Estudo demostra que algumas espécies já nascem com uma “proteção” a inseticidas que nunca haviam entrado em contato e evolução ocorre de forma rápida.
Depois de tantos anos de contato com inseticidas e outros produtos destinados para matá-las, as baratas estão se tornando mais resistentes aos venenos. É o que indica uma pesquisa feita por cientistas da Universidade Purdue publicada na revista científica Scientific Reports, da Nature. A espécie estudada foi a da barata-gêrmanica (Blattella germanica), comum nas áreas urbanas e rurais.
Os pesquisadores encontraram evidências de que os filhotes dessas baratas já nascem com resistência cruzada aos venenos e químicos mais potentes no mercado. Esse tipo de resistência vem sendo estudado por cientistas de todo o mundo desde a década de 1950.
Conforme os preceitos da seleção natural, da Teoria da Evolução, de Charles Darwin, quando um fator elimina os exemplares mais fracos da espécie, acaba fazendo com que somente os mais aptos, fortes e resistentes a essa ameaça continuem vivos.
Assim, os mais fortes se reproduzem e a espécie “adquire”, com o passar do tempo, novas características, resistentes a ameaças mais comuns. Por isso se diz que as baratas “desenvolvem resistência” a inseticidas.
Na verdade, os inseticidas selecionam os indivíduos mais fortes da espécie.
Muitas vezes, isso acontece dentro de uma única geração de baratas. Um dos autores do estudo, o professor da Universidade Purdue, Michael Scharf, disse que a descoberta é repentina. “Não tínhamos a menor ideia de que algo assim poderia acontecer tão rápido. Baratas que desenvolvem resistência a múltiplas classes de inseticidas de uma só vez tornarão o controle dessas pragas quase impossível apenas com produtos químicos”, afirmou em comunicado.
Para a pesquisa, foram testados os efeitos de três cursos diferentes de inseticidas em populações de baratas em prédios de apartamentos em Danville, Illinois, e em Indianapolis, Indiana, por um período de seis meses. Os pesquisadores expuseram um grupo de baratas a um único inseticida. Uma segunda população de baratas recebeu dois inseticidas de diferentes classes. E a terceira foi recebeu dosagens alternadas de três inseticidas – um por mês, durante dois ciclos de três meses.
Além disso, os cientistas também estudaram a resistência das baratas a inseticidas ao longo de várias gerações, prendendo baratas vivas para levar ao laboratório em potes de comida para bebês, repletos de pão ensopado de cerveja. Na maioria dos casos, as populações de baratas permaneceram estáveis ou se multiplicaram, e os pesticidas foram considerados inúteis na redução da quantidade de insetos.
Os filhotes de baratas não só resistiram ao pesticida, mas também mostraram sinais de resistência a outras classes de inseticidas, de acordo com o estudo. Porém, em outro experimento, um outro grupo de insetos teve um pouco mais de resistência. Neste, o número de baratas aumentou, tendo os sobreviventes gerado filhos igualmente resistentes.
Apesar do nojo ser o principal motivo para o uso indiscriminado de inseticidas, o controle das populações de baratas deve ser feito por que elas podem provocar asma e rinite, além de servir de vetor para bactérias como a E. Coli e a Salmonella.
Para combater os animais, Scharf recomenda investir mais em armadilhas mais avançadas, melhorias no saneamento básico e aspiradores de pó, para reduzir o risco de bactérias e doenças espalhadas por estas baratas, já que apenas uma barata da espécie alemã pode colocar cerca de 400 ovos durante toda a sua vida.
“Alguns desses métodos são mais caros do que usar apenas inseticidas, mas se esses inseticidas não vão controlar ou eliminar uma população, você está apenas jogando dinheiro fora”, disse o estudioso. “Combinar vários métodos é a maneira mais eficaz de eliminar baratas”.
A notícia boa, segundo os pesquisadores, é que apesar de a espécie ter asas, ela “raramente voa”.