantes portugueses ainda que fossem mais baixas tinham mais valor do ponto de vista curricular e do ponto de vista da formação acadêmica do que os alunos do Brasil”, explicou o estudante português Afonso Massapina.

Este é mais um episódio de xenofobia de portugueses contra alunos estrangeiros. Mas estamos satisfeitos com a resposta da universidade”, afirmou Elizabeth Matos Lima, aluna de mestrado da instituição e presidente do Núcleo de Estudos Luso-Brasileiros (Nelb), que representa os estudantes do Brasil.

Elizabeth explica que a tensão entre portugueses e brasileiros tem sido crescente, sobretudo nos últimos dois anos, por causa de um forte aumento da presença de alunos de mestrado e doutorado vindos do Brasil.

É comum que nas turmas de mestrado, de 15 alunos, de 10 a 13 sejam brasileiros”, conta. Segundo ela, professores da graduação da faculdade local são muito rigorosos nas notas. Na seleção para o mestrado e doutorado, na análise do histórico escolar, os brasileiros em geral têm notas muito superiores e ficam com as vagas. A Universidade de Lisboa é pública, mas cobra mensalidade.

O estande e o cartaz já foram retirados do hall da faculdade. Agora, os estudantes brasileiros esperam que o fato sirva de lição para que, nem de brincadeira, uma atitude como essa volte a acontecer.



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