Homem que ficou bêbado sem álcool leva a descoberta científica

Não precisa ingerir álcool para ter problemas no fígado, de acordo com um estudo publicado no periódico Cell Matabolism. Cientistas descobriram que algumas bactérias intestinais produzem álcool e podem danificar o órgão sem que a pessoa consuma a bebida.

Matéria da Galileu.

Klebsiella pneumoniae © shutterstock

Na China, um homem desmaiou intoxicado com álcool depois de comer uma refeição sem beber qualquer líquido etílico. Os médicos que o atenderam observaram que, após ingerir uma refeição rica em açúcar, o nível de álcool no sangue do sujeito subiu para 400 miligramas por decilitro — o mesmo que aconteceria se ele tivesse tomado 15 doses de uísque com 40% de teor alcoólico.

A primeira hipótese dos especialistas é que o paciente tinha a chamada síndrome da autocervejaria, em que o próprio organismo transforma em álcool alimentos ricos em glicose. Entretanto, ao analisar as fezes do homem, a equipe descobriu uma colônia de bactérias do tipo Klebsiella pneumoniae em seu intestino.

O homem também tinha a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), que é o acúmulo de gordura no fígado causado por fatores que não têm a ver com a ingestão de álcool. Foi aí que os profissionais relacionaram as duas condições: uma maior presença dessa bactéria resultaria, então, na DHGNA?

A equipe estudou amostras da microbiota intestinal de 43 pacientes com DHGNA e de outras 48 pessoas saudáveis. Os experts descobriram que cerca de 60% dos pacientes com a doença apresentavam altos níveis de K. pneumoniae; nos voluntários sem a condição, essa taxa era de apenas 6%.

“A DHGNA é uma doença heterogênea e pode ter muitas causas. Nosso estudo mostra que a K. pneumoniae provavelmente é uma delas”, disse Jing Yuan, líder da pesquisa, em comunicado.

Ainda não se sabe, porém, por que alguns indivíduos têm um número tão grande de K. pneumoniae no intestino. Uma das possíveis explicações é que os microrganismos entrem no nosso organismo a partir da alimentação, por exemplo. Mas os especialistas chineses acreditam que o intestino de certas pessoas seja mais suscetível a esses invasores – caso contrário, casos como esse seriam bem mais comuns. 

Os pesquisadores chineses pretendem usar esses achados para descobrir novas formas de diagnosticar a DHGA. “Nos estágios iniciais, a doença hepática gordurosa é reversível. Se pudermos identificar a causa mais cedo, poderemos tratar e até prevenir danos ao fígado”, disseram os especialistas.

Micrografia das células de um fígado com doença hepática gordurosa não alcoólica. Espaços em branco são a gordura, enquanto fibrose leve está em verde e células saudáveis em vermelho (Foto: Wikimedia Commons)

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