Os resultados preliminares na Alemanha mostram que uma a cada três pessoas com menos de 30 anos votou pelos Verdes.
Fonte: BBC.
“Eu me perguntei qual seria a resposta deste país se, digamos, 70 jornais publicassem um apelo conjunto dois dias antes das eleições dizendo: ‘Não vote na CDU ou no SPD (partidos alemães)'”.
A reclamação veio de Annegret Kramp-Karrenbauer, tida até há pouco como a herdeira política da chanceler alemã Angela Merkel e hoje líder do partido de ambas, a União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão), no poder desde novembro de 2005.
A manifestação de AKK, como é conhecida, feita a repórteres na segunda-feira dia 27, tem como alvo, na verdade, não 70 jornais – mas mais de 70 youtubers.
Na véspera das eleições para o Parlamento Europeu – realizadas no continente entre os dias 23 e 26, e especificamente na Alemanha no dia 26 -, estes influenciadores digitais publicaram um vídeo conjunto pedindo que os jovens não votassem na CDU e nem no Partido Social Democrata (SPD, na sigla em alemão), siglas tradicionais do país. Também incentivaram a rejeição ao voto no Alternativa para a Alemanha (AfD), partido eurocético e de extrema-direita.
O motivo?
“Há muitas questões políticas importantes, mas na hierarquia dos riscos, a destruição potencial do nosso planeta parece ter a mais alta prioridade”, diz um texto que acompanha o vídeo, que ganhou a adesão de mais youtubers, totalizando mais de 90 abaixo-assinados, e já teve mais de 3,4 milhões de visualizações.
A preocupação ambiental da juventude alemã exemplificada pelos youtubers deu sinais evidentes – e decisivos – nesta eleição. Segundo Jenny Hill, correspondente da BBC em Berlim, os Verdes foram o partido que conseguiu captar esta insatisfação, enquanto outras legendas não foram capazes de formar uma política coerente nesta área.
Os resultados preliminares na Alemanha mostram que uma a cada três pessoas com menos de 30 anos votou pelos Verdes.
Ascensão verde
Os influenciadores argumentaram que a CDU e o SPD falharam, no poder, em lidar com as mudanças climáticas e que o AfD, por sua parte, “até nega o consenso” dos cientistas sobre os efeitos da ação humana no planeta.
Resultados preliminares mostram que a CDU ficou em primeiro lugar na disputa alemã, com cerca de 29% dos votos; em segundo, os Verdes (aproximadamente 21%); em terceiro, o SPD (16%); e em quarto, o AfD (11%). Mas, para alguns analistas, na verdade o grande vencedor é o segundo colocado – por seu crescimento dobrado desde o último pleito, em contraposição ao enxugamento da CDU e do SPD.
Ao comentar os resultados nesta segunda-feira, Annegret Kramp-Karrenbauer resgatou a publicação dos youtubers, fazendo a analogia com a hipótese de um posicionamento conjunto de 70 jornais: “Seria uma clara propaganda antes da eleição, e acredito que teria provocado um debate agitado”.
“Então a questão permanece: quais são as regras da era analógica e como elas se aplicam na era digital?”, questionou.
Depois da declaração, AKK precisou passar as próximas horas negando que estivesse propondo uma censura. Ela também precisou lidar com informações de bastidores de que seu partido e Merkel estavam decepcionados com seu desempenho como um todo à frente da campanha eleitoral, o que coloca seu apelido de “herdeira de Merkel” agora em suspenso.
‘Vídeo de destruição’
Mas, na verdade, as críticas aos partidos tradicionais emitidas a partir do Youtube vieram ainda antes do vídeo feito conjuntamente pelos 90 influenciadores.
Em 18 de maio, um youtuber de cabelo tingido de azul, boné e casaco laranja postou um vídeo de 55 minutos intitulado, em tradução livre, “A destruição da CDU”.
Era Rezo, de 26 anos, cujo canal tem mais de 883 mil seguidores – habituados a assistir vídeos sobre música e de humor.
Mas no vídeo “destruidor”, hoje com mais de 13 milhões de visualizações, o jovem atacou a “política tradicional” – com críticas à inação da CDU e do SDP em relação às mudanças climáticas e o pedido direto para que não se votasse no AfD, sigla que segundo ele “só poderia fazer o planeta piorar”.
O youtuber falou também sobre temas como desigualdade de oportunidades e direitos autorais.
O vídeo gerou reações dissonantes dos partidos tradicionais. Na CDU, enquanto alguns políticos acolheram as reivindicações do youtuber para o meio ambiente, um porta-voz disse que o jovem fez colocações superficiais e, em alguns casos, falsas; e, inicialmente, afirmou também que o partido publicaria um vídeo de resposta – o que acabou não acontecendo.
Devemos estar sempre em defesa do verde e da Natureza !