Os conceitos de carma e darma são utilizados no Ocidente para justificar tudo o que acontece na vida, como se Deus tivesse uma caderneta onde anotaria e cobraria tudo e, dessa forma, distribuiria as bênçãos e os castigos.
Texto de Alex Alprim, informações extras: Wikipedia.
Religiões:
Karma ou carma (do sânscrito कर्म, transl.karma. Em páli, kamma. Ambos os termos significam, literalmente, “ação”.) é um termo de uso religioso dentro das doutrinas budista, hinduísta, jainista, sique e teosófica. Em cada uma dessas doutrinas, o termo tem um sentido próprio.
Darma (em sânscrito: धर्म, transliteradoDharma ; em páli: धम्म, transliteradoDhamma) é um conceito-chave com múltiplos significados nas religiões indianas – hinduísmo, budismo, siquismo e jainismo.
No hinduísmo, “carma” refere-se ao efeito que nossas ações geram em nosso futuro, tanto nesta como em outras vidas, após eventuais reencarnações.
Dentro da teosofia, o termo está ligado ao sentido de saga, do “dever a ser cumprido no SOU”.
Este termo não é usado na doutrina espírita codificada por Allan Kardec. Esta adota simplesmente o conceito de “causa e efeito” ou, usando a terceira lei de Newton como metáfora, “ação e reação”. Neste caso, para toda ação tomada pelo homem, este pode esperar uma reação. Se praticou o mal, então receberá de volta um mal em intensidade equivalente ao mal causado.
O termo é usado, dentro de grupos dos movimentos New Age, para expressar um conjunto de ações dos homens e suas consequências no tempo.
No budismo, o termo se refere às nossas intenções, que podem ser boas, más ou neutras. Boas intenções geram bons frutos, más intenções geram maus frutos. E é a intenção nossa de continuar a existir que nos levaria, após a nossa morte, a reencarnarmos em outros corpos. Considera-se que, ao gerar carma, os seres ficam presos ao ciclo de reencarnações (samsara) e que a última meta da prática budista é extinguir o carma e, desse modo, libertar-se do ciclo de renascimentos.
Conceito:
Os conceitos de carma e darma são frutos da evolução cultural-teológica das sociedades asiáticas, mais especificamente da indiana — exportada depois para toda a Ásia e Ocidente. Nos séculos da dominação européia (da metade do século 16 até meados do século 20), quando a Europa invadiu e dominou todos os povos da região, com exceção do Japão — que tinha seus próprios planos colonialistas — houve uma migração de estudiosos europeus para o Oriente na tentativa de descobrir o que existia de oculto em milhares de escritos e textos religiosos.
Aos poucos, a invasão se inverteu. O Ocidente foi tomado por traduções de todo tipo; textos que fizessem menção ao Oriente eram automaticamente tidos como secretos e verdadeiros. Como poucas pessoas tinham capacidade de ler os originais, quem iria questionar a autenticidade do material?
Não demorou para surgirem “mestres” que rechearam os conceitos para adequá-los ao mercado capitalista ocidental, ávido em consumir novidades exóticas orientais. Os textos foram adaptados aos padrões morais da época. Os tradutores também sofriam para entender os conceitos abstratos de vida e morte, de carma e darma, e cometeram alguns deslizes — como iria acontecer dezenas de anos depois com os textos de Feng-Shui.
Mas não era culpa deles; tratava-se de uma época diferente, e nada mais natural do que contextualizar os conceitos orientais numa ótica ao gosto das sociedades européias.
Dessa forma, quando se explicou o “carma”, ele adquiriu um caráter de medo e punição, quase de pecado — conceito alienígena na filosofia oriental. Tudo que acontecia de ruim era carma: perder um membro querido da família, romper com um amor, agir de forma impulsiva; enfim, tudo era carma.
