A colega, Deputada Estadual Ana Paula da Silva, criticada por decote, rebateu o comentário.
Ao se posicionar contra um projeto de lei pelo combate ao assédio sexual e à cultura do estupro em órgãos públicos de Santa Catarina, o deputado estadual Jessé Lopes (PSL) disse na Assembleia Legislativa do estado que a roupa usada pelas mulheres pode estimular o crime.
“Se você quer andar com sainha, decote, ótimo. Se você quer chamar a atenção de estupradores, você sabe o risco que está correndo. Se você se deparar com essa situação, lamento”, disse o deputado na terça-feira (7), ao justificar seu voto contrário à proposta.
O projeto, da deputada Luciane Carminatti (PT), foi aprovado e prevê divulgação com cartazes, nas repartições públicas estaduais, de mensagens de conscientização. Dos deputados que compareceram a sessão para votar sobre o projeto, 32 votaram a favor e dois contra. Além de Lopes, o deputado Bruno Souza (PSB) também votou contra.
Em contato telefônico ao UOL, Lopes voltou a dizer que a roupa da mulher é chamariz para esse tipo de violência. “As mulheres que se dispõem a usar roupas assim e que têm essa liberdade precisam ter cuidado, porque estão chamando a atenção desses vagabundos”, disse ele, antes de afirmar que sugere à esposa e à mãe que evitem vestimentas curtas ou decotadas.
“Não concordo que exista essa cultura no Brasil. Existem casos isolados”, disse o parlamentar. Cultura do estupro, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), é um termo usado para abordar as maneiras como a sociedade culpa as vítimas de assédio sexual e normaliza o comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que existe uma cultura do estupro.
Para o deputado Lopes, o que reduziria o número de abusos e estupros no país seria o fim da impunidade, o aumento do policiamento e de ações de segurança pública e a facilitação do porte de armas, como feito pelo presidente Jair Bolsonaro nesta semana.
Colega de Lopes na Alesc, a deputada Ana Paula da Silva (PDT), que foi alvo de ataques nas redes sociais por ter ido à posse, em janeiro, com um macacão vermelho decotado, votou a favor do projeto e criticou a atitude do pesselista. “Obviamente que nosso colega foi infeliz. Não sei como é que uma pessoa pode pensar desse jeito”, disse a deputada, que, no entanto, creditou a fala de Lopez à falta de conhecimento.
“É claro que ele não é a favor do estupro. Não acho que é maldade da parte dele. Mas é muita desinformação e uma limitação ideológica, e ele não consegue avançar. É uma pena”, disse. Ela afirmou que, ao ouvir o deputado durante a sessão, até pensou em pedir a palavra e rebatê-lo, mas desistiu.
“Não ia mudar o processo de votação. O projeto da minha colega seria aprovado porque não é a primeira vez que ele fala isso e, dessa vez, ninguém deu importância.”