A pedido do PSL, Assembleia de SP fará ato em memória de Pinochet

O evento, solicitado pelo deputado estadual Frederico D’Ávila, do PSL, foi criticado nesta quarta-feira (20) nas redes sociais.

Por Exame.

O ditador chileno Augusto Pinochet – Imagem Marcelo Montecino – Contributor – Getty Images

Está marcado para o próximo dia 10, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), um ato em homenagem à memória do ex-ditador do Chile, Augusto Pinochet.

O evento, disponível no site da Alesp, foi solicitado pelo deputado estadual Frederico D’Ávila, do PSL. Ainda não há detalhes sobre a cerimônia, mas ela foi marcada em meio à onda de protestos no Chile, que questiona a herança constituinte deixada pelo ditador, e que foram reprimidas com abusos da força policial, que é acusada de violação dos direitos humanos, com torturas, mortes, abusos sexuais e de cegar deliberadamente centena de manifestantes.

Nesta sexta-feira (20/11), o ato foi alvo de críticas nas redes sociais. Uma delas envolve o fato de que, na agenda de homenagens, não está escrito o nome completo do ex-ditador, mas sim Augusto P. Ugarte, que é seu nome completo, porém pouco conhecido.

Vão homenagear o Pinochet na Assembleia Legislativa de SP. Agora só falta o próximo da lista ser o Mussolini” pic.twitter.com/rA5S9Yz1TO
— GugaNoblat (@GugaNoblat) November 20, 2019

Assembleia de SP homenageando PINOCHET sorrateiramente” https://t.co/1BUGmJTM5o
— Gustavo Campos (@guhcampos) November 20, 2019

O deputado que apresentou o PL que institui o Programa Cívico-Militar no ensino fundamental e médio da rede pública e privada de ensino no Estado de São Paulo está organizando um ato solene em homenagem a Pinochet na Assembleia Legislativa de SP.” https://t.co/ghUOwAKDjL
— Fernando Cássio (@endromina) November 20, 2019

“A data escolhida é 10 de dezembro: o dia internacional dos direitos humanos. Um escárnio. Um ataque contra as vítimas e famílias.”
A nossos irmãos chilenos, um pedido de desculpas. Vivemos um momento de sombras neste continente
” https://t.co/9Sa7FCZvVu
— Paulo Coelho (@paulocoelho) November 20, 2019

Procurada pela reportagem para esclarecer o evento, a assessoria de imprensa da Alesp ainda não se manifestou.



Esta não é a primeira vez que membros do PSL flertam com a ditadura chilena. Quando ainda era da sigla, o atual presidente Jair Bolsonaro, foi alvo de críticas após atacar a ex-presidente chilena e atual comissária dos Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, que foi torturada na ditadura de Pinochet.

Em setembro, o presidente questionou uma crítica de Bachelet sobre aumento da violência policial e uma redução do “espaço cívico e democrático” no Brasil.

“Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares”, escreveu Bolsonaro em publicação nas redes sociais.

“Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época”, acrescentou Bolsonaro.

Alberto Bachelet, pai de Michelle, foi um brigadeiro-general chileno da Força Aérea do Chile que se opôs ao golpe. Ele foi preso e submetido a tortura por vários meses até sua morte por ataque cardíaco sob custódia.

Segundo o presidente, Bachelet “defende direitos humanos de vagabundos”. “Senhora Michelle Bachelet, se não fosse o pessoal do Pinochet derrotar a esquerda em 1973, entre eles o teu pai, hoje o Chile seria uma Cuba. Eu acho que não preciso falar mais nada para ela. Quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU”.

Bolsonaro tem um longo histórico de defesa da ditadura e da tortura ao longo da sua carreira política. Em julho, atacou a memória do pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, morto pela ditadura militar brasileira, com informações falsas.

Jair Bolsonaro atacou a memória do pai do presidente da OAB Felipe Santa Cruz com informações falsas. (Reprodução)

Ditadura no Chile

Em 11 de setembro de 1973, as Forças Armadas – Marinha, Força Aérea, Exército e Carabineiros (Polícia) – cometeram o golpe militar que levou ao suicídio do presidente socialista Salvador Allende no bombardeado Palácio de La Moneda.

A ação pôs fim ao governo da Unidade Popular, a primeira coalizão marxista eleita nas urnas na América Latina.

A polarização da sociedade, a dura crise econômica e a ingerência dos Estados Unidos em um contexto de Guerra Fria garantiram o terreno para o sucesso do golpe militar que abriu caminho para 17 anos da sangrenta ditadura do general Augusto Pinochet.

Foram mais de 3.200 mortos e 38.000 torturados. Segundo a presidente da Associação de Familiares de Executados Políticos (Afep, na sigla em espanhol), Alicia Lira, há mais de 1.500 casos abertos ainda sem resposta das Forças Armadas.

E foi com o objetivo de virar a página deste período negro do país que Alicia considera que a “Concertación”, coalizão de centro esquerda que assumiu o poder em 1990, “negociou a democracia com Pinochet”.

Falecido em dezembro de 2006 sem ser condenado, Pinochet se manteve como comandante em chefe das Forças Armadas e depois senador vitalício.

Augusto Pinochet. Imagem Domínio Público.


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