Quando, no século 20, o espiritualismo se torna uma força religiosa considerável, originando o movimento da New Age, esse conceito de punição se aprofunda até adquirir força cultural própria, quase inquestionável. E se amplia, pois os mestres explicam que tudo que você faz nessa vida entra numa “caderneta”, para ser pago nesta ou na próxima vida. Um pré-determinismo que rompe com o livre-arbítrio. Nessa visão, somente somos livres para descobrir como iremos nos dar mal.
Numa busca rápida no Google — procurando apenas a palavra “carma”, sem suas variantes na data de hoje (17/07/19) –, existem aproximadamente 10.200.000 de páginas, falando sobre o tema; e a maioria dizendo como tudo é determinado por cada ação de sua vida anterior; e mais que isso, você continua acumulando carma por tudo o que faz nesta vida material, agora.
Num conformismo que desestimula qualquer mudança — pois se tudo já está determinado, as pessoas ficam presas àquilo que “merecem” — tudo de ruim que lhes acontece não tem como ser mudado, por piores que sejam as condições em que elas vivam, pois elas estão pagando suas dívidas.
Chega! Isso não existe!
A real função do carma não é determinar o quanto você vai sofrer; é causa e conseqüência; se você enfia a mão numa panela com água fervente, de propósito, vai queimar a mão e se machucar gravemente, o que não significa que você foi obrigado a fazer isso; você fez porque o quis.
Quando você toma uma decisão, seja ela qual for, o universo e sua alma entram em sintonia e tudo funciona por similaridade. Se você está com uma tendência negativa ou egoísta, a sua vida vai atrair esse tipo de acontecimento.
Mas se alguém encontra uma pessoa e, por acidente, machuca a mão dela, podemos ter atraído isso por conta de uma sintonia negativa — irritados, nem vimos a água quente ali perto. O carma é semelhante, em ambos os casos, pois nossa responsabilidade em relação às ações continua a mesma.
Seja por descuido, medo, auto-afirmação, egoísmo, desejos incompreendidos; tudo são decisões próprias — livre-arbítrio — que podem gerar carma, e não fruto de uma “caderneta espiritual de débitos”.
Quando sua mão toca a água quente, a conseqüência é que você machucou sua mão; vai ter de se tratar (psicológica e fisicamente); este é seu carma.
Você vai ter de entender o que resultou daquilo em sua vida e, quando você aceitar e entender o porquê de você ter queimado sua mão de propósito, algo muito importante surgiu na sua vida: o darma.
Darma é a compreensão das nossas responsabilidades e do nosso papel espiritual na vida diária. É quando sabemos a razão pela qual enfiamos a mão na panela de água fervente — quando acordamos das ilusões que nos cercam e nos fazem cometer atitudes estúpidas. É o que se faz com os eventos da nossa vida diária — cada ação gera uma conseqüência, num circuito infinito, e a sua compreensão nos liberta de qualquer negativismo.
Porém, isso não significa pensar o tempo todo antes de cada ação; na verdade, é viver a vida plenamente sem culpas ou tabus.
No entanto, existe um carma mais complexo do qual o ser humano precisa se livrar: a autopiedade. Vê-se isso em frases como “por que Deus fez isso comigo?”, “por que estou sendo punido?”, “será que eu só mereço isso?”, “mas eu sempre ajudei as pessoas…”.
Ou, ainda, nas pessoas que ajudam o próximo por temerem a “outra vida” — compram cartões de Natal de crianças com deficiência não porque acham maravilhoso o trabalho que essas entidades realizam, mas para contar pontos na “caderneta espiritual”.
Esses seres acreditam que “ganham” darma quando, na verdade, geram carma, pois não entendem as reais motivações (darma) — egoísmo puro e justificado — que as levam a agir dessa forma; a compreensão se esvai em prepotência e orgulho.
Portanto, carma e darma não são culpa e redenção. São vida e responsabilidade, coerência de idéias e ações; é a compreensão de que a espiritualidade implica em viver com respeito e pelos motivos certos. Pois de erros e egoísmo, o planeta Terra já está no seu limite.
A não ser que você queira um ponto “negativo” a mais na sua “caderneta espiritual”.