Acidente espacial israelense espalha milhares de tardígrados pela Lua

Do alto de seu meio milímetro de tamanho, tardígrados são uma das criaturas mais resistentes da Terra. Com sorte eles têm chances de retornar intactos de uma visita ao espaço.

Fontes: Isto É; Super Interssante; Galileu; Terra.

Os tardígrados podem ser ‘ressuscitados’ mesmo depois de desidratados (FOTO: FLICKR/KATEXIC PUBLICATIONS)

Pode haver vida na Lua, no fim das contas: criaturas virtualmente indestrutíveis que suportam radiação extrema, calor crepitante, baixíssimas temperaturas e décadas sem comida.

Mas não são alienígenas, são terráqueos microscópicos conhecidos como tardígrados, considerados como alguns dos mais indestrutíveis do planeta Terra, que provavelmente sobreviveram à queda durante uma tentativa de pouso na superfície lunar da sonda israelense Beresheet em abril, informou a organização responsável pela viagem nesta terça-feira 06/08/19.

Com base em uma análise da trajetória da espaçonave e da composição do dispositivo em que os animais microscópicos haviam sido armazenados, “acreditamos que as chances de sobrevivência para os tardígrados (…) são extremamente altas”, disse à AFP Nova Spivack, fundador da Arch Mission Foundation.

A organização sem fins lucrativos dedica-se a espalhar cópias do conhecimento humano e da biologia da Terra em todo o Sistema Solar, uma missão que equipara à criação de uma “Enciclopédia Galática” como um presente para o futuro.

“Os tardígrados são ideais para incluir porque são microscópicos, multicelulares e uma das formas mais duráveis de vida no planeta Terra”, disse Spivack.

Ele acrescentou que as criaturas diminutas, que têm menos de um milímetro, foram desidratadas, colocadas em animação suspensa e depois encapsuladas em âmbar artificial. , e deveriam reviver no futuro.

A Arch Mission Foundation mantém uma espécie de “backup” do planeta Terra – com o conhecimento humano e a biologia do planeta armazenados e enviados para vários locais do espaço no caso de a vida ser extinta por aqui.

Os tardígrados foram armazenados dentro da “Biblioteca Lunar”, um dispositivo de nanotecnologia que se assemelha a um DVD e contém um arquivo de 30 milhões de páginas da história humana visível sob microscópios, assim como DNA humano.

Twitter do Nova Spivack, fundador da Arch Mission Foundation.

O ” Highlander” do mundo animal

O filo sobreviveu às cinco principais extinções em massa ocorridas na Terra

Os fósseis dos tardígrados são de mais de 500 milhões de anos atrás, quando os primeiros animais mais complexos estavam começando a se desenvolver.

O filo foi descoberto por um pastor chamado Johann August Ephraim Goeze em 1773. Mas foi só três anos depois, na Itália, que as habilidades especiais dos tardígrados foram reconhecidas. Ao adicionar água aos sedimentos restantes da calha após uma chuva e observar a mistura em um microscópio, o clérigo e cientista Lazzaro Spanllanzani encontrou centenas de criaturas com formato de ursos nadando.

Ele as chamou de “il Tardigrado”, que significa “as que se movem devagar”, por conta dos ritmos delas. Até o momento foram descobertas cerca de 1000 espécies de tardígrados. 

Os tardígrados também possuem uma espécie de “kryptonita”, que não é tão ruim quanto parece: eles precisam estar sempre na água, caso contrário, ficam desidratados e em entram em um estado de hibernação. Trata-se do processo de criptobiose, no qual os tardígrados se encolhem em uma espécie de bolinha e produzem um revestimento extra em seus corpos que os protege de elementos que poderiam matá-los.

Os tardígrados podem sobreviver a temepraturas extremas  (STEVE GSCHMEISSNER/Getty Images)

Chances de sobrevivência

Para a maioria das criaturas, não haveria volta para o estado de desidratação – a vida sem água é quase impossível.

Os tardígrados, também chamados de ursos d’água, podem viver na água ou em terra, e são capazes de sobreviver a temperaturas de até 150 graus Celsius e até -272 graus Celsius, embora por alguns minutos.

Os tardígrados podem passar até décadas desidratados e depois serem trazidos de volta à vida. Os cientistas descobriram que eles têm o que se assemelha quase a um super poder.

Quando secos, eles retraem a cabeça e as oito patas, se encolhem em uma minúscula bola e entram em um estado profundo de animação suspensa parecido com a morte.

Eles perdem quase toda a água do corpo e seu metabolismo diminui para 0,01% da taxa normal. Caso sejam reintroduzidos na água décadas mais tarde, podem se reanimar.

Os tardígrados foram os primeiros animais a sobreviver sem proteção no espaço, em 2007, e esse feito fez deles candidatos perfeitos para a biblioteca lunar do Arch Mission.

“Os tardígrados são ideais porque são microscópicos, multicelulares e uma das formas mais duráveis de vida no planeta Terra”, disse Nova.

Mesmo que esse seres tenham sobrevivido ao impacto na Lua, esse fato pode não ser tão bom assim, segundo alguns especialistas.

“O que isso significa é que o chamado ‘ambiente intocado’ da Lua foi quebrado”, disse Monica Grady, professora da Open University.

Quando as espaçonaves saem da Terra, elas são obrigadas pelo Tratado do Espaço Exterior a não contaminar seu ambiente.

“Você pode dizer que foi quebrado em 1969 quando Neil Armstrong e Buzz Aldrin estavam lá, o que é verdade, mas desde então nos tornamos muito mais conscientes de como devemos preservar esses corpos planetários”, disse.

“Não acho que alguém tenha permissão para distribuir tardígrados desidratados sobre a superfície da Lua. Então, isso não é uma coisa boa.”

Se os tardígrados estão na Lua, é muito improvável que eles possam voltar à vida sem serem reintroduzidos na água.

Mas seria teoricamente possível que os tardígrados fossem coletados, trazidos de volta à Terra, reanimados e estudados.

Os tardígrados costumam ser os primeiros a colonizar ambientes rigorosos. O biólogo Byron Adams, da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, deu um exemplo em entrevista ao Vox: “Quando um vulcão entra em erupção e a lava passa por todo o ecossistema, este morre. Nesse caso, os tardígrados são os primeiros animais multicelulares a colonizar o ambiente. Eles se alimentam de micróbios que vivem por ali”. A partir dai, os tardígrados acumulam elementos essenciais para a vida, como nitrogênio, carbono e fósforo, e conseguem sobreviver

Parece que os tardígrados estão na frente da corrida da colonização espacial, mas você não precisa ir à lua ou até um vulcão para encontrá-lo.



Como encontrar um tardígrado

Apesar de terem entre 0,3 a 0,5 milímetros de comprimento, os tardígrados podem ser encontrados facilmente. A Faculdade Carleton, nos Estados Unidos, inclusive, fez um guia de como encontrar as criaturas. Confira algumas das dicas:

1. Colete um montinho de musgo ou líquen (seco ou úmido) e o coloque em um prato raso. 

2. Deixe ensopado de água (de preferência água da chuva ou água destilada) por até 24 horas. 

3. Remova e descarte o restante da água.

4. Chacoalhe ou esprema os montinhos de musgo/líquen em outra louça para coletar a água que ficou acumulada. 

5. Examine essa água em um microscópio. 

Os tardígrados podem ser ‘revividos’ mesmo depois de desidratados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil


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