Parasita nunca antes visto é resistente à ivermectina

Trichuris incognita é um verme redondo intestinal recém-descoberto, intimamente relacionado ao parasita whipworm. No entanto, é significativamente mais resistente ao tratamento.

Com informações de Live Science.

Cientistas descobriram uma nova espécie de parasita humano que parece ser resistente a tratamentos antiparasitários comuns, como a ivermectina.

O parasita, chamado Trichuris incognita, é um tipo de lombriga intestinal que é intimamente relacionado ao Trichuris trichiura, que atualmente infecta entre 429 milhões e 508 milhões de pessoas globalmente, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. Até agora, a espécie recém-identificada foi encontrada apenas na África Ocidental — especificamente na Costa do Marfim.

“A infecção tende a não ser mortal, mas infecções graves podem causar doenças graves, principalmente em crianças pequenas”, disse John Gilleard, professor de parasitologia e reitor associado de pesquisa da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Calgary, à Live Science por e-mail.

A espécie recém-identificada foi descoberta durante um estudo mais amplo sobre resistência parasitária a medicamentos na África Ocidental. Especificamente, os pesquisadores estavam investigando a eficácia do uso de ivermectina e albendazol em combinação. Esses dois antiparasitários são recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para tratar muitos parasitas intestinais diferentes.

“Havia uma suspeita de algo estranho, porque a combinação de medicamentos foi substancialmente menos eficaz em um ensaio clínico em um país em comparação a outros”, disse Abhinaya Venkatesan, que conduziu a pesquisa como parte de sua tese de doutorado, em um comunicado divulgado pela Universidade de Calgary.

“Nossa análise genética revelou que os vermes parasitas da Costa do Marfim, África Ocidental, eram uma espécie diferente daquelas dos outros locais de estudo”, disse Venkatesan. “Na verdade, é uma espécie completamente nova e mais semelhante a um parasita que infecta porcos do que aqueles normalmente encontrados em humanos.”

Esses resultados foram publicados em 18 de dezembro na edição de janeiro de 2025 do periódico Emerging Infectious Diseases.

O que é Trichuris incognita ?

A compreensão dos pesquisadores sobre esse parasita recém-descoberto ainda está em estágios iniciais.

“Atualmente, as principais diferenças biológicas ou clínicas entre T. incognita e a espécie humana de Trichuris, T. trichiura (além da sensibilidade a medicamentos) são desconhecidas”, disse Gilleard. “Até onde sabemos, os sintomas serão semelhantes aos do verme comum em humanos Trichuris trichiura. “

De acordo com o CDC, infecções com T. trichiura — uma condição conhecida como tricuríase — são frequentemente assintomáticas. No entanto, elas podem às vezes resultar em problemas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarreia e prolapso retal, bem como crescimento atrofiado em crianças.

Os ovos do parasita são passados ​​nas fezes de pessoas infectadas; os ovos podem acabar contaminando o solo se uma pessoa defecar do lado de fora ou usar uma instalação de higienização inadequada. Pessoas adicionais podem então ser infectadas se consumirem alimentos ou água contaminados pelo solo.

Os ovos então eclodem no intestino delgado da pessoa, liberando larvas que amadurecem e se estabelecem como adultos no cólon do paciente. Os vermes adultos, que crescem até aproximadamente 1,5 polegadas (4 centímetros) de comprimento, vivem por cerca de um ano, com vermes fêmeas eliminando até 20.000 ovos por dia.

Por que o Trichuris incognita não foi reconhecido antes?

Embora a tricuríase seja bastante disseminada e definida como uma grande doença tropical negligenciada pela OMS, pode ser que diferentes espécies do parasita tenham sido negligenciadas, disse Gilleard. “O desafio é que a maioria dos diagnósticos e vigilâncias são baseados em exames microscópicos de fezes e na identificação de ovos do tipo clássico Trichuris em fezes humanas e não em testes moleculares que poderiam discernir as espécies”, explicou.

Como resultado, ainda não sabemos quão disseminado o T. incognita está globalmente, mas Gilleard disse que “ele provavelmente está presente em outros lugares na África Ocidental”.

Também não sabemos ainda por que a nova espécie é resistente aos antiparasitários comuns.

“Diferentes espécies de parasitas mostram diferentes sensibilidades a medicamentos por todos os tipos de razões biológicas complexas”, disse Gilleard. Pode ser que essa espécie resistente a medicamentos tenha sido negligenciada, ou que T. incognita seja, na verdade, uma espécie emergente cuja evolução está sendo impulsionada pela exposição a medicamentos. Talvez ser resistente a medicamentos esteja dando a T. incognita uma vantagem de sobrevivência sobre T. trichiura, especulou Gilleard.

No entanto, ele acrescentou que mais pesquisas são necessárias para determinar isso.