“Vinho de ossos” – A exploração de leões e tigres

Relatório da World Animal Protection expõe a cruel realidade das fazendas que criam e matam grandes felinos para fins medicinais na África do Sul e na Ásia.

Fontes: Jusbrasil; World Animal Protection.

A crença no “efeito milagroso” das partes de corpos de tigres e em seu valor como um símbolo de status tem colocado milhares desses animais em risco. A demanda por produtos para uso medicinal como vinho de ossos, pomadas e bálsamos de tigres também ameaça leopardos, leões e onças.

Ao investigar a cadeia que alimenta o mercado de produtos de grandes felinos, a ONG descobriu algumas das maiores crueldades cometidas contra esses animais.

Leia o relatório completo clicando aqui (em inglês).

Na China, grandes áreas com apenas alguns tigres mascaram uma realidade chocante: antes de serem brutalmente mortos, esses animais são mantidos em pequenas jaulas de metal em condições deploráveis. Nesses locais, eles têm acesso apenas ao mínimo para sobreviver –  água e comida.

Em grandes fazendas na África do Sul, os filhotes de leões e tigres nascem em um sistema de exploração. Reproduzidos em escala, eles são usados em atrações turísticas que permitem que as pessoas passeiem, toquem e tirem fotos com eles.

Quando já não servem mais para entreter turistas, os leões são encaminhados para fazendas de caça, onde são mortos e têm suas peles e cabeças removidas para servirem de troféus. Seus ossos também são vendidos para produção de supostos medicamentos (como “vinho de osso”), amuletos e acessórios, especialmente no sudeste da Ásia.

Apesar da caça de grandes felinos ser proibida no país, a África do Sul permite a exportação de esqueletos provenientes de cativeiros.

Filhotes de tigres nascidos e mantidos em jaulas pequenas em uma fazenda no sul da China.

Reprodução forçada e ambientes insalubres

Nas fazendas de felinos, é comum o nascimento de filhotes com deformidades – como a ausência de braços ou pernas – por conta do cruzamento entre animais com algum parentesco (pais e irmãos, por exemplo). Alguns filhotes morrem ainda durante a gestação.

Muitas fêmeas de tigres são submetidas a gestações consecutivas, gerando de quatro a cinco mais ninhadas do que teriam na natureza.

As condições de vida também são terríveis. Nas fazendas da China, os tigres são mantidos em gaiolas de aproximadamente 21 metros quadrados. Na natureza, esses tigres teriam um território de sete a 100 quilômetros para explorar.

Quando submetidos às péssimas condições de bem-estar oferecidas por esses locais, tigres e leões se comportam de forma anormal – como andar de um lado para o outro por horas e morder seus próprios membros e rabos.

Leão com grau severo de estrabismo em uma fazenda na África do Sul. A condição é resultado de cruzamento entre animais consanguíneos. Foto: Blood Lions

Bebida medicinal

Para preparar a bebida, os fabricantes deixam os ossos embebidos em vinho, e o produto final é vendido para tratar uma série de doenças, como — obviamente — a artrite e outros problemas ósseos. E cada garrafa do vinho é comercializada por mais de US$ 800, ou seja, mais de R$ 1,7 mil.

Considerando que a renda média de uma família na China era estimada em US$ 2,1 mil em 2012, então, é fácil compreender o motivo de o alvo dos vendedores ser a classe média-alta. Aliás, leilões são organizados para vender o vinho medicinal, e caixas do produto facilmente ultrapassam os US$ 30 mil, ou seja, mais de R$ 65 mil.

A medicina tradicional em números

Emplasto a base de osso de tigre vendido na China.
  • No Vietnã, quatro em cada cinco pessoas (89%) acreditam nos efeitos de produtos feitos de partes de corpos de tigres e leões, apesar de não haver comprovação científica;
  • Dos consumidores desses produtos no Vietnã, 84% dão prioridade aqueles que têm origem em animais capturados diretamente da natureza em vez de criados em cativeiro;
  • Na China, 40% das pessoas entrevistadas já usaram produtos de partes de corpos de grandes felinos;
  • 55% dos consumidores chineses preferem que seus produtos sejam provenientes dos animais capturados na natureza.

Apesar da pesquisa de consumo mostrar uma tendência preocupante, há resultados promissores em nossa investigação:

67% dos entrevistados vietnamitas se mostraram dispostos a consumir medicamentos sintéticos ou à base de plantas em substituição aqueles feitos de partes de grandes felinos.

A maioria dos felinos são mantidos em pequenos espaços com piso de concreto. Foto: Blood Lions


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