A teoria da evolução, do cientista britânico Charles Darwin, é uma das pedras angulares da ciência moderna.
Por BBC; 1001Inventions; Wikipedia.
A ideia de que as espécies mudam gradualmente por meio de um mecanismo chamado de seleção natural revolucionou nossa compreensão do mundo vivo.
Em seu livro A Origem das Espécies, de 1859, Darwin definiu a evolução como uma “descida com modificações”, demonstrando como as diferentes espécies surgiram de um ancestral comum.
Mas parece que a própria teoria da evolução também tem um ancestral no mundo islâmico.
Seleção natural
Cerca de mil anos antes de Darwin, um filósofo muçulmano que vivia no Iraque, conhecido como Al-Jahiz, escreveu um livro sobre como os animais mudam através de um processo que também chamou de seleção natural.
Seu nome real era Abu Usman Amr Bahr Alkanani al-Basri ( árabe : أبو عثمان عمرو بن بحر الكناني البصري ). Seu apelido, Al-Jahiz, significa alguém com olhos esbugalhados.
Não é a forma mais amistosa de chamar alguém, mas a fama de al-Jahiz se deve mesmo a seu livro Kitab al-Hayawan (O livro dos animais, em tradução livre).
Ele nasceu no ano 776 na cidade de Baçorá (Basra em inglês), sul do atual Iraque, numa época em que o movimento Mutazilah – uma escola de pensamento teológico que defendia o exercício da razão humana – estava crescendo na região, no auge do califado Abássida.
Obras acadêmicas eram traduzidas do grego para o árabe, e Baçorá sediava importantes debates sobre religião, ciência e filosofia que moldaram a mente de Al-Jahiz e o ajudaram a formular suas ideias.
Ele vendia peixe ao longo de um dos canais de Baçorá para ajudar sua família. Dificuldades financeiras, no entanto, não impediram Al-Jāḥiẓ de buscar continuamente conhecimento. Ele costumava se reunir com um grupo de outros jovens na principal mesquita de Baçorá, onde eles discutiam diferentes assuntos científicos.
O papel havia sido introduzido no Iraque por comerciantes chineses, o que impulsionou a difusão de ideias, e o jovem Al-Jahiz começou a escrever sobre vários temas.
Seus interesses envolviam muitas áreas acadêmicas, como ciência, geografia, filosofia, gramática árabe e literatura.
Acredita-se que ele tenha publicado 200 livros durante a vida, mas só um terço sobreviveu até nossos dias.
O Livro dos Animais
Sua obra mais famosa, O Livro dos Animais,foi concebida como uma enciclopédia que apresenta 350 espécies.Nela,Al-Jahiz postula ideias que se parecem muito com a teoria da evolução de Darwin.
“Os animais estão envolvidos numa luta pela existência e pelos recursos,para evitar serem comidos e se reproduzirem”,escreve Al-Jahiz.
“Os fatores ambientais influenciam nos organismos fazendo com que desenvolvam novas características para assegurar a sobrevivência,transformando-os assim em novas espécies.”
Ele prossegue:“Os animais que sobrevivem para se reproduzir podem transmitir suas características exitosas a seus descendentes”.
Estava claro para Al-Jahiz que o mundo animal estava numa luta constante para sobreviver,e que uma espécie sempre era mais forte que outra.
Para sobreviver,osanimaistinham de possuir características competitivas para achar comida,evitar virar comida de outros e se reproduzir.Isso os obrigava a mudar de geração em geração.
As ideias de Al-Jahiz influenciaram outros pensadores muçulmanos posteriores.Seu trabalho foi lido por homens como Al-Farabi,Al-Arabi,Al-Biruni e Ibn Khaldun.
O“pai espiritual”do Paquistão,Muhammad Iqbal,também conhecido como Allama Iqbal,reconheceu a importância de Al-Jahiz em sua coleção de conferências,publicadas em 1930.
Iqbal ressaltou que“foi Al-Jahiz quem assinalou as mudanças que se produzem na vida dos animais devido à migração e às mudanças no meio ambiente”.
‘Teoria maometana’
A contribuição do mundo muçulmano à ideia da evolução não era um segredo para intelectuais europeus do século 19. De fato, um contemporâneo de Darwin, o cientista William Draper, falava da “teoria da evolução maometana” em 1878.
No entanto, não há evidências de que Darwin conhecesse o trabalho de Al-Jahiz ou de que entendesse árabe.
É merecida a reputação que o naturalista britânico ganhou como um cientista que passou anos viajando e observando o mundo natural. Ele elaborou sua teoria com detalhes e claridade sem precedentes, transformando a forma com que pensamos o mundo.
Mas o jornalista científico Ehsan Masood, que realizou uma série para a BBC chamada Islam and Science (O Islã e a Ciência), diz que é importante recordar outros que contribuíram com a história do pensamento evolutivo.
Criacionismo
Ehsan Masood também destaca que o criacionismo não parecia existir como um movimento significativo no século 9 no Iraque, quando Bagdá e Baçorá eram os principais centros de ensino avançado na civilização islâmica.
“Os cientistas não passavam horas examinando paisagens da Revelação para ver se eram comparáveis com o conhecimento observado no mundo natural”, escreveu Masood em artigo sobre Al-Jahiz no jornal britânico The Guardian.
Ao fim, foi também a busca pelo conhecimento que provocou a morte de Al-Jahiz. Conta-se que, aos 92 anos, (dezembro 868/janeiro 869), ele tentou alcançar um livro em uma estante pesada, quando a estrutura desabou, matando-o.
Muito bacana, mas essa forma de evoluir (que as espécies mudam PARA sobreviver) está mais pra lamarkismo do que pra darwinismo.