Cientistas revivem micróbios de mais de 100 milhões de anos sedimentados no fundo do mar

Os organismos foram encontrados no Pacífico Sul e ficaram adormecidos por 101,5 milhões de anos.

Com informações de G1; Gizmodo.

Imagem mostra os micro-organismos encontrados no fundo do Pacífico Sul que ficaram adormecidos por 101,5 milhões de anos — Foto: Divulgação/IODP/JRSO

Pesquisadores dos Estados Unidos e do Japão conseguiram reviver micróbios que ficaram adormecidos no fundo do Pacífico Sul por 101,5 milhões de anos. O estudo publicado nesta terça-feira (28/07) pela revista “Nature Communications” dá pistas sobre a duração da vida na terra, expandindo dramaticamente nossa visão de onde vida na Terra pode chegar e há quanto tempo ela existe.

Os cientistas encontraram os seres microscópicos em amostras de argila coletadas a mais de 74 metros do solo marítimo – que fica coberto por quase 6 km de água– com a ajuda de um barco de pesquisa, o Joides Resolution.

Os micróbios são apontados como os organismos vivos mais antigos do planeta. Cerca de 99% dos encontrados pelos exploradores datam da era dos dinossauros e estavam presos entre os sedimentos sem nenhum tipo de nutriente.

Yuki Morono, geomicrobiologista da Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia, explicou à agência de notícias Reuters que os micro-organismos ficaram incubados por 557 dias antes do anúncio. Em um laboratório, eles foram “alimentados” com carbono, nitrogênio, amônia e aminoácidos.

Uma da amostras obtidas pelos cientistas no Giro Pacífico do Sul. Crédito: JAMSTEC

Crescer e multiplicar

As amostra de sedimentos contendo os micróbios foram extraídas há 10 anos na planície abissal do Giro do Pacífico Sul. Essas amostras foram retiradas de profundezas que atingiam 75 metros abaixo do fundo do mar e datavam de 13 milhões a 101,5 milhões de anos. Foi detectado algum oxigênio nessas camadas profundas, mas praticamente nenhum material orgânico como o carbono (isto é, alimento para os micróbios).

Essa parte do oceano contém algumas das águas mais claras do mundo, devido a baixas concentrações de fitoplâncton na superfície do mar, que normalmente afundam e fornecem alimentos para micróbios do fundo do mar. Como a neve marinha, como é chamada, é muito leve nesta região, a formação do sedimento do fundo do mar é excepcionalmente lenta, a uma taxa insignificante de cerca de 1 a 2 metros a cada milhão de anos. O principal objetivo do novo estudo era verificar se a vida poderia resistir em um ambiente sem nutrientes e, em caso afirmativo, por quanto tempo esses micróbios poderiam sobreviver com praticamente nenhum alimento.

De volta ao laboratório, com o cuidado dos cientistas, esses micróbios foram incubados e receberam uma dieta constante de substratos marcados com isótopos, compostos de carbono e nitrogênio. Um aspecto extremamente importante do estudo foi rastrear o consumo microbiano desses alimentos adicionados, daí os substratos estáveis marcados com isótopos.

Os micróbios cresceram, se multiplicaram e foi possível identificar a presença de atividades metabólicas. Os pequenos organismos são aeróbicos –o que quer dizer que precisam do ar para viver– e essa substância foi encontrada nas amostras dos sedimentos.

Dentro desse ambiente acolhedor de laboratório, os micróbios, incluindo os extraídos das amostras mais antigas de sedimentos, responderam quase imediatamente. Ao longo de 68 dias, os pesquisadores observaram espantados as populações aumentarem de tamanho em mais de quatro ordens de magnitude. Mais de 99% dos micróbios encontrados nas amostras voltaram à vida, resultado que até chocou os cientistas.

Nas profundezas do fundo do mar, “os nutrientes são muito limitados”, de modo que os micróbios estavam “quase no estado de ‘jejum’”, disse Morono. “Portanto, é surpreendente e biologicamente desafiador que uma grande fração de micróbios possa ser revivida de um período muito longo enterrados ou presos em condições extremamente baixas de nutrientes/energia.”

Isso indica, segundo os pesquisadores, que é possível “prender” o oxigênio entre os sedimentos no fundo do mar. Mas para isso, eles identificaram que a cobertura do solo deveria acontecer de maneira bastante lenta, com uma taxa de um metro a cada um milhão de anos.

Expedição de cientistas no Giro do Pacífico Sul. Crédito: IODP JRSO

A vida na Terra

O oceanógrafo da Universidade de Rhode Island, Steven D’Hondt, disse que a descoberta é empolgante e que dá pistas sobre a duração da vida no planeta.

“A parte mais empolgante deste estudo é que ele basicamente mostra que não há limite para a vida embaixo dos sedimentos mais antigos, no fundo dos oceanos, na Terra”, disse D’Hondt. “Manter a capacidade fisiológica por 100 milhões de anos em isolamento é uma façanha impressionante.”

Anteriormente, os cientistas disseram que haviam recuperado e revivido esporos bacterianos de cristais de sal de 250 milhões de anos encontrados na Formação Salado, da idade Permiana, no Novo México (EUA). Alguns especialistas discordam desta conclusão, dizendo que as amostras foram contaminadas, entre outras questões. Em 1995, os cientistas reviveram um esporo bacteriano de uma abelha preservada em âmbar datada entre 25 milhões e 40 milhões de anos.

Reviver micróbios antigos parece um pouco assustador, dado o que não sabemos sobre germes antigos. Quando perguntado sobre os riscos e quaisquer precauções de segurança adotadas para o experimento, Morono disse que “o sedimento no subsolo é considerado de baixo risco para a saúde, já que nenhum hospedeiro infectante, como um humano, existe neste ambiente”. No entanto, “temos lidado com os micróbios o tempo todo na sala limpa” e todas as amostras foram mantidas em laboratórios — um ambiente de nível 1 de biossegurança — o tempo todo.

Edgcomb não viu problemas com a segurança, dizendo: “Como ecologista microbiano marinho, não vejo nenhum problema de segurança nas experiências que eles realizaram”.

Pesquisadores Yuki Morono, Laurent Toffin e Steven DÕHondt trabalhando a bordo do navio de pesquisa JOIDES — Foto: Divulgação/IODP/JRSO


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