Destroços em Pompeia indicam que romanos reciclavam lixo

Arqueólogos encontraram evidências de um esquema de reciclagem no qual os habitantes de cidade destruída pelo Vesúvio empilhavam lixo para ser reutilizado mais tarde.

Informações da Galileu; Super Interessante.

Basílica em Pompéia. Destroços da cidade foram analisados por pesquisadores da Universidade de Tulane, dos EUA (Foto: Wikimedia Commons)

As cidades romanas de Pompeia e Herculano foram soterradas por uma espessa camada de lama e cinzas durante a erupção do vulcão Vesúvio, no ano 79 a.C. A tragédia congelou o cotidiano dos cidadãos do Império por dois milênios: escavações iniciadas século 18 revelaram milhares de objetos e edifícios em excelente estado de conservação, que vão de um templo dedicado a Apolo ao célebre bordel de Lupanar – em cujos muros encontra-se a pichação “Em 15 de junho, Hermeros aqui deu uma com Phileterus e Caphisus”.

Sexo é legal, mas o arqueólogo americano Allison Emmerson, lider de uma equipe que conduz investigações em Pompeia rotineiramente, ficou intrigado com algo mais banal: enormes pilhas de sucata acumuladas do lado de fora da muralha que cerca o norte da cidade-fantasma. Não há nada de novo no lixão em si; ele é um velho conhecido dos pesquisadores. A princípio, acredita-se que elas teriam sido geradas durante um terremoto que atingiu a cidade em 62 d.C, 17 anos antes da catastrófica erupção do Vesúvio.

Emmerson, que é professor da Universidade Tulane, nos EUA, não comprou essa hipótese. Afinal, Pompeia cresceu além dos muros, e o lugar em que as pilhas de lixo foram encontradas não era um terreno baldio. Havia casas de alvenaria ali, como num bairro normal. Se aquele entulho todo de fato tivesse sido rejeitado, ele estaria em um lugar bem mais isolado. Além disso, o arqueólogo analisou amostras de solo localizadas logo abaixo dos cacarecos e percebeu que não havia material orgânico decomposto – só resíduos secos, como pedaços de tijolo, cacos de cerâmica, telhas etc.

Esse mesmo solo seco e arenoso podia ser encontrado em amostras extraídas do interior das paredes das casas. Muitas delas tiveram suas paredes erguidas com uma porção de pedaços de tijolo e telha – que então eram cobertos com uma espécie de massa corrida para dar acabamento e disfarçar os materiais reaproveitados. Sinal de que os romanos de Pompeia separavam o entulho para utilizá-lo novamente na construção civil.

“Descobrimos que parte da cidade foi construída com lixo”, disse Emmerson, em entrevista ao The Guardian. “As pilhas [de lixo] do lado de fora dos muros não eram de materiais para serem jogados fora. Elas estavam ao lado das paredes sendo coletadas e classificadas para serem revendidas para dentro dos muros [da cidade].”

“Na maioria das vezes, não nos importamos com o que acontece com nosso lixo, desde que seja retirado. O que encontrei em Pompéia é uma prioridade totalmente diferente: o lixo estava sendo coletado e classificado para reciclagem. ”

 (Flory/Andy Faria/Getty Images)


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