Mar De Plástico: O Mediterrâneo é a região com maior risco para aves marinhas ameaçadas

Um novo estudo revela as áreas com maior risco de exposição ao plástico pelas já ameaçadas aves marinhas.

Por Universidade de Lisboa com informações e Science Blog.

O ‘Cook’s Petrel’ (Pterodroma cookii), da Nova Zelândia, é uma espécie ameaçada de extinção e é uma das aves marinhas com maior risco de exposição ao plástico. Durante suas migrações atravessa o Oceano Pacífico, e suas áreas de invernada são severamente afetadas pela “grande ilha de lixo” do Pacífico Norte.(crédito da foto: PAUL DONALD)

O estudo, agora publicado na  Nature Communications,  reúne mais de 200 pesquisadores em todo o mundo em torno de um desafio premente, amplamente reconhecido como uma ameaça crescente à vida marinha: a poluição dos oceanos por plástico. Coordenado pela Dra. Maria Dias, investigadora do  Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa), o estudo identifica o Mediterrâneo como a região de maior risco a nível global. A Zona Económica Exclusiva de Portugal, especialmente ao largo dos Açores e da Madeira, é também referida como uma região de risco moderado para as espécies de aves que aí vivem e se alimentam.

As aves marinhas são um dos grupos mais ameaçados globalmente, com cerca de um terço das espécies classificadas como “vulneráveis”, “ameaçadas” ou “criticamente ameaçadas” na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.

A equipe de pesquisa analisou dados de 77 espécies de aves marinhas, mais de 7.000 indivíduos e 1,7 milhão de posições registradas por meio de dispositivos de rastreamento remoto, juntamente com mapas de concentração de plástico em nível global. Os pesquisadores puderam, assim, identificar as áreas onde as aves estão mais expostas aos resíduos plásticos e quais espécies e populações são mais afetadas.

“Os dados permitem concluir que o risco não se distribui uniformemente, fruto da acumulação de plástico em zonas onde as correntes marítimas e as marés o favorecem”, afirma a Dra. Maria Dias. As aves marinhas também se distribuem de forma desigual e altamente variável ao longo do seu ciclo anual, sendo a sua maioria espécies migratórias capazes de sobrevoar milhares de quilómetros de mar. “Quando as duas regiões se sobrepõem [alta concentração de pássaros e plástico], o risco é muito maior”, acrescenta a Dra. Maria Dias.

Entre as áreas mais perigosas para as aves estão o Mediterrâneo, o Mar Negro, o Noroeste e Nordeste do Pacífico, o Atlântico Sul e o Sudoeste do Oceano Índico. Os dados também mostram que espécies já em risco de extinção (devido à introdução de espécies exóticas invasoras nas ilhas onde se reproduzem, à captura acidental ou devido às mudanças climáticas) também estão mais expostas ao plástico. Assim, “se o problema do plástico continuar a agravar-se, o estado já frágil destas espécies pode agravar-se ainda mais”, alerta a Dra. Maria Dias.

Os resultados podem agora ser interpretados e utilizados como uma ferramenta para a gestão e conservação do ambiente marinho por países de todo o mundo. Mas isso não torna a tarefa mais fácil. “A maioria das espécies corre um risco maior de encontrar plástico em águas fora de sua jurisdição de reprodução e em águas internacionais. Isto significa que a cooperação internacional é essencial para resolver este problema, impondo o diálogo entre vários atores e aumentando a complexidade das respostas”, destaca a Dra. Maria Dias.

Os mares portugueses não são exceção ao problema. A Zona Económica Exclusiva nacional, especialmente as zonas envolventes aos arquipélagos dos Açores e da Madeira, apresentam um risco considerável de exposição de aves ao plástico marinho. A Freira-das-desertas (Pterodroma deserta) espécie endémica de Portugal, se destaca pelas ameaças que enfrenta, tendo sido identificada como prioritária para consequentes estudos.

O artigo divulgado contou com a participação de 18 cientistas portugueses, de várias regiões do país. Entre eles contam-se a Dra. Mónica Correia Silva (cE3c), o Dr. José Pedro Granadeiro, e a Dra. Teresa Catry (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar – CESAM), também do Ciências ULisboa.



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