Casos de infestações de escorpiões ocorrem sazonalmente em áreas rurais. Entretanto o fenômeno tem chamado atenção de alguns dos maiores centros urbanos no Brasil. A infestação tem atingido diversos Estados, principalmente São Paulo e Minas Gerais, ambos registraram, respectivamente, 26 e 22 mortes por picadas de escorpião no ano passado, forçando o Ministério da Saúde a criar uma força-tarefa para combatê-los.
Em Ribeirão Preto, a superintendente da Coderp, Guatabi Bernardes Costa Bortolin, e a chefe da Unidade de Vigilância em Zoonoses, Maria Lúcia Biagini, terão que prestar esclarecimentos à Câmara nos próximos dias. Propostas pelo vereador Marcos Papa (Rede), as duas convocações foram aprovadas pelo plenário, na sessão desta terça-feira (09/04/19).
“Um aumento de 450% nos ataques de escorpiões não é normal em lugar nenhum do mundo. Precisamos saber o que está sendo feito em Ribeirão Preto, quem são os responsáveis, quais providências já foram tomadas, precisamos entender melhor essa infestação”, ressaltou Papa referindo-se à convocação de Maria Lúcia.
A fotógrafa Carolina Ruffo, de 38 anos, moradora de Americana, cidade a 120 km de São Paulo, precisou mudar do bairro Terramérica para se ver livre da infestação de escorpiões em sua casa – em 20 dias, encontrou pelo menos 10 bichos.
A técnica em RH Jessika Martins, de 27 anos, que mora no Jardim São Pedro – bem em frente a um tradicional colégio da cidade – encontrou 31 escorpiões em sua casa num período de 15 dias e até o trilho do box do banheiro ela retirou em busca de ninhos do animal.
Os relatos acima mostram um pequeno retrato do aumento dos casos de acidentes envolvendo escorpiões não apenas no interior de São Paulo, mas em todo o Brasil – o que tem levado as famílias ao desespero para tentar eliminar os animais de dentro de casa.
Segundo informações da BBC News Brasil, o número de picadas passou de 52.509 em 2010 para 124.903 em 2017, registrando um aumento de 138%. Quanto as mortes, o aumento no período foi de 152%, indo de 74 (2010) para 184 (2017).
O Ministério da Saúde já reconheceu o problema, afirmando que desde 2009 vem fazendo campanhas educativas com profissionais da saúde para alertar sobre os aracnídeos. Devido ao crescimento acelerado do problema, precisou unir forças com o Instituto Butantan – fabricante do soro antiescorpiônico – para elaborar novos projetos de educação e assistência.
“Precisamos entender como o escorpião se comporta, como ele se desloca. Ele não anda quilômetros, ele é levado de um lugar para o outro. Hoje em dia já nem conseguimos dizer mais qual é o seu habitat natural, de tão bem que ele se adaptou às áreas urbanas“, disse a médica Fan Hui Wen, gestora de projetos do Núcleo Estratégico de Venenos e Antivenenos do Butantan, à BBC.
Para o Ministério da Saúde, embora ainda não haja uma resposta específica para a causa da infestação, que pode não ser de fator única, o aquecimento global tem influenciado na reprodução da espécie.
“Os escorpiões gostam de ambientes quentes e úmidos. Há inúmeros estudos sendo feitos analisando o aumento da temperatura com o aparecimento dos escorpiões“, explicou Wen.
As fêmeas também não precisam dos machos para se reproduzir. Quando estas entram em um processo chamado partenogênese, são capazes de se reproduzir sozinhas, liberando uma média de 20 a 30 filhotes a cada ciclo.
Outro fator que poderia estar contribuindo para a proliferação é o crescimento desordenado das cidades, que consequentemente leva ao aumento de lixos e entulho. Tais locais são propícios para o aumento de baratas, que são o principal alimento dos escorpiões.
A Secretaria de Estado da Saúde orienta a população sobre os cuidados que devem ser tomados para coibir que a população desses animais cresça. As principais medidas são organizar o quintal e mantê-lo limpo, remover entulhos e sobras de construção, e fechar frestas, colocando telas nos ralos e nas janelas. Outras recomendações são usar sacos de areia nos vãos das portas e não deixar expostos resíduos orgânicos, já que atraem baratas, um dos alimentos para os escorpiões.
Se você for picado, procure imediatamente o hospital mais próximo para que os médicos avaliem a necessidade de recebimento do soro.
O veneno do escorpião tem ação neurotóxica, atacando o sistema nervoso central, podendo ser letal. Embora a maioria das picadas não sejam graves, o socorro imediato é fundamental para evitar complicações fatais.
Fonte: BBC