Hitler e o plano de reviver animais primitivos da Alemanha

Além de acreditar na superioridade da “raça” ariana, o líder nazista também já quis controlar o mundo animal.

Por Aventuras na História; Smithsonian; Machadinho; Fatos Desconhecidos.

Gravura de um auroque encontrada no século XIX em Augsburg / Imagem Wikipedia

Não muito distante da ideia dos filmes da franquia Jurassic Park, Hitler e os nazistas tinham um plano, no mínimo, insano que envolvia animais — e não humanos como normalmente faziam os obcecados com a “raça” ariana.

A ideia era recriar florestas antigas que estavam no imaginário popular da Alemanha e continham inúmeras espécies de animais também primitivos. Mas isso não era o mais estranho. Eles planejavam, depois de todo o processo, fazer sessões de caça, matando os animais assim que eles fossem reconstituídos. 

O projeto não começou com Hitler. De maneira, ainda, privada, os irmãos zoólogos Lutz e Heinz Heck foram os primeiros a pensarem o plano. Ambos cresceram em um ambiente voltado à criação de animais, o que despertou neles interesse pela zoologia. Junto a essa familiaridade natural, uma moda crescia no mundo e na Alemanha.

A criação de espécies novas tornava-se uma ambição para zoologistas da época ao mesmo tempo que espécies antigas começavam a entrar em extinção. Na nação alemã, as teorias a favor da “pureza” das espécies e dos ecossistemas alemães cresciam cada vez mais.

Foi nesse contexto que os dois começaram a interessar-se por recriar uma espécie de bovino já extinto dos pastos germânicos, o auroque. Eram grandes bovinos selvagens que viviam na Europa e na Ásia extintos no século 17, e nos tarpãs cavalos nativos da Mongólia também extintos.

Um tarpã / Foto: Wikimedia Commons

O lugar escolhido pelos cientistas para “voltar ao tempo” foi a floresta de Bialowieza, na Polônia. O animal, que chegava a quase dois metros de altura e três de comprimento, acabou desaparecendo em 1627 devido à caça excessiva e à competição com gados domésticos. Os irmãos acreditavam que conseguiriam realizar o feito através do cruzamento intenso entre bois com a mesma coloração, comportamento e formato de chifre dos auroques.

Para eles, já que os bois atuais descendiam dos antigos bovinos, a escolha certa de indivíduos faria ressurgir novamente os auroques. A descoberta da dupla hélice dos DNAs ainda não havia acontecido e tudo o que os Heck conheciam sobre a espécie era fruto de descobertas arqueológicas.

Os auroques aparecem em pinturas extremamente antigas. (Wikipedia)

Os Hecks conseguiram reproduzir o que imaginavam que teria sido um auroque, mas apenas 14 anos depois do início da ideia. 

Após viajarem pelo continente buscando os bois apropriados para a produção dos auroques, eles acreditaram ter revivido a espécie em 1930. No futuro, os animais criados seriam conhecidos como “gado Heck” e possuiriam personalidades agressivas, longos chifres e uma capacidade notável de sobreviver sem o auxílio humano. Os rebanhos espalharam-se pelo país. 

Com o tempo, os dois separaram-se. Heinz acabou sendo um dos primeiros presos pela polícia política do partido nazista, em 1930, causado por um breve casamento com uma judia. Mesmo sendo liberado depois, o irmão nunca envolveu-se com as políticas nazistas.

Já Lutz entrou para o partido e ficou amigo de Hermann Goering um dos mais importantes militares do nazismo e segundo em comando de Hitler.

Hermann Göring (Wikimedia Commons)

Hermann Göring ajudou Hitler em relação a experimentos genéticos. Incluindo experiências em humanos, nos campos de concentração. E um desses experimentos era trazer de volta à vida o bisão que havia sido extinto há 9 mil anos. Isso, motivado pela ideia de resgatar alguma coisas relacionadas às tribos germânicas originais.

Ninguém havia dado atenção a eles, até alguns anos atrás, quando alguns documentos do Terceiro Reich foram encontrados. Neles, era explícita a intenção de recuperar geneticamente a espécie, que foi perdida há longos 9 mil anos.

Hermann Göring, que foi tenente de Hitler e chefe da Luftwaffe, liderou esta intensa investigação, na qual se envolveram médicos e biólogos e Lutz. Eles investigaram não somente museus e laboratórios, como também sítios arqueológicos. Eles planejavam criar uma seleção genética e assim localizar o genoma do bisão.

Comparação entre um Arouque e um homem – Reprodução

Experimentos genéticos também foram amplamente realizados em humanos. Especialmente tentando obter uma seleção de características específicas, como olhos claros e cabelos loiros. Uma vez que essas características, para eles, representavam a verdadeira pureza ariana. Os cientistas de Hitler também estavam bastante interessados em gêmeos. Eles queriam descobrir como duas pessoas conseguiam ter aparência tão similar.

Em 1941, Lutz foi encaminhado para o zoológico de Varsóvia, na Polônia, para selecionar os animais que permaneceriam na coleção, que era, a partir daquele momento, de propriedade nazista. Várias espécies, consideradas menos “valiosas”, serviram de caça para os generais. Lutz ainda soltou a criatura na floresta depois dos experimentos.

Lutz Heck com um tamanduá escamoso, 1940 
(Foto Sueddeutsche Zeitung / Alamy Stock Photo)

Lutz continuava a experimentar e recriar espécies como os cavalos selvagens tarpãs e os bisontes-europeus. Os resultados eram soltos pelos campos e serviam como fonte de recreação para Goering, que gostava de caçá-los, imaginando estar em um ambiente genuinamente ariano.

Com o fim da guerra, porém, a maioria dos animais recriados pelos Heinz foram dizimados pelos aliados.

Ainda que pudesse parecer fisicamente com o animal, outros especialistas que analisaram a pesquisa disseram que, geneticamente, o bovino primitivo estava muito distante do que foi feito pelos nazistas.

Alguns dos bois Heck sobreviveram, mas foram poucos, afirmam pesquisadores. Seus descendentes podem ser vistos hoje em alguns zoológicos. O mesmo ocorre com os cavalos terpã e Bialowieza cresce hoje como uma vasta reserva natural, localizada entre a Polônia e a Bielorrússia.

Recentemente, em 2015 um fazendeiro de Devon, condado rural no sul da Grã-Bretanha, viu-se forçado a sacrificar metade das 12 vacas ‘nazistas’ que adquiriu em 2009.

Os animais, sobreviventes da raça Heck criada nos anos 30, atacaram diversos funcionários da fazenda.

“Algumas vacas estavam tão agressivas que nós não conseguíamos lidar com elas. Atacavam na menor oportunidade que tinham. Trata-se da raça de gado mais braba com que há trabalhei”, afirmou Derek Gow, o fazendeiro.

A carne das vacas sacrificadas foi usada para fabricar salsichas, que, segundo Gow, eram “deliciosas”.

O projeto de reviver o bisão pré-histórico não resultou em, basicamente, nada. Ao menos é o que se sabe. Outro projeto inconclusivo como este foi a busca pelo Santo Graal. Bem como a Arca da Aliança e a Lança do Destino. Os diversos tentáculos do Terceiro Reich aparentemente não tentavam conquistar apenas o mundo, mas também suas relíquias, fantasmas do passado e criaturas pré-históricas.

Criadas a pedido do regime nazista nos anos 30, as vacas foram uma tentativa de “ressuscitar” o Bisão Europeu, extinto no século 18 – Foto BBC/PA.


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