Vegano Periférico: perfil dos gêmeos de Campinas no Instagram mostra que dá para ser vegano gastando pouco

Gêmeos de Campinas bombam no Instagram, com mais de 190 mil seguidores, mostram veganismo sem glamour: “É possível ser pobre e vegano”, e confrontam a ideia de que o movimento que luta contra a exploração animal é “coisa de gente rica”. No final de 2020 foi feito um documentário independente sobre a vida deles.

Fontes: G1; Hypeness; PortalVeg.

Leonardo e Eduardo Santos são autores da página no Instagram ‘Vegano Periférico’, seguida por mais de 170 mil pessoas — Foto: Victória Cócolo/ G1

Entre razões ambientais e compaixão pelos bichos, o número de pessoas repensando o consumo de carne só cresce em todo o mundo. Grandes marcas estão se adaptando a essa realidade, mas muita gente ainda vê um empecilho grande no vegetarianismo ou veganismo: parece ser uma forma mais cara de se alimentar.

Há algumas iniciativas independentes que buscam desmistificar essa ideia e mostrar que o estilo de vida vegano não é, necessariamente, mais caro que outros. Depois do grupo Veganos Pobres no Facebook, um que tem ganho destaque é o Vegano Periférico, no Instagram.

Criado pelos gêmeos Leonardo e Eduardo Santos, moradores da periferia de Campinas (SP), o ‘Vegano Periférico’ nasceu com a ideia de mostrar que deixar de consumir produtos de origem animal é uma escolha não apenas de quem tem mais recursos, mas de todos.

Com 190 mil seguidores no Instagram, o perfil reúne receitas, fotos e relatos em prol do veganismo, de quem vive a escolha e compartilha a realidade financeira da maior parte da população, sem o glamour que tanto acompanha as redes sociais.

“Não é porque você é pobre que não pode escolher o que comer. Falar direto e reto, sem frases em inglês e mostrar uma alimentação barata: arroz, feijão, macarrão, frutas, legumes e verduras”, diz Leonardo.

“É possível ser pobre, periférico e vegano. A gente não está falando da boca para fora, não lemos em um livro. A gente vive isso no dia a dia”, completa Eduardo.

Página ‘Vegano Periférico’ — Foto: Reprodução/Instagram

Como se tornaram veganos:

Aos 23 anos, os irmãos mostram engajamento na causa vegana, mas nem sempre foi assim. Criados no Parque Itajaí, bairro distante 25km da região central de Campinas, os gêmeos contam que vegetarianismo e veganismo eram conceitos muito distantes da realidade em que viviam.

A compaixão pelos animais entrou na vida de Eduardo em 2015, depois que um caminhão que transportava porcos tombou no trecho Oeste do Rodoanel. Foi a primeira vez que ele teve contato com o tratamento ‘objetificado’ recebido pelos bichos.

“Perguntei para minha namorada qual era a diferença entre a nossa cadela de estimação e aqueles leitões. Concluímos que não havia nenhuma”, conta.

Apesar de também ter se comovido com o incidente, Leonardo aderiu ao estilo de vida apenas dois anos depois do irmão e da cunhada, em 2017.

“Na periferia a ideia é que você tem que trabalhar para não morrer de fome. Quando você faz escolhas no campo mais reflexivo, como ser vegano, escuta: Para de pensar nisso. Já enviou seu currículo?”, afirma Leonardo.

Motivados pela falta de representatividade no meio, também em 2017, os irmãos resolveram criar o perfil na tentativa de dialogar com as classes mais populares. “A ideia inicial foi mostrar que não é só a classe média que pode ser vegana”, explica Leonardo.

Quatrocentos reais cada um. Esse é o valor que Eduardo, que trabalha como atendente de um café, e Leonardo, auxiliar de cozinha em um restaurante, dizem gastar, em média, com as compras do mês. Isso inclui comida para café da manhã, almoço, jantar, produtos de limpeza e todo o resto que precisam.

Antes do veganismo, os irmãos eram ligados a uma dieta rica em industrializados e carnes. O consumo de alimentos mais naturais se tornou hábito depois. “Na periferia se tem a ideia de que consumir esses produtos é estar bem socialmente. Se sente alegria em comprar bolacha, iogurte, picanha. Isso precisa ser desconstruído”, conta Leonardo.

O segredo para gastar pouco, explicam, é simplificar a rotina. Os gêmeos relatam que, se há recursos, adquirem o produto de desejo; se não, deixam de consumir.

“A gente tem uma noção errada sobre o que é comida. Às vezes a gente olha para o congelador e se não tiver nada, já corremos para o açougue”, exemplifica Eduardo.


Página ‘Vegano Periférico’ — Foto: Reprodução/Instagram

Sem rostos:

Sem mostrar quem são no Instagram, a dupla nada contra a corrente da ‘onda’ de digital influencers. Para eles, quando se carrega o nome de um movimento é necessário tomar cuidado com o ‘exibicionismo’.

“A gente vê que há uma glamourização nesse meio. Isso incomoda”, garante Eduardo.

“Queremos que as pessoas se identifiquem com o conteúdo, não que a página fique conhecida pelos gêmeos. Dessa forma, todos podem ser o ‘vegano periférico”, conclui Leonardo.

Acompanhando as imagens, são postadas legendas sobre as maneiras como a indústria da carne nos torna culturalmente dependentes dos alimentos de origem animal. Vale a pena seguir e refletir.

Página ‘Vegano Periférico’ mostra a rotina de jovens que aderiram ao estilo de vida ‘gastando pouco’ — Foto: Reprodução/Instagram

Documentário “Vegano Periférico”

No Dia Mundial do Veganismo, no domingo (01/11/20), a Mídia Ninja e a Xepa Ativismo, em parceria com a produtora Habitat Filmes, lançaram o documentário “Vegano Periférico” no YouTube. Filme conta a história dos irmãos Leonardo e Eduardo Luvizetto.

O filme é dirigido por Rauany Nunes e foi produzido durante 1 ano e 7 meses. Ruany destaca a importância do documentário ter sido feito de forma independente, desde a sua concepção à pós-produção, para que o modelo de criação se assemelhe à mensagem do documentário.

“Eu queria ter uma relação próxima do projeto e dos meninos, porque se tivéssemos aceitado uma parceria com uma grande empresa, uma super produção com vários envolvidos externos, um monte de equipamento de luz e gravação, como é que os entrevistados e a mensagem iriam se apresentar? Isso foi uma questão muito importante para mim, que eles estivessem confortáveis e que isso se refletisse durante a produção”, conta.

Além de narrar a história dos irmãos, o documentário também traz entrevistas com familiares de Leonardo e Eduardo, agricultores da horta orgânica do bairro Parque Itajaí em Campinas, e voluntários do santuário de acolhimento animal Terra dos Bichos.

Confira:



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