Um britânico e um irlandês foram registrados como novas vítimas fatais; pelo menos quatro mortes foram atribuídas a “engarrafamentos”.
Fontes: Gazeta do Povo; Gauchazh; Veja.
Subiu para dez, neste sábado (25), o número de mortos no pico do Everest, o mais elevado do planeta, no Nepal, na atual temporada de escalada da região – o dobro do número registrado de vítimas da temporada anterior.
Os últimos mortos foram um alpinista britânico e outro irlandês, que morreram no Everest, elevando a 10 o número de vítimas fatais na maior montanha do planeta na atual temporada, onde o grande fluxo cria perigosos “engarrafamentos” na chamada “zona da morte”.
– Um alpinista britânico chegou ao pico da montanha, mas desmaiou e morreu 150 metros abaixo – afirmou Murari Sharma, da Expedição Everest Parivar. A vítima era Robin Fisher, de 44 anos. – Nossos guias tentaram ajudá-lo, mas ele faleceu pouco depois do desmaio – declarou.
Outro organizador de escaladas confirmou a morte de um irlandês de 56 anos na sexta-feira no flanco tibetano da montanha.
Ele havia decidido retornar sem ter alcançado o pico, mas morreu na tenda de campanha no North Col, uma passagem da montanha a 7.000 metros de altitude.
Esta semana também morreram um alpinista americano, um austríaco, um nepalês e quatro indianos. Um irlandês está desaparecido e foi dado como morto depois de ter caído perto do pico.
Ao menos quatro mortes foram atribuídas aos engarrafamentos na chamada “zona da morte”.
Desde o início desta temporada, foram registradas cenas de engarrafamentos impressionantes na montanha de 8.848 metros de altitude. O período entre o fim de abril e o mês de maio é considerado mais vantajoso para a escalada do monte, pois as condições meteorológicas são menos extremas.
Até sexta-feira, quase 600 alpinistas alcançaram o topo do Everest na temporada, de acordo com dados divulgados pelas autoridades nepalesas.
Fotos impactantes divulgadas nos últimos dias mostram uma longa fila de alpinistas, muito próximos uns dos outros, arrastando suas botas de escalada na área entre o cume e o desfiladeiro sul, onde fica o último acampamento na encosta do Nepal.
Os analistas afirmam que o engarrafamento é provocado pela proliferação de permissões de escalada, assim como pelo reduzido número de “janelas” meteorológicas adequadas para chegar ao topo. Desta maneira, todas as expedições iniciam o ataque final ao Everest durante os mesmos dias.
Na altura extrema, o oxigênio é mais escasso na atmosfera, e os alpinistas precisam recorrer a garrafas de oxigênio para alcançar o topo.
Uma altitude de 8 mil metros acima do nível do mar é considerada a “zona da morte”.
– Permanecer muito tempo na zona da morte aumenta os riscos de congelamento, de sofrer o mal da altitude, ou mesmo de morte – explica Ang Tsering Sherpa, ex-presidente da Associação de Alpinistas do Nepal.
No ano passado, foram registradas cinco mortes na temporada de escalada do Everest. Desde que as autoridades nepalesas liberaram a escalada no Monte Everest nos anos 1990, as expedições comerciais aumentaram, assim como o número de alpinistas.
Este ano, o Nepal concedeu para a temporada de primavera (hemisfério norte) o recorde de 381 permissões, ao preço de 11.000 dólares por pessoa, de acordo com os últimos dados disponíveis.
Cada titular de uma permissão é acompanhado por um guia, o que significa que mais de 750 pessoas estão na rota para a escalada. Ao menos 140 receberam permissões para escalar o Everest a partir do flanco norte, no Tibete.
A cirurgiã plástica Ana Elisa Boscarioli, de 53 anos, completou a escalada em maio de 2006 e tornou-se a primeira mulher brasileira a alcançar esse feito. A paulista se preparou para a aventura por sete anos, com escaladas menores e cursos na Bolívia. Ainda assim, relata ter sentido muita dificuldade no trecho final do Everest.
“Paramos por 10 minutos em uma plataforma para beber água e comer algo, e comecei a congelar. Meus pés e mãos doíam muito”, conta. “É impossível ficar parado naquela altitude, não imagino como as pessoas têm ficado tanto tempo nas filas”, diz.
A médica fez a escalada com uma equipe de dezesseis pessoas e afirma ter considerado o grupo muito grande para avançar até o cume. Durante as janelas meteorológicas deste ano,porém, há relatos da presença de mais de 250 pessoas enfileiradas no trecho final para chegar ao topo.
“Muita coisa pode dar errado, ficamos por um fio”, diz Boscarioli. “Hoje em dia, tenho mais medo de morrer. Não sei se repetiria a escala.”
Na chamada “zona da morte”, os montanhistas precisam atravessar um caminho estreito, apoiando-se em uma corda fixa e sem conseguirem enxergar bem. “É muito difícil fazer uma ultrapassagem, o que exigiria um esforço enorme”, afirma Ana Elisa.
A paulista enfrentou ainda uma situação trágica durante sua expedição. Seu amigo Vitor Negrete morreu ao tentar escalar o Everest sem o auxílio de cilindros de oxigênio extra apenas um dia antes de ela alcançar o topo da montanha.
“Só fiquei sabendo da morte na descida”, diz. “Acho que, se descobrisse antes, eu não teria conseguido chegar ao cume.”