Tricofagia: Jovem retira tufo de 48 cm de cabelo do estômago

Ela tinha um histórico de dois transtornos mentais: tricotilomania, que faz com que o indivíduo arranque pelos do corpo; e a própria tricofagia, que faz com que a pessoa coma o próprio cabelo.

Com informações de UOL; Meio Norte.

Jovem retira tufo de 48 cm de cabelo do estômago. Imagem: (Jackman et al, BMJ Case Reports)

Uma adolescente no Reino Unido precisou ser operada às pressas para retirar um tufo de cabelo com 48 centímetros de comprimento do estômago. Ela confessou aos médicos que comia o próprio cabelo compulsivamente, que estava sentindo dores abdominais há cinco meses, e que piorou nas últimas semanas.

A bola de cabelo tinha um formato oval e chegou a abrir um buraco na parede de seu estômago. Ela foi internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) após a cirurgia e recebeu alimentação por meio de um tubo de alimentação inserido no intestino delgado, enquanto o estômago cicatrizava. O caso foi reportado na revista BMJ Case Reports, no dia 9 de fevereiro.

Inicialmente, a jovem, de 17 anos, procurou o hospital depois de desmaiar duas vezes, machucando o rosto e o couro cabeludo durante as quedas. No entanto, ao realizar uma tomografia computadorizada, os médicos observaram um “estômago grosseiramente distendido” com uma grande massa interna, além de um buraco na parede do estômago.

De acordo com os autores do estudo, ela tinha um histórico de dois transtornos mentais: tricotilomania, distúrbio que faz com que o indivíduo arranque pelos do corpo; e a própria tricofagia, conhecida popularmente como a “síndrome de Rapunzel”, que faz com que a pessoa coma o próprio cabelo.

Tricofagia é comum em crianças e adolescentes

De acordo com Edson Luiz de Toledo, coordenador do Programa para Tricotilomania do PRO-AMITI (Programa do Ambulatório dos Transtornos do Impulso) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a tricofagia é muito comum em crianças e adolescentes.

“A idade média de início costuma ser aos 12 anos, mas já atendi uma criança de três anos e meio”, diz o psicólogo. Além disso, as mulheres são as que mais sofrem do transtorno: ele afeta 10 mulheres para cada homem com o problema.

“As causas são diversas, mas geralmente está relacionada com a separação dos pais, brigas em casa, bullying, primeira menstruação ou até abuso sexual”, explica Toledo. Segundo ele, a criança ou o adolescente começa a arrancar o cabelo e comer para se distrair ou até punir pais e mães por algo que os incomoda. A tricofagia inclusive está relacionada a outros transtornos como a depressão e a ansiedade.



Transtorno é grave

Após avaliação de psiquiatras do hospital, a adolescente teve um “curso pós-operatório sem intercorrências” e recebeu alta do hospital sete dias após a cirurgia, escreveram os autores. Um mês depois, ela não teve nenhum sinal de complicações, “estava progredindo bem com conselhos dietéticos” e sendo atendida por um psicólogo.

Em 2017, porém, outra adolescente britânica, de 16 anos, morreu devido a uma peritonite, uma inflamação da membrana que reveste a parede abdominal e cobre os órgãos abdominais, causada pelo acúmulo de cabelo no órgão.

“Comer cabelo é algo bem grave. Se existe essa suspeita, é preciso diagnosticar e encaminhar para um gastroenetrologista especialista em endoscopia para verificar se tem o bolo de cabelo no estômago e, se necessário, realizar cirurgia”, explica Toledo.

Além disso, a pessoa pode sentir cólica, dor abdominal, constipação e chega até a ter lesão por esforço repetitivo. Mas além de problemas físicos, ela também sofre emocionalmente. “O paciente pode se isolar socialmente ou deixar de estudar por conta das falhas no cabelo”, alerta.

Psicoterapia é um tratamento eficaz

Em crianças e adolescentes o tratamento se resume à psicoterapia. Em adultos, psicofármacos também podem ser prescritos. O tempo para o tratamento fazer algum efeito é muito particular, mas Toledo diz que no PRO-AMITI, por exemplo, após 22 sessões, com uma por semana, a remissão dos sintomas passa de 70% dos casos.

“É uma taxa bem alta, mas não falamos em cura. Assim como todos os transtornos mentais, como depressão e ansiedade, a tricofagia pode voltar”.



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