O quadro de Bartolomé Esteban Murillo mostrava a Virgem Maria mas ficou irreconhecível depois do restauro feito por um amador. Especialistas pedem legislação mais apertada para conservação do património.
O colecionador de Valência, na Espanha, pagou 1.200 euros para que o quadro de “Imaculada Concepción de Los Vunerables“, do artista barroco Bartolomé Esteban Murillo (1617-1682), fosse limpo por um restaurador de móveis, segundo o site de notícias espanhol Europa Press.
Após duas tentativas de consertá-lo, o quadro da Imaculada Conceição ficou irreconhecível.
O incidente fez surgirem comparações com outras “restaurações” desastrosas ocorridas recentemente na Espanha.
Em 2012, uma senhora tentou restaurar um afresco de Jesus Cristo em sua igreja local. A pintura da autoria do espanhol Elias García Martínez, foi realizada nos primeiros anos do século passado (XX) e decora uma das paredes da Igreja do Santuário de Misericórdia em Borja (Aragão), Espanha.
Apesar de desastrosa, a pintura teve teve um lado inusitado: desencadeou uma afluência de visitantes, que acorreram aos milhares a Borja para ver a “celebridade” – a pintura, mas também a espontânea pintora – num efeito colateral positivo que ajudou a encher os cofres da igreja e dos comerciantes da terra. Houve até um compositor que fez uma ópera a partir do episódio.
Já em 2018 uma escultura em madeira de São Jorge do século XVI que fica em uma igreja em Navarra também chamou a atenção do público após um trabalho de restauração. Alguns compararam seu novo visual a uma figura da Playmobil.
Atualmente, não há lei na Espanha que proíba as pessoas de restaurar obras de arte, mesmo que o façam sem as habilidades necessárias.
Em comunicado, a Associação Profissional de Restauradores e Conservadores do país (Acre) condenou a falta de proteções legais e chamou o incidente recente de um ato de “vandalismo”.
“Essa falta de regulamentação se traduz na falta de proteção de nossa herança”, afirmou a Acre.
“Nos últimos anos, os profissionais de restauração e conservação foram forçados a emigrar ou deixar suas profissões devido à falta de oportunidades”, acrescentou, alertando que o setor corre “sério risco de desaparecer” na Espanha.