A breve América Holandesa

O processo de colonização neerlandesa da América começou com postos de comércio e plantações nas Américas, cujo estabelecimento precedeu as atividades de colonização bem mais conhecidas dos holandeses na Ásia.

Do livro “Rumos do Mundo – Américas e as Américas – Pierre Chaunu”.

Imagem do livro “Rumos do Mundo – Américas e as Américas – Pierre Chaunu” pg 139.

Por  volta  de  1570  o  açúcar  ocupou,  por  mais  de  um  século, o  primeiro posto da economia brasileira.  Mas o açúcar do século XVII vai tentar os Holandeses.  Estes,  entre   1599  e  1609,  já  se tinham  instalado, é verdade, momentaneamente e para  seu  abastecimento de sal de Araya, no setor teoricamente  espanhol  de  uma  costa  deserta  da  Terra  Firme.

A exploração das salinas culmina entre 1599 e 1609; por volta de 1604-1605 várias centenas de pequenos navios de fundo chato asseguram, cada ano, o aprovisionamento da Europa do Norte de sal americano, no momento em que o aprovisionamento normal com sal português, de Setúbal, está efetivamente entravado. Mas esta atividade dura pouco. No entanto, os holandeses multiplicam seus esforços em todas as costas da América.

Após 1609, o movimento precisa-se. Os primeiros empreendimentos um pouco sérios em direção da Guiana, a costa selvagem, as primeiras sondagens em direção do Prata; Fort Orange (imagem abaixo), perto de Albany, é criado em 1614 com o objectivo de assegurar o comércio no espaço da baía de Hudson. Melhor: este imperialismo encontra em Willem Usselincx um propagandista e um teórico. Este refugiado ardente de paixão, procura do outro lado do oceano novas pátrias onde implantar um evangelismo calvinista intransigente e duro.

Em 2 de Junho de 1621, o nascimento da Companhia das índias Ocidentais, com meios logo de início superiores àqueles da ancestral oriental de 1602, forneceu aos círculos tocados pelo messianismo concreto de Usselincx o instrumento da sua política, no momento em que a Holanda se inclina para o Atlântico. Ela se apoia concretamente sobre os meios que acabam de fazer triunfar em Dordrecht (1618-1619) uma expressão infeliz na forma, mas fiel da ortodoxia reformada na linha calvinista. Na medida cm que para além das definições teológicas, gomarismo e arminia­nismo exprimem atitudes globais diante da vida, o empreendimento americano da Holanda é gomariano como o empreendimento oriental é arminiano.

“Fort Orange, 1635” ©1986 L.F. Tantillo (artist) & M.B. Picotte

O Brasil holandês

É preciso esperar por 1624 para que uma grande expedição coman­dada por Jakobs Willekens, tendo como seu segundo o grande Piet Heyn (26 velas, 450 canhões, 3 300 homens) apareça em 8 de Maio de 1624 ao largo da Bahia, que cai no dia 10. Má escolha. A Bahia, apesar do seu grande prestígio, não mais é o centro do Brasil açucareiro. Tomando-a como alvo e não Recife, a Companhia das índias Ocidentais alonga inutilmente de 20% as suas linhas de comunicação. Escolhendo a Bahia, ela parece por outro lado visar o Peru, a longo prazo, e ameaça a Espanha no coração. Daí uma dupla resposta, cuja amplidão e eficácia surpreenderam: imediatamente o cerco de Breda por Ambrósio de Spinola , depois o envio da grande armada sevilhana de Don Henrique de Toledo y Osório. Em 1624, além disso, o tráfico espanhol no Atlântico está em plena recuperação. Em torno de 1626, situa-se a verdadeira reviravolta. Então alargou-se a campanha de Piet Heyn contra as possessões espanholas no curso do Inverno de 1626-1627, e a captura em Matanzas (7 e 8 de Setembro de 1628) de 80 toneladas de prata da frota da Nova Espanha. É, bem mais que 1588, o fim do poderio espanhol.

É a tomada lógica de Recife em 1630 que marca o ponto de partida do Brasil holandês. De conquista em conquista terminou em 1643 por cobrir 2.000 km de costa, do Rio Real ao sul de Sergipe do Rei até São Luís do Maranhão, 60% pelo menos da produção açucareira. Várias centenas de pequenos navios asseguram a  ligação (contam-se  806  de  1623  até  1636). O total das tomadias em prejuízo do Brasil português eleva-se no mesmo período a 547 navios.

De 1637 a 1641, sob a  administração  de João Maurício de Nassau (Johan Maurits van Nassau-Siegen), o Brasil holandês conheceu sua idade de ouro. Johann Maurits soube ganhar a simpatia dos grandes plantadores. Holandeses e portugueses vivem estes anos em bom entendimento.  O ruir do valor do açúcar em Amsterdam, de 1642 a 1644 destrói este frágil muro de contentamento. Os moradores sublevados em 1644 apoiam as forças vindas da Bahia. O vento mudou de rumo. Tanto mais que os portugueses, sob as ordens de Salvador de Sá, retomaram em Angola o controle  das fontes de aprovisionamento de escravos negros.

A capitulação de Taborda (26 de Janeiro de 1654) e a tomada de Recife em 28 marcam o fim de urna experiência que não deixou de ser levada a cabo com grandeza. Recife conservou até agora a lembrança dos tempos gloriosos dos Flamengos. O Nordeste do Brasil também saiu diretamente marcado deste período. Dez anos de luta aí moldaram uma consciência nacional, da mesma maneira como o fez, no Sul, a aventura dos bandeirantes.

Batalha dos Guararapes, a Insurreição Pernambucana, também referida como Guerra da Luz Divina ocorrida em 1648, durante a segunda das invasões holandesas no Brasil e culminou com a expulsão dos holandeses da região Nordeste do país, devolvendo-a à coroa portuguesa (óleo sobre tela por Victor Meirelles, 1879).


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