“A Saint Arnulf é declaradamente católica; portanto, está a favor de tudo o que ensina a Santa Igreja”, diz a empresa nas redes sociais.
Matéria do HuffPost Brasil e O Dia.
A Saint Arnulf, micro-cervejaria de Montes Claros, no sertão de Minas Gerais, está utilizando as redes sociais para se posicionar de forma contrária ao movimento LGBT. “A cervejaria Saint Arnulf é contra a militância LGBT e não teme perder clientes por isso. Ponto final!”, escreveu, em uma publicação no Facebook no último dia 9.
Em menos de 24 horas, a publicação da cervejaria viralizou nas redes sociais e gerou reação do movimento LGBT e de apoiadores. Publicação, que ainda está no ar, teve mais de 26 mil comentários comentários e 4 mil compartilhamentos.
Deste então, a marca voltou a se posicionar algumas vezes nesse sentido. Ela afirmou ser uma cervejaria “declaradamente católica” e se disse vítima de “manifestações de ódio e incompreensão”. “Respeitamos todas as pessoas, mas jamais aceitaremos o pecado”, completou.
Na última sexta-feira, a cervejaria voltou a associar atos de “vandalismo e obscenidades” à comunidade LGBT e pediu orações de seus clientes e seguidores: “Por favor, reze por essa causa católica levantada pela Sociedade da Santíssima Virgem Maria – SSVM e criminosamente tratada com escárnio e maledicência pela grande imprensa liberal”, concluiu.
Nos comentários da publicação, a marca sofreu críticas de defensores da comunidade LGBT.
“Jesus pregava o amor ao próximo sem distinção! Tão interpretando errado seus ensinamentos, hein!”, escreveu uma usuária da rede.
“Tá na hora de começar a ouvir mais o papa”, comentou outro. Em abril deste ano, o papa Francisco declarou que pessoas que rejeitam homossexuais “não têm coração”.
Devido à repercussão, no dia seguinte à publicação, a empresa publicou um novo posicionamento nas redes sociais. Nele, a cervejaria agradece o apoio que recebeu e afirma que não irá recuar “diante das manifestações de ódio e incompreensão que alguns poucos aqui demonstraram”.
A publicação afirma que a cervejaria foi aconselhada pelo teólogo Carlos Nogué, que segue a mesma linha conservadora da organização cristã, e que irá bloquear todas as pessoas que atacaram a cervejaria diretamente.
“Saiam os que não concordam com as diretivas desse espaço. Façam suas críticas de baixo calão em seus perfis, pois aqui deve imperar o amor ao próximo, os princípios cristãos. Não! Não recuaremos! Respeitamos todas as pessoas, mas JAMAIS aceitaremos o pecado”, diz o comunicado.
Os dados sobre LGBTfobia no Brasil
De acordo com o Atlas da Violência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cresceu 10% o número de notificações de agressão contra gays e 35% contra bissexuais de 2015 para 2016, chegando a um total de 5.930 casos, de abuso sexual a tortura.
Canal oficial do governo, o Disque 100 recebeu 1.720 denúncias de violações de direitos de pessoas LGBT em 2017, sendo 193 homicídios. A limitação do alcance do Estado é admitida pelos próprios integrantes da administração federal, devido à subnotificação e falta de dados oficiais.
Por esse motivo, os levantamentos do Grupo Gay da Bahia, iniciados na década de 1980, se tornaram referência. Em 2018, a organização contabilizou 420 mortes de LGBTs decorrentes de homicídios ou suicídios causados pela discriminação. O relatório “População LGBT Morta do Brasil” mostra, ainda, um aumento dos casos desde 2001, quando houve 130 mortes.
O grupo divulgou nova pesquisa que aponta 141 vítimas entre janeiro e o dia 15 de maio deste ano. De acordo com o relatório, ocorreram 126 homicídios e 15 suicídios, o que dá uma média de uma morte a cada 23 horas por homofobia.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em junho deste ano, que a LGBTfobia deve ser equiparada ao crime de racismo até que o Congresso Nacional crie uma legislação específica sobre este tipo de violência. Pena é de até 3 anos e crime será inafiançável e imprescritível, como o racismo.